Aproximadamente 10% das mulheres grávidas experimentam depressão, uma taxa semelhante à de mulheres não-grávidas.
A depressão durante a gravidez está associada a cuidado pré-natal inadequado, nutrição inadequada, um risco significativamente elevado de depressão pós-parto, suicídio, maior incidência de nascimentos prematuros e bebés pequenos para a sua idade gestacional.
Numa perspetiva clássica, as condições emocionais que ocorrem no período pós-parto incluem tristeza pós-parto (“baby blues“), depressão pós-parto, e psicose pós-parto. Mais recentemente, foram reconhecidos os transtornos de ansiedade pós-parto. A perturbação de pânico pós-parto, com ou sem agorafobia (medo de estar em espaços abertos, em espaços fechados, no meio de uma multidão, etc.), parece ser a perturbação de ansiedade mais relatada.
O DSM-5, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais da Associação Americana da Psiquiatria, prefere falar em episódios depressivos com início no período peri-parto (o início dos sintomas ocorre durante a gravidez ou nas 4 semanas após o parto) enquanto a CID-10 (Classificação Internacional das Doenças da Organização Mundial de Saúde) nos fala de transtornos mentais e de comportamento associados ao puerpério quando estes têm o seu início dentro de 6 semanas após o parto.
Tristeza pós-parto ou baby blues
A tristeza pós-parto pode ocorrer até 50% das parturientes (alguns autores referem até 85%), surge nos primeiros 2 a 4 dias após dar à luz, atingindo o seu máximo em 5 a 7 dias e dissipando-se no final da segunda semana após o parto.
Os sintomas incluem choro, instabilidade emocional, irritabilidade e ansiedade. Fatores de risco para esta perturbação incluem perturbação disfórica pré-menstrual (forma mais grave da síndrome pré-menstrual) e depressão.
Depressão pós-parto
A depressão não-psicótica pós-parto é mais grave do que a tristeza transitória e ocorre em, aproximadamente, 10% das parturientes (segundo alguns autores este valor será de 10-20%). A taxa chega a ser 3 vezes maior do que na população geral nas 5 primeiras semanas após o parto.
Todavia, e de acordo com o DSM-5, entre 3% e 6% das mulheres experimentam o início de um episódio depressivo major (EDM) durante a gravidez ou nas 4 semanas após o parto – a palavra major está relacionada com o significativo mal-estar clínico e o défice social, ocupacional ou em qualquer outra área do funcionamento que este tipo de depressão provoca. Se a depressão não provocar um tão significativo mal-estar clínico e funcional não poderá ser designada de major.
Cinquenta por cento dos episódios depressivos major “pós-parto” começam antes do parto pelo que estes episódios são denominados em conjunto, no DSM-5, como periparto.
Diversos estudos demonstraram que sintomas de humor e de ansiedade durante a gravidez, bem como a tristeza pós-parto (baby blues), aumentam o risco para um episódio depressivo major pós-parto. Estas doentes têm, frequentemente, ansiedade grave e, inclusive, ataques de pânico.
Um episódio depressivo major carateriza-se, entre outros aspetos, por humor desesperançado, sentimentos de inadequação como mãe e perturbação do sono. Pode haver pensamentos ruminativos ou obsessivos de ferir o bebé mas sem convicção delirante. Estas doentes devem ser observadas com cuidado porque, por vezes, é difícil diferenciar delírios de obsessões e predizer se vão, ou não, agir a partir do medo ou desejo de prejudicar o bebé.
Antecedentes de depressão major da mulher aumentam a probabilidade de depressão pós-parto para 24% e a ocorrência de depressão major durante a gravidez aumenta a probabilidade de depressão pós-parto para 35%.
Mulheres que tiveram (anterior) depressão pós-parto têm um risco de 50-60% de ter outro episódio depressivo pós-parto. Outros fatores de risco para depressão pós-parto incluem eventos stressantes na vida e falta de apoio do parceiro ou cônjuge, ou de outras pessoas.
Psicose pós-parto (PPP)
A psicose pós-parto ocorre em 1 a 2 de cada mil nascimentos. Cinquenta a sessenta por cento das mulheres afetadas são primíparas e, em cerca de 50% dos casos, existiram complicações perinatais não-psiquiátricas. Cerca de 50% das mulheres afetadas têm história de transtornos do humor. História familiar de Perturbação Bipolar (PB)* também parece aumentar o risco de psicose pós-parto.
Etiologia
Os dados mais significativos indicam que um episódio de psicose pós-parto é essencialmente uma manifestação de perturbação do humor, em geral de um transtorno bipolar.
Alguns casos de psicose pós-parto resultam de uma condição médica geral associada a eventos pré-natais, como infeções, intoxicações com substâncias como escopolamina e meperidina, toxemia e perda de sangue. A associação entre psicose pós-parto e eventos stressantes foi também efetuada.
Sintomas
Os sintomas habitualmente iniciam-se nos primeiros dias após o parto embora o tempo médio de início seja de 2-3 semanas e quase sempre dentro de oito semanas após o parto.
Caracteristicamente, as doentes começam a queixar-se de fadiga, insónias e inquietação e podem ter episódios de choro e labilidade emocional.
Depois pode surgir desconfiança, confusão, desorganização do pensamento, alucinações (em 25% dos casos – podem ser alucinações de comando para matar o bebé), delírios (em 50% dos casos – o delírio pode ser o de que o bebé está possuído, ou de que está morto, ou de que tem deficiências, ou de que a parturiente é virgem, solteira, perseguida, influenciada ou perversa) e perturbação do sono.
Queixas quanto à capacidade de se mover, ficar de pé ou caminhar também são comuns. As mulheres que tiveram um episódio de psicose pós-parto têm um risco de recorrência de psicose pós-parto de 30-50% (DSM-5) em cada parto subsequente, e têm um risco aumentado de perturbação bipolar subsequente.
Antecedentes de psicose pós-parto ou de perturbação bipolar (PB), sobretudo do tipo I, estão associados a um risco aumentado de 20-35% de desenvolver psicose pós-parto novamente. Como a psicose pós-parto potencia o risco de suicídio, negligência infantil e infanticídio é muito frequente as mães com psicose pós-parto serem internadas.
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* A Perturbação Bipolar do tipo I representa o entendimento moderno da Psicose Maníaco-Depressiva clássica; a Perturbação Bipolar do tipo II requer a existência ao longo da vida de pelo menos um episódio depressivo major e pelo menos um episódio hipomaníaco (este último requer um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável, e atividade ou energia anormal e persistentemente aumentada).