Vacina contra cancro do colo do útero mostra-se eficaz depois dos 24 anos
A vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV), precursor do cancro do colo do útero, afinal também pode ser eficaz em mulheres com mais de 24 anos. Esta é uma das principais conclusões de um estudo que acaba de ser publicado no British Journal of Cancer.
Os resultados preliminares do mesmo estudo já indicavam esta possível conclusão. A investigação resulta do culminar de um trabalho que envolveu cerca de 4000 mulheres entre os 24 e os 45 anos que foram seguidas durante quatro anos. Algumas das mulheres receberam vacinas placebo e outras as três doses da vacina contra o HPV necessárias para a imunização ser eficaz. A vacina utilizada chama-se Gardasil e pertence à farmacêutica Merck, que comparticipou o estudo. Existe, contudo, uma outra vacina, a Cervarix, da GlaxoSmithKline.
“Muitas mulheres perguntavam o que se passava com a vacina e se poderiam tomá-la ou não e este estudo responde definitivamente a essa pergunta”, explicou ao diário espanhol El Mundo Xavier Castellsagué, do Instituto Catalão de Oncologia e um dos responsáveis pelo estudo, que decorreu em Espanha e em países como França, Colômbia ou Tailândia. E acrescentou: “Os resultados são robustos e mostram uma grande eficácia, que chega até aos 89 por cento. Além disso, sabemos que a resposta é imunogénica e segura”.
Inicialmente, quando surgiu, a vacina foi aplicada apenas a adolescentes que não tivessem ainda iniciado a vida sexual, por não terem estado em contacto com o HPV. Mas os estudos em populações mais alargadas têm provado que a vacina contra o vírus do papiloma humano é eficaz nas mulheres mais velhas, de tal forma que a Agência Europeia do Medicamento (EMA) já alargou as recomendações. No ano passado a EMA passou a recomendar a vacina contra o cancro do colo do útero a todas as mulheres até aos 45 anos, e não apenas até aos 26, tendo Portugal feito também esta adaptação.
300 mortes por ano
A vacina visa prevenir o cancro do colo do útero e outras doenças provocadas pelo vírus, como lesões pré-cancerígena e condilomas genitais, numa altura em que esta continua a ser a segunda causa mais comum de cancro (depois do cancro da mama) entre as mulheres jovens (15-44 anos) na Europa. Portugal regista a maior incidência da doença entre os restantes países da União Europeia: cerca de 17 casos por cada 100 mil habitantes, com 900 novos casos por ano. Todos os anos morrem 300 mulheres em Portugal com este tipo de cancro.
As infecções por HPV são muito comuns, estimando-se que mais de 70 por cento das pessoas com uma vida sexual activa contraiam pelo menos uma infecção deste tipo. A esmagadora maioria das infecções é controlada pelo nosso sistema imunitário e quase inofensiva, mas cerca de 20 por cento tornam-se crónicas e podem originar cancro, sobretudo se associadas a outros factores, genéticos ou adquiridos.
A vacina contra o HPV é tomada em três doses ao longo de seis meses e estima-se que já tenha evitado 464 mortes e 2225 casos de cancro em apenas quatro anos em Portugal, segundo um estudo desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública divulgado em Maio. O mesmo trabalho estimou que o impacto que a vacinação irá ter ao longo da vida das 243 mil adolescentes e mulheres que foram vacinadas se traduza numa poupança de 114 milhões de euros em exames de diagnóstico e tratamentos. Os custos com a vacina chegaram quase aos 23 milhões.
A vacina faz neste momento parte do Programa Nacional de Vacinação português. A Gardasil, da Merck, protege contra quatro tipos de vírus: os dois com impacto mais carcinogéneo (o 16 e 18), porque estão associados a 70 por cento dos casos de cancro do colo do útero, e os tipos 6 e 11, presentes em 90 por cento dos casos das verrugas genitais. A Cervarix, da GlaxoSmithKline, protege contra os dois mais fatais e está a ser comercializada desde Fevereiro a metade do preço inicial para as jovens até aos 25 anos (140 euros em vez de mais de 400). A Gardasil aguarda uma decisão da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) para obter também a comparticipação.
Publico.pt, Romana Borja-Santos, 02 junho 2011