O que é melhor para o meu bebé e para si: parto natural ou cesariana?
Portugal é atualmente o terceiro país europeu com mais partos por cesariana. Com 35,5% de partos por cesarianas registados em 2013, o rectângulo à beira-mar plantado só é ultrapassado pela Itália e Turquia, cujos valores ascenderam a 38% e 46%, respectivamente, no mesmo período. Mais, nos hospitais privados a taxa de cesarianas em Portugal ascendeu, no mesmo ano, aos 66%.
Apesar das tentativas de baixar o número de intervenções para se chegar aos 15% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o governo apenas conseguiu baixar os índices de cesariana nos hospitais públicos, os quais se encontram agora em cerca de 28%.
A SIC realizou uma interessante reportagem, exibida no passado dia 10 de junho (2015), em que esta temática é abordada pormenorizadamente, explorando as implicações do parto por cesariana e do parto normal, com entrevistas a especialistas da área e apresentação, de estudos de caso e depoimentos de mães.
Manuel Hermida, ex-diretor do Serviço de Obstetrícia do Hospital Garcia da Horta, defende, em entrevista à SIC, a necessidade de se diminuir os partos por cesarianas por ser “uma questão de saúde pública”. O profissional chama a atenção para o facto de muitas vezes as mulheres se esquecerem que apesar de a cesariana se ter tornado hoje em dia numa técnica menos arriscada, o parto por via vaginal continua a ser um método de nascimento mais seguro.
A opinião de Manuel Hermida é corroborada por Diogo Ayres de Campos, Presidente da Comissão de Redução de Taxas de Cesariana. O clínico exemplifica o caso dos países no Norte da Europa onde as taxas daquela intervenção ficam por metade das nossas e que possuem os melhores indicadores de mortalidade e morbilidade neonatal e materna.
Na Islândia a taxa de cesarianas é de 15% e na Noruega, Finlândia e Suécia a mesma não ultrapassa os 16%. Segundo Diogo Ayres de Campos, temos a noção errada que a cesariana é o método mais seguro de nascer e que a intervenção acarreta riscos para a mãe e bebé. O especialista menciona os riscos típicos de uma intervenção cirúrgica e conclui que “as cesarianas desnecessárias causam riscos que não são justificáveis”.
Segundo o documentário, face ao parto natural, com uma cesariana o risco de uma grande hemorragia é 11 vezes superior, o de lesões urológicas é 30 vezes maior, o risco de complicações com a anestesia acresce em duas vezes e a possibilidade de transfusão sanguínea é quatro vezes mais elevada. Existem ainda riscos após a intervenção. A mãe corre um risco 11 vezes superior de apanhar uma infeção, quatro vezes maior de sofrer um trombo-embolismo e a possibilidade de morte materna acresce em cinco vezes comparativamente ao parto natural.
Nascer por via vaginal é vantajoso para o bebé. É na sua passagem pela vagina que lhe são conferidas as primeiras defesas através das bactérias maternas explica Conceição Calhau, investigadora do Departamento de Bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A investigadora explica que os bebés que tenham nascido por via vaginal e tenham no primeiro ano de vida sido amamentados apresentam um microbiota (flora intestinal) mais rico em boas bactérias.
Conceição Calhau explica que a forma como os bebés nascem pode influenciar a saúde dos mesmos mais tarde. O nascimento por cesariana pode trazer “um bebé que tem muitas cólicas, pode ser um bebé que vai ter mais diarreias mas também pode ser um bebé que vai ter mais risco de obesidade, de diabetes de tipo II e perturbações a nível de saúde mental” a especialista. Um bom microbiota beneficia, assim, o sistema imunitário.
A cesariana poderá também fazer atrasar a subida do leite, elemento fundamental para a constituição de um forte sistema imunitário no bebé. A subida do leite é provocada primordialmente pela contracção do útero e com uma cesariana este processo torna-se “tardio” porque se salta algumas etapas. Será o bebé a provocar a subida do leite.
Face aos elevados índices de cesarianas em hospitais privados, Lisa Vicente, da Direção Geral de Saúde (DGS), sublinha que não compete à DGS regular aquelas intervenções naquelas instituições. No entanto considera que se pode atuar tentando mudar a conduta dos profissionais de saúde e sensibilizar as mulheres para os benefícios do parto natural.
No final da reportagem apela-se para que se guarde as cesarianas para a sua “preciosa missão” que é “salvar vidas”.
Fontes consultadas