Como explicar a morte às crianças? Muitas vezes evita-se falar da morte às crianças com o intuito de as proteger.
De facto, até nós, adultos temos uma certa tendência em evitar esse assunto, fingindo ou escondendo muitas vezes os sentimentos que o acompanham. A morte a muitos de nós incomoda, sendo sinal de dor e traz-nos à consciência a nossa finitude e as nossas limitações.
Mesmo assim, quer queiramos quer não, a perda faz parte da vida e é muitas vezes essencial para o desenvolvimento do ser humano, proporcionando um momento de crescimento de grande relevância e ao qual muito dificilmente conseguiremos fugir.
Estar vivo implica de certa maneira, mais tarde ou mais cedo, passar por um ou vários momentos de perda e é importante que todos compreendamos isso.
Todos passamos por inúmeras perdas, umas maiores, outras menores, umas materiais, outras emocionais.
Cada um de nós gere esses sentimentos de maneira diferente, de acordo com as suas cognições, onde se enquadram questões como as expectativas e os afetos sobre determinada pessoa, determinada etapa ou um objetivo que não foi cumprido.
Quando essas perdas acontecem, a ansiedade e o medo são experienciados, as sensações de solidão e desespero tomam conta de nós e uma fase menos boa da nossa vida aparece com uma dor inabalável que nos obriga a um processo de gestão emocional.
Todas as perdas nos obrigam a um ajustamento, a uma espécie de luto que nos permite gerir os sentimentos e emoções negativas que experimentamos, mas também de desenvolver capacidades que nos permitam avançar para uma nova etapa de vida.
Nas crianças o luto está presente desde tenra idade, embora com trâmites diferentes (obviamente) que a perceção que um adulto traz.
Os diferentes graus de desenvolvimento influenciam a maneira como a criança faz a gestão de uma perda e o ajustamento posterior a esse luto.
Normalmente a criança não deve ser afastada da questão da morte nem das particularidades desta.
A verdade deve ser o caminho a seguir, transmitida obviamente com cuidado, principalmente na maneira como se explica o que se passou, já que muitas vezes um facto doloroso pode ser interpretado e provocar diferentes impactos nas crianças, consequência da sua diversidade.
Se enquanto pai está com dificuldades em explicar a morte para o seu filho, poderá ser importante considerar estes dois pontos:
A intensidade da informação
Contar a alguém que perdeu um ente querido, deve ser alvo de preparação, com informação gradual e espaçada por um certo período de tempo que permita à criança interiorizar essas informações de forma adequada e de maneira a que tenha espaço para as gerir.
O pormenor
Não explicar nem mais nem menos do que aquilo que a criança pergunta pode também ser uma boa estratégia. Na medida certa está a virtude. Embora algumas crianças sejam mais curiosas que outras fazendo muitas ou poucas questões sobre o que se passou, o nível de pormenor deve ser adequado à sua curiosidade.
Para umas crianças basta uma simples informação, para outras será preciso aprofundar um pouco mais. Em qualquer dos casos é importante manter a abertura para anseios que a criança possa vir a ter posteriormente, correspondendo.
A morte é um processo natural que todos nós seres humanos somos confrontados e que mais tarde ou mais cedo irá acontecer até connosco próprios.
É na nossa limitação que está muitas vezes a nossa (também) grande qualidade, uma vez que nos permite apreciar os momentos como únicos, compreendendo que muito provavelmente não se repetirão.
O desenvolvimento saudável implica necessariamente o luto nas suas mais variadas vertentes e causas.
Enquanto pais, a preparação do seu filho para um processo destes e tão natural torna-se um fator importante, protegendo-o, mas também o expondo quando assim for necessário.
É uma linha ténue entre estas duas ações, mas ambas muito importantes para um crescimento saudável, cada vez mais consciente e preparado para o futuro.