A dor abdominal na gravidez pode ser causada por vários fatores que decorrem do normal desenvolvimento da gestação, como o crescimento uterino ou a prisão de ventre ou ser um sinal para a presença de alguma complicação. Nestes casos, a dor é acompanhada por outros sintomas como hemorragia vaginal, alterações no aspeto do corrimento, contrações, vómitos, entre outros.
Saiba como aliviar a dor abdominal na gravidez e como reconhecer quando é um sinal de alerta que a deve levar a procurar ajuda profissional.
Dor abdominal na gravidez
Dor abdominal na gravidez: 1º trimestre
As principais causas de dor abdominal no 1º trimestre de gravidez (da 1ª à 13ª semanas, aproximadamente) incluem:
Infeção urinária
A pressão causada pelo útero em expansão e o relaxamento muscular provocado pelas hormonas tornam mais fácil a passagem das bactérias intestinais para o sistema urinário e causar infeções urinárias.
A pressão aguda no baixo-ventre, vontade de urinar com frequência, dor, dificuldade ou ardor ao urinar, odor desagradável ou a urina turva são alguns dos sintomas de infeção urinária.
A infeção urinária em gestantes está associada a parto pré-termo e a bebés com baixo peso à nascença, pelo que mesmo a bacteriúria assintomática (colonização da urina por bactérias sem a presença de sintomas), de deve ser avaliada e tratada pelo médico.
Gravidez ectópica
Numa gravidez ectópica, o embrião implanta-se e desenvolve-se fora da cavidade uterina. O embrião pode implantar-se numa das trompas de Falópio, nos ovários, no canal cervical ou no abdómen.
Geralmente, uma gravidez ectópica é diagnosticada entre a 5ª e a 10ª semana de gravidez. Os sintomas mais comuns de gravidez ectópica incluem hemorragia vaginal anormal e dores abdominais.
A gravidez ectópica é uma urgência obstétrica porque pode provocar a rutura dos tecidos maternos e causar perda abundante de sangue e a única maneira de tratar uma gravidez ectópica é através da interrupção da gravidez.
Aborto espontâneo
O aborto espontâneo, ou interrupção involuntária da gravidez, é a expulsão espontânea do embrião ou do feto antes de ele ser capaz de viver fora do útero. De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde, o limite inferior da viabilidade fetal situa-se na 20ª semana (meio da gravidez).
Com a finalização do desenvolvimento das principiais estruturas e órgão vitais do bebé, por volta da 13ª semana da gravidez, o risco de aborto diminui para cerca de 65%.
Sintomas como dor abdominal, cãibras no baixo-ventre ou nas costas, sangramento vaginal forte ou perdas ligeiras de sangue por mais de 3 dias ou vómitos intensos podem indicar um aborto espontâneo e deve recorrer a uma urgência hospital de imediato.
Dor abdominal na gravidez: 2º trimestre
A dor abdominal no 2º trimestre de gravidez (período entre a 14ª e a 26ª semanas, aproximadamente) pode fazer parte do processo normal da gravidez ou associar-se a outros sintomas que indicam alguma complicação. Alguns dos problemas que podem provocar dor abdominal nesta fase da gravidez são:
Pré-eclâmpsia
A pré-eclâmpsia ocorre somente na gravidez, geralmente na segunda metade da gestação, depois das 20 semanas e durante o período imediatamente a seguir ao parto (no puerpério – período que decorre entre o nascimento até 28 dias após o parto).
Quando a mulher está gravemente afetada e a data do parto está próxima, pode ter que ser um parto induzido. Se for ligeira e se ocorrer no início da gravidez, poderá ser administrada medicação para ajudar a baixar e a controlar a pressão sanguínea.
Doses reduzidas de aspirina ou cálcio, vitaminas C e E, e ácido fólico, podem ajudar a prevenir a pré-eclâmpsia e, consequentemente, a eclâmpsia (convulsões).
Descolamento da placenta
O descolamento da placenta ocorre quando a placenta (o sistema de vida do bebé), se separa prematuramente da parede uterina e não depois do parto (na 3ª fase). Se o descolamento for grave, pode haver risco para o bebé porque deixa de receber os nutrientes e oxigénio de que necessita para viver.
Sintomas como cãibras ou dores abdominais, sensibilidade no útero, sangramento (que pode ser ligeiro ou abundante, com ou sem coágulos), dores nas costas ou no abdómen devem ser comunicados ao médico imediatamente.
O diagnóstico é realizado através da observação das contrações uterinas e da reação do feto às contrações e num exame físico. Pode ser realizada uma ecografia para observar a posição da placenta.
Se os sinais vitais do bebé se manterem normais (sem sinais de sofrimento fetal) e a placenta se tiver separado ligeiramente da parede uterina, poderá ser recomendado repouso na gravidez (provavelmente repouso absoluto). Se a separação for significativa, será necessário antecipar o parto, podendo ser um parto por cesariana.
Falsas contrações do trabalho de parto
As falsas contrações do parto ou de Braxton-Hicks, são contrações esporádicas, irregulares e indolores. Pode sentir a barriga dura por momentos, relaxada, e dura novamente. As contrações de Braxton-Hicks podem surgir por volta da 20ª semana e intensificar-se na transição do 2º para o terceiro trimestre.
Dor abdominal na gravidez: 3º trimestre
Entre as principais causas de dor abdominal no 3º trimestre de gravidez (período após a 27ª semana e o nascimento do bebé) encontram-se a prisão de ventre e gases, dor no ligamento redondo e início do trabalho de parto.
Prisão de ventre
A prisão de ventre é uma queixa comum na gravidez e no pós-parto. Para além da dificuldade em defecar pode sentir cólicas, pressão no baixo-ventre, espasmos intestinais e gases, o que agrava ainda mais o desconforto.
Os níveis elevados de progesterona provocam o relaxamento dos músculos do intestino grosso, tornando-o mais preguiçoso. Por outro lado, a pressão exercida pelo útero sobre os intestinos dificulta que trabalhe normalmente. Resultado? Barriga inchada e entupida, dor abdominal e muitos gases.
Os alimentos ricos em fibras (25 a 35 gramas diariamente) são uma boa ajuda para combater a obstipação e regular o organismo. Juntamente com a água e exercício físico regular, estes alimentos mantêm o seu organismo purificado e sentir-se-á muito mais leve.
Gases
Durante a gravidez e no pós-parto, a distensão dos músculos e dor nervos da zona pélvica pode fazer com que seja mais difícil controlar as fezes e os gases. Por norma, o problema resolve-se por si só, quando os músculos e os nervos recuperam ao fim de algumas semanas.
Para ajudar a resolver o desconforto, beba muita água e tenha mais cuidado com a sua alimentação. Não beba refrigerantes nem bebidas com gás, evite feijões, couves e abstenha-se totalmente dos fritos. Coma devagar e mastigue muito bem os alimentos.
Dar caminhadas após as refeições também ajuda a fazer a digestão e a combater a prisão de ventre e os gases.
Dor no ligamento redondo
A dor no ligamento redondo deve-se ao estiramento dos músculos e dos ligamentos que sustentam o útero. À medida que o bebé cresce e precisa de mais espaço no útero, estes músculos e ligamentos esticam.
Pode sentir um desconforto nos lados do baixo-ventre, cãibras abdominais fortes ou ligeiras, que não passam, especialmente quando se levanta da cama, de uma cadeira ou quando tosse ou espirra. A dor pode ser passageira ou prolongar-se por algumas horas.
Desde que não sejam acompanhadas por sintomas como febre, arrepios, sangramento ou tonturas, são perfeitamente normais. Repousar com os pés elevados poderá proporcionar algum alívio. No entanto, mesmo que a dor acalme, deve falar sobre ela ao seu médico na consulta.
Início do trabalho de parto
No final da gestação, o início do trabalho de parto é a principal causa para a dor abdominal. Em conjunto com outros sintomas, pode ser um sinal de que o nascimento do seu bebé está para breve:
- Dor no fundo das costas;
- Cólicas semelhantes às dores menstruais, com ou sem diarreia;
- Perda do tampão (ou rolhão) mucoso (apesar de este poder ser expulso pela vagina alguns dias ou mesmo semanas antes do início do trabalho de parto);
- Contrações cada vez mais regulares, frequentes e dolorosas. Quando sentir cerca de 3 contrações a cada 10 – 15 minutos, está na hora de ligar ao seu médico e dirigir-se para a maternidade / hospital.
Dor abdominal na gravidez: quando procurar ajuda médica
De uma forma geral, sempre que sentir algum incómodo que a deixe preocupada ou que interfira com a sua qualidade de vida, deve procurar aconselhamento médico. Por vezes, os sintomas são comuns e não têm qualquer consequência para o normal desenvolvimento fetal mas é importante que se sinta tranquila e que se assegure que está tudo bem.
Se sentir dor abdominal acompanhada de certos sintomas, deve ligar ao seu médico ou dirigir-se a uma urgência hospitalar. Entre os sinais de alarme, encontram-se:
- Dor abdominal antes das 12 semanas de gestação, com ou sem sangramento vaginal;
- Sangramento vaginal;
- Cólicas abdominais fortes e dolorosas;
- Dor de cabeça forte e tonturas;
- Tornozelos, pés e rosto mais inchados do que o normal;
- Dor ao urinar, dificuldade ao urinar ou urina com sangue;
- Febre e arrepios;
- Corrimento vaginal.
Se sentir um aumento na pressão pélvica, sangramento vaginal ou secreção abundante, ou se não sentir o seu bebé a mexer, deve dirigir-se ao hospital de imediato, independentemente do tempo de gravidez.