A diabetes gestacional é um tipo de diabetes que só é diagnosticada / só se manifesta durante a gestação e que, na maioria dos casos, desaparece após o nascimento do bebé.
De uma forma prática, pensa-se que, durante a gravidez, o aumento dos níveis hormonais possa interferir com a ação da insulina e que desta forma não seja conseguida a regularização necessária dos níveis de glicose no sangue.
Diabetes gestacional
A diabetes gestacional caracteriza-se por um aumento dos níveis de açúcar no sangue (ao que chamamos hiperglicemia) não sendo a insulina produzida suficiente para os regularizar. A insulina é uma hormona produzida pelo pâncreas que tem como função promover a passagem da glicose (o chamado açúcar) do sangue para as nossas células.
A prevalência da diabetes gestacional em Portugal Continental no ano de 2013 foi de cerca de 6%, registando-se um aumento comparativamente a anos anteriores.
Como é diagnosticada a diabetes gestacional?
Na primeira consulta de vigilância pré-natal é medida, através de uma análise sanguínea, a glicemia (quantidade de açúcar no sangue) em jejum.
Mediante os valores de glicemia obtidos pode ser diagnosticada diabetes gestacional ou ser necessário avaliar mais parâmetros para determinar a possibilidade de a diabetes ser prévia à gravidez.
As mulheres cujos valores forem inferiores aos definidos para diagnóstico de diabetes serão reavaliadas entre a 24ª e 28ª semana de gestação através de uma prova de tolerância oral à glicose.
Existem fatores de risco para a diabetes gestacional?
Sim, existem fatores de risco para a diabetes gestacional. A história familiar (antecedentes) de diabetes, a idade da grávida (ter mais de 35 anos) e o excesso de peso são condições que podem determinar uma maior predisposição para a doença.
Adicionalmente, a ocorrência de diabetes gestacional numa gravidez anterior também constitui um importante fator de risco. Esclarece-se assim que se numa primeira gravidez tiver diabetes gestacional existe uma grande probabilidade que volte a ter numa segunda gestação.
Existe prevenção para a diabetes gestacional?
Dos fatores de risco enunciados alguns não podem ser controlados, como por exemplo os antecedentes familiares. Assim sendo a prevenção da diabetes gestacional assentará na adoção de um estilo de vida saudável (alimentação e exercício físico), que promova a manutenção de um peso adequado.
Cuidados com a alimentação no caso de diabetes gestacional
De uma forma geral, a alimentação da grávida com diabetes gestacional deve estar assente nos princípios de uma alimentação saudável, podendo guiar-se pela Roda dos Alimentos.
- Procure incluir na sua alimentação diária a fruta e os hortícolas, cereais (como o arroz, massa, pão) pouco refinados/integrais e leguminosas. Estes alimentos são particularmente ricos em vitaminas, minerais e fibra, importantes para o controlo dos níveis de glicose.
- Limite ao máximo o consumo de açúcar e produtos açucarados (produtos de pastelaria, chocolates e outros doces, refrigerantes…). Estes alimentos contribuem para o aumento da glicose no sangue e também para o aumento de peso (que, como acima descrito, é um fator de risco para a diabetes gestacional).
- Evite alimentos ricos em gordura (especialmente a gordura animal como gordura da carne ou a manteiga) e alimentos fritos. Estes alimentos também contribuem para o aumento de peso.
- Não se esqueça de beber água ao longo do dia. A hidratação é importante num estilo de vida saudável e ainda mais importante durante a gravidez.
Outros conselhos importantes
Todos nós temos os chamados desejos e devido à fase sensível que atravessa é normal que a grávida possa sentir uma especial vontade de comer alimentos de que gosta. No caso dos doces, embora deva ter sempre a importância de limitar o seu consumo, pode em situações esporádicas permitir-se a comer um.
Deve, contudo, ter sempre atenção à quantidade, ao tipo de doce (preferir, por exemplo, um bolo sem creme, bolo de fruta ou um quadrado de chocolate preto) e ao momento de consumo (prefira comer sempre o doce como sobremesa, depois da refeição).
É particularmente importante que faça refeições em intervalos regulares (e não saltar refeições), de forma a não passar muito tempo sem comer e a evitar grandes flutuações nos seus níveis de açúcar no sangue.
- Neste ponto recomenda-se geralmente 6 refeições diárias: pequeno-almoço, merenda da manhã, almoço, merenda da tarde, jantar e ceia. A ceia é uma pequena refeição que pouca gente faz, mas que no caso de uma grávida com diabetes gestacional assume grande importância; lembre-se que vai passar uma noite inteira sem comer.
- A questão do horário das refeições é ainda mais fulcral se estiver dependente de insulina para controlar a sua diabetes.
É fundamental que procure apoio especializado de um nutricionista para elaborar consigo um plano alimento adequado, de forma a controlar a doença e a minimizar o impacto desta.
Efeitos da diabetes na gravidez para o bebé e para a mãe
A maioria das grávidas com diabetes gestacional tem bebés saudáveis. A principal implicação da diabetes gestacional mal controlada no bebé é no aumento do seu peso (geralmente bebés com mais de 4 kg). O excesso de peso do bebé complica o parto, existindo uma maior probabilidade de parto ter que ser feito por cesariana.
No que diz respeito à grávida, a diabetes gestacional não controlada poderá levar ao desenvolvimento de hipertensão arterial (risco de pré-eclampsia, doença com sérias complicações na gravidez e no parto).
De notar ainda que após o nascimento do bebé deve ser feita uma nova análise para se verificar se de facto a diabetes desapareceu.
Adicionalmente, ao longo da sua vida, a mãe deverá manter um estilo de vida saudável, com um alimentação equilibrada e prática regular de exercício fisco, pois terá um maior risco de desenvolver diabetes tipo 2.
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