Estocolmo é uma das cidades mais bonitas que já conheci. Nem sei bem explicar o porquê, mas considero uma cidade linda, bastante agradável de visitar e incrivelmente fácil de se gostar desde o primeiro instante.
Estocolmo: a cidade onde os homens de gravata andam de bicicleta
Não sei se aprecio mais a calma que se sente, o espantoso silêncio (estamos numa capital mas o trânsito não se ouve – e quase não se vê – sejam 9h da manhã ou 5h da tarde), o constante contraste dos canais da água com o verde das árvores, os palácios e os barcos que parecem verdadeiros cenários de histórias de encantar.
Ou ainda a natural simpatia das pessoas, o exemplar respeito pelo ambiente, a criatividade muito prática, as famílias descontraídas em parques e brincadeiras soltas pelas ruas.
Tudo isto define a capital da Suécia. Acho até que o único cuidado a ter nesta cidade é respeitar as bicicletas e as suas vias. Estão por toda a parte e é muito fácil, para nós, esquecer que elas existem e ocupar parte do seu espaço.
Mas os condutores das bicicletas levam isso muito a sério e nós ficámos a saber desde muito cedo porque todos têm uma campainha. Para nos avisarem que não devemos estar ali, pois claro!
Devido ao seu formato geográfico, a cidade espalha-se por 14 ilhas de diversos tamanhos (umas pequenas, outras minúsculas) e até diria que estão divididas por “temas”, já que umas são mais comerciais, outras mais residenciais e outras mais dedicadas ao entretenimento.
Não falta oferta organizada do que ver e fazer: visitas guiadas, museus (mais de 100) e parques de diversões. Mas por unanimidade e porque tínhamos planeado só estar um dia nesta cidade, decidimos deambular pelas ruas e visitar o parque Skansen, na tal ilha mais dedicada ao entretenimento: Djurgarden. Com esta visita pretendíamos ficar a conhecer o modo de vida na Suécia e ainda vários animais muito típicos desta região, no jardim zoológico incluso.
Mas como muitas vezes acontece em viagem, nem tudo corre como planeado. Neste caso, o contratempo retirou-nos algum tempo à visita pela cidade, mas ensinou-nos uma lição que não esqueceremos e que aqui partilhamos: os parques de estacionamento subterrâneo não estão todos encerrados, como aparentemente levam a crer, apenas estão fechados, porque ao encostar o carro os enormes portões abrem automaticamente. Aprendemos isso depois de algumas – não direi quantas!- tentativas e inversões de marcha pelo centro de Estocolmo.
Mas voltando ao Skansen. Este parque orgulha-se em ser o primeiro museu ao ar livre do Mundo desde 1891. Tem réplicas de casas e estabelecimentos comerciais de várias partes da Suécia e de várias épocas da história do país.
Muitas destas casas têm pessoas, vestidas a rigor e a trabalhar ao vivo (vidro, madeira, metal, tecidos…) e ansiosas por nos contar um pouco daqueles acontecimentos.
Passámos então lá a tarde, com direito a jantar (almôndegas, pois certamente, já que estamos no país delas) com vista e audio para um concerto que se estava a realizar no palco central.
Devo dizer que sinto falta da alimentação portuguesa: as sopas, os legumes, o arroz, o peixe fresco, a fruta, é por aqui muito raro de encontrar às refeições. Mas os miúdos acharam bastante piada ver pepino, tomate e pimentos disponíveis ao pequeno-almoço. Aliás, acho mesmo que aqui não se come pão, queijo e fiambre sem juntar mais estes ingredientes.
Decidimos fazer o percurso de ida e volta ao hotel, que era perto da estação central, sempre a pé e não recorrer a transportes, pois é também assim que melhor se conhece a cidade, se passa por ruas menos concorridas, se conversa um pouco com quem nos vamos cruzando e temos a possibilidade de ir usufruindo também um pouco do ambiente da cidade.
Foi assim que o Francisco se espantou e deixou escapar um “ó mãe, aqui os homens de fato e gravata também andam de bicicleta e com cadeirinha de bebé atrás e tudo!”.
No regresso do Skansen e cansados das correrias da tarde, já que fizeram questão em visitar todos, repito, todos os animais expostos – com direito até a alguns extras, como foi o caso dos esquilos – os miúdos perguntaram se podíamos “apanhar qualquer coisa: um autocarro, um um táxi, um barco”.
Mas como por aqui não há a preocupação da segurança, considero ser uma cidade de muito fácil orientação e tinha ainda a certeza de que não ía escurecer tão breve, estava completamente tranquila. E continuámos a caminhar.
Fomos sendo acompanhados por muitas pessoas que também regressavam da tarde quente que terminava, com cesta de picnic na mão e aproveitámos ainda o tempo da viagem para fazer o Top 5, de todos os animais que tínhamos acabado de conhecer. Ganharam as renas!
Reparámos que grande parte das lojas e cafés já estavam fechados, a vida comercial termina cedo: por volta das 5h ou 6h da tarde. Esta cidade é conhecida por ser cara, mas ao fazer um balanço pelos países que já passei, chego à conclusão que estive em locais com preços muito semelhantes ao aqui praticados. Com uma boa gestão acho até que se consegue fazer uma visita equilibrada.
E “a cereja no topo do bolo” deste magnífico dia, foi redescobrir uma daquelas agradáveis cafetarias – para nossa grande satisfação, uma das últimas a fechar – com um enorme e corrido balcão de madeira virado para a rua encostado às também enormes janelas, onde apetece ficar horas com uma grande chávena de café (ou de chocolate quente, no caso dos miúdos) aproveitando os confortáveis sofás.
Ver o movimento da rua, ouvir uma música agradável e espreitar os imensos livros à disposição dos clientes – como é hábito aqui em cafés, restaurantes ou hotéis. Só é pena não sabermos ler sueco.
(Nesta viagem, trago comigo quatro instrumentos electrónicos. Mais o carro. Mais as duas crianças. E por muito útil que a tecnologia seja, é também uma constante preocupação. É uma opção, claro, mas também uma responsabilidade acrescida.
E é um equilibrio com o qual tenho vindo a aprender a conviver, incluindo que as máquinas também falham. Nestes últimos dias escolhi aproveitar mais os locais, dando uma menor dedicação aos dispositivos tecnológicos. A grande vantagem é que agora tenho imensas coisas para contar).
Joana Batista autora do blog Viajar em Família