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Hoje em dia, com as mochilas carregadas de livros da escola, muitas horas sentados, pouca atividade física e posturas incorretas podem levar a dores de costas nas crianças.
Dores de costas nas crianças
Se a criança começar a dizer com frequência que tem dores nas costas, o melhor mesmo é avaliar a situação e verificar, junto de um profissional de saúde, o que poderá estar a provocar esse mau-estar.
Em entrevista à TSF, o neurocirurgião Miguel Casimiro, da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral, explica que o problema de dores de costas nas crianças afeta “uma em cada cinco crianças, sendo que 15% delas acaba por apresentar limitações no desempenho das suas atividades diárias como ir à escola ou participar nas atividades físicas na escola”. Alerta que este “é um número relativamente grande” e que, portanto, “implica um olhar especial”.
Dores nas costas, um problema da era moderna
Esta é uma condição que já não pertence exclusivamente aos adultos, uma vez que se tem verificado um aumento na incidência junto da população mais jovem.
Segundo a reumatologista Margarida Fernandes Carvalho, “antigamente, a dor nas costas era sinal de algo mais grave, como alguma infecção, e costumava deixar os pediatras preocupados”.
Contudo, a também presidente do Departamento de Reumatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirmou em declarações à revista Crescer que atualmente esta é “a reclamação mais comum [entre a população infantil]”. No entanto, declara que “a maioria é de origem muscular”.
Esta condição afeta sobretudo “as crianças de centros urbanos, que passam mais tempo sentadas, são sedentárias e até obesas“. Todos estes fatores somados prejudicam a musculatura abdominal e das costas, favorecendo o aparecimento de dores.
Porque razão surgem as dores de costas nas crianças?
A manifestação deste sintoma pode ser resultado de diferentes fatores, tais como:
Mochila demasiado pesada
Segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), as crianças não devem ter mochilas com cargas superiores a 10% do seu peso. A partir daí, o peso torna-se excessivo e podem causar lesões na coluna cervical.
Má postura corporal
Este constitui um fator que merece toda a atenção. Nos chamados picos de crescimento (originários da chamada dor de crescimento) – por volta dos 3, 7 ou 8 anos e 12, 13 ou 14 anos – podem ocorrer situações que causam uma má-formação na coluna vertebral, como é o caso da escoliose.
Muitas horas sentada no sofá a ver televisão
Estar em frente ao televisor durante horas a fio, mal sentada, sem fazer qualquer tipo de exercício pode contribuir para o aumento das dores de costas.
Falta ou excesso de atividade física
É importante fazer exercício físico para que os músculos sejam trabalhados. Mas, não se pode esforçar em demasia.
“Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, já ouvimos nós desde o tempo dos nossos avós.
Se não fazer exercício não é bom para a saúde, realizá-lo em excesso também não. Pode provocar tensões por não deixar o músculo relaxar e descansar. É fulcral que a criança tenha entre um a dois dias de pausa por semana.
Excesso de peso
A acumulação de gordura, especialmente na circunferência abdominal (região lombar), além de sobrecarregar a coluna influencia a postura, dois fatores que ditam a pré-disposição para as dores de costas nas crianças.
Outras causas
Existem, porém, causas mais graves, contudo também bastante menos frequentes.
As infeções (nos rins, pulmões ou vértebras), anormalidades da coluna (escoliose, desvio da coluna à direita ou esquerda; espondiolise, que é um malformação na coluna), artrite juvenil e presença de tumores podem justificar as dores nas costas.
Ainda assim, a boa notícia é que esta dor, se detetada precocemente, é passível de ser curada.
“Podemos sempre ajudar em qualquer fase da vida, nalguns casos conseguimos curar completamente, noutros casos não. O fundamental é sempre prevenir e adotar desde cedo atitudes que permitam proteger a coluna”, diz o neurocirurgião Miguel Casimiro.
Como tratar as dores de costas nas crianças
As dores de costas nas crianças podem ser tratadas, como declarou o especialista. No entanto, a forma como é depende do diagnóstico médico.
Pode passar pela prescrição e toma de anti-inflamatórios ou analgésicos e recomendação de determinada atividade física.
Em alguns casos, alguns desportos específicos são o suficiente para reforçar o sistema muscular da criança e aliviar as dores, como a natação e o pilates.
De resto, há que planear o que leva na mala diariamente (somente o que precisa para o dia), estar atento e corrigir a postura da criança .
Qual é a melhor postura?
A criança deve sentar-se numa cadeira confortável, sobre o osso ísquio (abaixo do glúteo), manter as costas retas, alinhadas com o encosto da cadeira. No início, será difícil manter-se nesta posição, mas com persistência, a postura será corrigida.
Relativamente à utilização de aparelhos eletrónicos, como o tablet ou computador, a criança não os deve deixar apoiados no colo, mas sim sobre um móvel e à altura dos olhos de forma a proteger a cervical.
Para outras tarefas, como a leitura de um livro, que pode demorar mais tempo, pode trocar a cadeira por um sofá. Mas, para isso, tem de manter a coluna reta e o pescoço apoiado no encosto do sofá.