O que mais inspira uma criança a preocupar-se com os outros são os cuidados que ela própria recebe. O carinho e a atenção dedicados diariamente à criança pelos pais é o modelo perfeito para moldar atitudes e comportamentos.
Os especialistas apontam que, quando as crianças sentem que têm uma base segura em casa, são propensas a prestar atenção aos outros. É quando se sentem privadas de amor e carinho que se concentram demais em si mesmas e nas suas próprias necessidades.
Num mundo onde a violência e a crueldade parecem ser comuns e quase aceitáveis, muitos pais se questionam sobre o que podem fazer para ajudar os seus filhos a tornarem-se pessoas amáveis e empáticas, para desenvolverem um sentimento de carinho, amizade e compaixão pelos outros.
Criar filhos que se preocupam não resolve a violência por si só, mas é razoável que os pais sintam que expor os seus filhos à violência – seja na televisão ou nas ruas – os deixe mais duros e insensíveis às necessidades e bem-estar dos outros.
Por muito que tentem, os pais não conseguem controlar a 100% o ambiente a que os seus filhos estão expostos. Seja porque passam muitas horas do dia fisicamente distantes seja porque os filhos estão inseridos na sua própria realidade, onde estabelecem relações e vivem situações à margem da presença e influência dos pais.
Para além disso, cada criança tem a sua personalidade e características pessoais que moldam e condicionam as suas atitudes e a forma como se posiciona face aos outros e às situações, nomeadamente, situações de conflito.
Contudo, há fatores que os pais podem controlar através da educação e valores que transmitem diariamente aos filhos. O modo como os pais se comportam e reagem perante determinadas situações e os ensinamentos, formais ou informais, que passam aos filhos podem ajudar a torna-los pessoas solidárias, justas e socialmente responsáveis.
Crescer num ambiente positivo e amoroso
Estudos recentes demonstram que as crianças podem manifestar sentimentos de empatia e preocupação em idade precoce o que parece comprovar que as crianças vêem o mundo pelos seus próprios olhos, independentemente da perceção dos adultos com quem convive.
As crianças reagem com preocupação, querem ajudar ou corrigir um problema quando sentem que alguém está triste ou precisa de ajuda.
Quando a criança se sente envolvida por um mundo positivo, quando intervém ativamente para o melhorar e sente empatia pelos outros, desenvolve um sentimento de esperança no futuro. Estar disponível para ajudar os outros e a envolver-se com a comunidade são formas de contribuir para o bem-estar social mas, também, para melhorar a autoestima e o grau de satisfação pessoal consigo e com a vida.
Da mesma forma que é importante que a criança se sinta apreciada e reconhecida por ser responsável e bondosa também é fundamental que os lhe digam que determinado comportamento não é aceitável.
Agir sobre o comportamento e não sobre a personalidade
Quando a criança tem uma atitude reprovável isso mesmo deve ser-lhe dito imediatamente. O motivo pelo qual o comportamento não é aceitável tem que ser claro e objetivo mas, com enfoque na atitude e não na personalidade da criança. Em vez de “Não foste simpático.” dizer “O que fizeste não foi simpático.”.
É importante que a criança distinga o certo do errado e que perceba de forma aberta, franca e inequívoca os motivos que tornam certos comportamentos reprováveis.
Também deve compreender e ter noção dos sentimentos que gera nos pais quando tem uma atitude que eles desaprovam. Se os pais demonstram sem medo os seus sentimentos, é muito provável que a criança reflita sobre a sua atitude e não a volte a repetir. Porque as crianças gostam de agradar aos adultos.
Segundo outro estudo, existem dois tipos de modelagem do papel parental que ajudam a ensinar as crianças a serem solidárias: bondade para com os outros e bondade para com a própria criança. Dito de outra forma, as ações e o exemplo dos pais falam mais alto do que as palavras.
“Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”
Se os pais forem cuidadosos e respeitarem os outros, os seus filhos seguirão o mesmo caminho. Se os pais forem carinhosos em casa e com os amigos, as crianças seguem o seu exemplo já que procuram, na conduta dos adultos, as pistas para orientarem os seus próprios comportamentos.
Se os pais dizem uma coisa mas fazem outra, a mensagem que passa não é coerente e, por natureza, a criança vai valorizar muito mais aquilo que vê fazer do que aquilo que lhe é dito.
Se as crianças forem tratadas com preocupação e respeito pelas suas realizações e necessidades, isso irá ajudá-los a compreender que todos os seres vivos devem ser tratados com dignidade e respeito, agindo em conformidade.
Fonte consultada: American Psychological Association [em 12 de junho de 2016]