O relatório anual “Portugal, Balanço Social 2022” revela que 67,4% das crianças até aos três anos, de famílias mais pobres, não frequentam a creche. Um dos sinais que segundo Susana Peralta, economista, investigadora e um das autoras do relatório, contribui para as dificuldades que o país revela para alcançar as metas a que se propôs de combate à pobreza até 2030.
Em entrevista à Agência Lusa, Susana Peralta defende que a pobreza poderia ser mitigada se existissem políticas públicas “mais bem direcionadas”, destacando a importância do ensino pré-escolar. As medidas propostas pelo governo incluem, entre outras, 80% das pessoas entre os 20 e os 64 anos empregadas e menos 750 mil pessoas em risco de pobreza, entre as quais menos 170 mil crianças.
Susana Peralta referiu que “estamos no caminho, mas o caminho é muito vagaroso, é muito mais vagaroso do que aquele que seria necessário para chegarmos a 2030 com os objetivos atingidos”, atingindo as metas definidas como aspiracionais.
De acordo com a investigadora, o relatório Portugal, Balanço Social 2022 denuncia questões em matéria de educação que são importantes e carentes, salientando a importância desta área “na construção do capital humano”. A especialista comparou a situação portuguesa com os restantes países da União Europeia, já que não dispomos de uma frequência do pré-escolar universal.
“Do ponto de vista da construção das competências para dar a essas pessoas instrumentos para saírem da pobreza quando são mais velhas, isto é catastrófico”, alertou Susana Peralta. Além dos 67,4% das crianças até aos três anos que vivem em famílias mais pobres que não vão à creche, o mesmo acontecendo com 37,2% das crianças entre os quatro e os sete anos, que não frequentam o pré-escolar.
A investigadora destacou também a questão das transferências sociais, questionando até que ponto os apoios sociais atuais dão tranquilidade às famílias ou as apoiam em algum tipo de planeamento a médio prazo.
17 de maio 2023