A parentalidade é uma experiência de vida maravilhosa, mas também desgastante.
O esforço que muitos pais fazem para que os filhos se desenvolvam de maneira adequada é, muitas das vezes difícil, ainda por cima com o ritmo de vida que atualmente as famílias levam, às costas da sociedade onde todos estamos inseridos.
Neste panorama, por vezes, cada conquista fora da norma é motivo de orgulho.
O andar precoce, a primeira palavra precoce, a primeira volta de bicicleta…precoce.
Todos os pais se deviam questionar do porquê de este “precoce” estar a pairar em praticamente todas as fases de crescimento.
O desenvolvimento não é uma corrida de velocidade, é uma maratona. E como tal, aquele que corre mais depressa no início, pode muito bem não ser aquele que corta a meta em primeiro. Foram vários os casos de crianças que acompanhei, que numa primeira fase os seus índices de desenvolvimento estariam baixos, mas que a partir de determinado momento equipararam ou superaram o expectável para a idade.
O leitor com certeza conseguirá identificar também alguns amigos de infância que na adolescência deram o chamado “salto” tendo-se tornado os melhores alunos, os mais sociáveis ou os melhores desportistas, quando nada o podia prever.
O facto de a criança ter começado a andar mais cedo, deixado as fraldas antes de todos os amigos da creche ou a dormir sozinho no quarto, pouco ou nada quer dizer sobre o quão desenvolvido será no futuro.
Procure a felicidade no seu filho e não que ele seja o melhor.
A tendência para a comparação é quase intrínseca em nós, principalmente quando os mais pequenos estão sob a nossa alçada.
Isto não é “coisa nova” ou recente, já que as gerações anteriores também o faziam, como as anteriores a estas sempre fizeram.
Há uma espécie de gratificação quando percebemos que fazemos uma coisa melhor que os outros, ou que o nosso investimento está a dar frutos.
Só há um ponto importante: um filho não é um investimento que se meça com uma régua ou uma folha aos quadradinhos.
Os indicadores existem, certo, mas com um intuito apenas de que os técnicos de saúde consigam compreender se o desenvolvimento está dentro do expectável. Por isso é que se chama mesmo isso: indicador e nada mais.
Com a ascensão das redes sociais e do correspondente acréscimo dos canais de informação, a tendência na comparação exacerbou-se um pouco mais e de maneira notoriamente errada.
São comuns as publicações dos chamados “influencers” sobre as precoces conquistas dos seus rebentos e de como são tão desenvolvidos quando comparados com os restantes colegas da escolinha.
A tendência para comparar aumentou muito por imitação.
Por imitação se deveria também parar.
Os problemas de desenvolvimento são uma realidade, mas também é uma realidade a procura de ajuda quando se tem dúvidas ou quando se acha que algo não está a correr tão bem. Só um técnico especializado o pode ajudar com as incertezas acerca do desenvolvimento e não a comparação direta com outras crianças, com características e realidades diferente.
Se tiver a necessidade de medir o que quer que seja, utilize esta ferramenta: a felicidade da criança.
Se o seu filho for feliz, será concerteza melhor que muitos outros.
Significa que terá tido oportunidade para brincar, para desenvolver o seu sentido de responsabilidade e para crescer enquanto ser humano, com todas as suas particularidades.
Com certeza deixariam de importar tanto os quadros de honra, o desempenho nos recitais de 15 em 15 dias ou aquele golo marcado no último minuto no torneio interescolar.
Não estamos aqui a descredibilizar a excelência, atenção! Mas fica um alerta para que não coloque tanta pressão nessas questões, principalmente nas idades mais precoces.
Existem também outras características importantes senão essenciais ao seu desenvolvimento, como por exemplo, a felicidade dele, que tantas vezes tem sido colocada para segundo plano em detrimento do desempenho.
Muitos de nós recordamos a nossa infância com saudade.
Permitir que o seu filho sinta o mesmo daqui a uns anos não é uma opção, é obrigatório. E isso não se pode comparar.