O número de mortes maternas em Portugal aumentou significativamente em 2018 em relação a 2017. Segundo o Observador, em 2018 foram registadas 17 mortes de mulheres, na sequência de complicações durante a gravidez, parto e puerpério (período de até 42 dias após o parto).
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para uma quase duplicação das mortes maternas, considerando que em 2017 tinham sido registados nove óbitos.
A taxa de mortalidade passou, assim, de 10,4 por cada cem mil nascimentos, no ano de 2017, para 19,5 em 2018. Estes números correspondem, em termos absolutos, a nove e a 17 mortes, respetivamente.
Luís Graça presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, confessou ao Público que considera estes números “uma brutalidade”. A média de nascimentos na última década tem sido de 85 mil por ano, lembrou o responsável.
“Um salto das oito ou nove mortes [maternas] para 17, mantendo-se o mesmo número de partos, é um exagero. Estou estupefacto. Uma morte por dez mil partos compreende-se, agora duas por dez mil partos não”, comentou o especialista.
Desde 1980 que não se registavam números tão elevados
A notícia publicada pelo Observador indicava ainda que não se tinham registado tantas mortes maternas desde 1980. Só no mês de dezembro registaram-se seis óbitos. Este número corresponde à totalidade de mortes registadas em 2016.
Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, admitiu ao Observador estar preocupada com o aumento das mortes maternas. A responsável adiantou que já se está a procurar apurar as causas deste fenómeno.
Porque é que quase duplicaram as mortes maternas?
De acordo com os dados disponibilizados, 14 das 17 mulheres que morreram tinham entre 25 e 39 anos de idade. Apenas três das mulheres tinham 40 ou mais anos de idade. Portanto, a idade avançada na gravidez não pode explicar por si só o elevado aumento de óbitos. Em 2018, a idade avançada tinha sido indicada, pela Direção-Geral da Saúde, como causa para o aumento das mortes maternas em Portugal.
Valentim Lourenço, presidente da secção Sul da Ordem dos Médicos, avança, como possíveis causas do aumento de mortes “as greves de enfermagem, as carências das equipas obstétricas em números absolutos e a substituição de especialistas do quadro hospitalar por empresas de serviço ‘à hora'”.
Por outro lado, a Direção-Geral da Saúde (DGS) revelou ter já tomado medidas para avaliar os óbitos maternos ocorridos em 2017 e 2018. Esta avaliação contará com deslocações a cada instituição de saúde onde ocorreram as mortes. Na Madeira, onde se registaram dois dos óbitos, a análise será efetuada pela Região Autónoma da Madeira.
A DGS indicou ainda que o relatório final será discutido com peritos independentes. As conclusões deverão ser disponibilizadas até ao final de 2019.
Portugal é o 4º país europeu onde ocorrem mais mortes maternas
Portugal encontra-se entre os países europeus com mais mortes maternas. O nosso país ocupa, precisamente, o quarto lugar em termos de mais óbitos durante a gravidez e parto.
Efetivamente, à frente de Portugal encontram-se apenas a Estónia, a Hungria e a Letónia. Em 2016, aqueles países registaram uma taxa de 14,2, 11,5 e 9,1 óbitos maternos, respetivamente. Estes dados foram divulgados pelo Jornal de Notícias.