Tudo o que os pais devem saber sobre a alergia alimentar
O que é a alergia alimentar?
A alergia alimentar é uma reação que ocorre quando o organismo reconhece um alimento como um agressor. O sistema imunológico desempenha um papel fundamental para:
- A defesa contra as doenças.
- Reconhecimento dos agentes patogénicos (vírus, por exemplo).
- Eliminar agentes patogénicos.
No caso de uma alergia alimentar o sistema imunológico reconhece erradamente um alimento como agressor e é desencadeada a reação alérgica.
Alergia é o mesmo que intolerância?
Não, alergia alimentar é diferente de intolerância alimentar!
- Ao contrário da alergia, a intolerância alimentar não envolve o sistema imunológico.
- As manifestações da intolerância são geralmente gastrointestinais (diarreia e desconforto abdominal).
A situação de intolerância mais comum é a intolerância à lactose (que não está relacionada com a alergia ao leite). Na intolerância à lactose o organismo não consegue fazer a digestão de lactose (um açúcar natural presente no leite).
Quais são os alimentos envolvidos?
Alguns alimentos são responsáveis por cerca de 90% das reações alérgicas:
- Leite de vaca.
- Ovo.
- Trigo.
- Soja.
- Amendoim.
- Frutos de casca rija (conhecidos como “frutos secos”: noz, amêndoa, avelã, …).
- Peixe.
- Marisco.
O leite de vaca, ovo e trigo são os alimentos mais prevalentes nas crianças.
Como é diagnosticada a alergia alimentar?
O diagnóstico da alergia alimentar é realizado considerando:
- A história clínica da criança.
- A realização de exames complementares prescritos por médicos habilitados e realizados nos hospitais/centros de saúde:
- Prova de provocação oral.
- Testes cutâneos por picada e picada/picada.
- Doseamento de imunoglobulinas (IgE) específicas no sangue).
Em que idades se manifesta a alergia alimentar?
A alergia alimentar pode manifestar-se em qualquer idade sendo mais prevalente nas crianças, manifestando-se geralmente nos primeiros anos de vida. No entanto:
- Algumas das alergias tem uma resolução espontânea até à idade escolar.
- As crianças acabam por conseguir tolerar o alimento a que eram alérgicas de uma forma natural.
- Sendo que a aquisição de tolerância aos alimentos depende:
- Das características de cada criança.
- Do alimento implicado (é mais frequente adquirir tolerância ao leite do que ao marisco).
Quais são as manifestações da alergia alimentar?
Os sintomas surgem rapidamente (entre alguns minutos até duas horas após a ingestão do alimento):
- Cutâneos (eczema, urticária, edema).
- Gastrointestinais (diarreia, vómitos, cólicas).
- Respiratórios (pieira, dificuldade em respirar).
- Cardiovasculares (descida da pressão arterial, perda de consciência).
Quando a reação é severa e sistémica (generalizada), estamos perante uma reação anafilática.
As manifestações clínicas da reação alérgicas podem variar de moderadas a graves, podendo ser fatais em alguns casos se não forem convenientemente tratadas.
A falta de informação (família, amigos, colegas da escola, professores), a presença de alergénios ubiquitários (presentes em muitos alimentos e preparações culinárias) e a contaminação cruzada (que ocorre quando um alimento que não é um alergénio/não contém alergénios entra em contacto com um alimento alergénico) pode dar origem a exposições acidentais da criança a alimentos que podem estar na origem da reação alérgica.
Tudo isto resulta no medo de ocorrência de reação (exposição acidental) que leva à limitação de atividades diárias, sociais e de lazer e que têm como consequência um impacto negativo na qualidade de vida das crianças.
Como prevenir a alergia alimentar?
1. A amamentação previne?
- Não há evidência suficiente para dizer, com toda a certeza, que a amamentação previne a alergia alimentar mas a amamentação tem muitos benefícios e deve ser sempre recomendada.
- Não há evidência suficiente para recomendar alterações na alimentação da mãe que amamenta para prevenir a alergia alimentar mas Se for necessário deve procurar um nutricionista para evitar défices de nutrientes.
2. E no caso da mãe não amamentar, o que fazer?
- No caso de o bebé ter uma família de alto risco de alergia alimentar (apenas), deverá optar por uma fórmula hipoalergénica.
- Família de alto risco de alergia alimentar: crianças com um ou os dois pais e/ou irmãos com historia de doença alérgica (alergia alimentar, asma, rinite…).
3. Diversificação alimentar
- A introdução dos alimentos não deve ser antecipada ou adiada relativamente às recomendações para prevenir a alergia alimentar.
- Os alimentos sólidos devem ser introduzidos, nunca antes dos quatro meses, de acordo com as recomendações habituais.
- A sua introdução de novos alimentos deve ser gradual a cada 3-5 dias se não ocorrerem reações. No caso de ocorrer reação não volte a introduzir o alimento até consultar o pediatra.
Como tratar a alergia alimentar?
O tratamento atual e primordial consiste na eliminação do alimento na dieta, de acordo com orientação clínica. O que evitar:
- Os alimentos na sua forma “natural” (leite).
- Os seus derivados (queijo, iogurte).
- Os alimentos/preparações que contenham os alergénios (bolos, bolachas).
Exemplo de alimentos a evitar e alternativas
Leite
Exemplo de alimentos a evitar:
- Leite (vaca, cabra ou ovelha), queijos, iogurtes, manteigas, nata.
- Alimentos/preparações com leite e/ou derivados (bolos, bolachas, chocolate, sobremesas, gelados, papas lácteas).
- Ingredientes de alimentos processados.
Alternativas:
- Fórmulas de Leite (extensamente hidrolisadas ou fórmulas aminoácidos).
- Papa (com fórmula).
- Bebida de arroz.
Ovo
Exemplo de alimentos a evitar:
- Alimentos/preparações com ovo (bolos, sobremesas e doces ovo, filetes, panados e salgadinhos, folhados).
- Ingredientes de alimentos processados.
Alternativas:
- Carne, aves e peixe.
- Doces e sobremesas sem ovo.
- Massas sem ovo.
Trigo
Exemplo de alimentos a evitar:
- Alimentos/preparações com trigo (pão, massas, farinhas, bolachas, flocos cereais, biscoitos, papas , panados, filetes e salgadinhos, salsichas, molhos).
- Ingredientes de alimentos processados.
Alternativas:
- Arroz e batata.
- Papas.
- Pão, bolachas e farinhas de outros cereais (arroz, milho,…).
A supressão de determinados alimentos da dieta da criança pode trazer o risco de défice de micronutrientes obrigando a procura da ajuda de um nutricionista:
- Leite: vitaminas A, D, B12, B2, cálcio e fósforo.
- Ovo: vitaminas B12, B2, ácido Pantoténico e Biotina, selénio.
- Trigo: vitaminas B1, B2 e niacina, ferro e ácido fólico (fortificados).
Viver com alergia alimentar
- Ler sempre os rótulos de todos os produtos quando vai fazer compras.
- Ter atenção que os alergénios podem estar descritos de numerosas formas diferentes. Por exemplo, no caso de alergia ao leite é importante verificar a presença de ingredientes como: caseína, soro, lactalbumina, …
- Evitar a contaminação cruzada.
- Ter atenção à higienização das mãos, dos utensílios de cozinha (incluindo eletrodomésticos como o microondas, batedeira, torradeira) e da própria bancada/zona de trabalho.
- Informar a escola (professores e direção) sobre a alergia da criança e cuidados necessários (permite que controlem melhor as refeições da criança e que tenham medicação de emergência).
- Família e amigos das crianças com alergia alimentar devem receber informação sobre alergia alimentar e evição e treino para agir em caso de emergência.
- Procure na sua zona restaurantes/estabelecimentos de restauração que tenham condições para receber a criança com alergia alimentar.
- Fale com o gerente e explique-lhe as suas necessidades.
- Prefira pratos mais simples e evitar molhos, sobremesas, fritos e grelhados (pelo risco de contaminação cruzada).
- Sempre que for viajar contacte previamente as agências de viagem/companhias aéreas/outras entidades responsáveis de forma a informar sobre a alergia alimentar e averiguar as condições.
Como tratar as reações anafiláticas?
- Administração correta e atempada de adrenalina injeção intramuscular (geralmente na parte externa da coxa).
- Ir ao serviço de urgência do hospital (mesmo que exista melhoria no estado de saúde).
Mediante prescrição, as crianças com alergia alimentar (e os seus pais/cuidadores) devem transportar sempre consigo a caneta de adrenalina (dispositivo de autoinjeção).