Algumas mulheres experimentam dor nos ovários de forma reiterada. Normalmente, estas estão relacionadas com as mudanças hormonais cíclicas próprias do ciclo menstrual e, por isso, não constituem motivo de preocupação. É o caso da dor da ovulação, da dismenorreia (menstruação dolorosa) ou da síndrome pré-menstrual.
Contudo, as dores nos ovários podem estar associadas a algumas patologias, que levam algum tempo a revelar-se, como a endometriose, a doença inflamatória pélvica, as aderências, os miomas e as tumorações ováricas. Nestes casos, a dor é habitualmente crónica (duração superior a 6 meses).
Se, pelo contrário, o problema surge repentinamente, a dor manifesta-se de forma aguda e implica a realização de uma intervenção cirúrgica de urgência. A gravidez ectópica e a torção do ovário são as situações mais comuns.
Dor nos ovários: ovulação
A dor ovulatória, também conhecida por mittelschmerz, pode aparecer a qualquer mulher em idade fértil, sendo, contudo, mais frequente nas que fazem tratamentos de infertilidade com indutores de ovulação.
Esta dor ocorre por volta do 14º dia do ciclo menstrual, quando o ovário liberta o óvulo para as trompas de Falópio. Vulgarmente sente-se num dos lados da região inferior do abdómen, dependendo do ovário onde a ovulação se dá, mas, apesar de ser raro, pode ocorrer nos dois lados em simultâneo.
A dor que ocorre na ovulação pode ser ligeira ou forte, demorar uns minutos ou mesmo horas e, em alguns casos, pode ser acompanhada de sangramento vaginal e enjoos.
Se a dor for muito intensa ou se se estender por vários dias pode ser sintoma de alguma patologia, designadamente, endometriose, doenças sexualmente transmissíveis (clamídia, por exemplo), quistos nos ovários, apendicite ou gravidez ectópica (que ocorre fora do útero).
Esta dor pode também advir de uma cirurgia ao apêndice ou uma cesariana, devido à formação de tecido cicatricial que pode envolver os ovários e as estruturas circundantes, provocando dor.
A dor provocada pela ovulação não exige tratamento. No entanto, se o desconforto for muito grande pode ser necessário tomar analgésicos, anti-inflamatórios ou contactar o médico para iniciar a toma da pílula.
Dor nos ovários: dismenorreia
A dismenorreia é, por norma, uma dor uterina mais veemente do que a que habitualmente acontece durante o período menstrual. A dor pode ocorrer com a menstruação ou precedê-la em um a três dias. Sintomas como fadiga, náuseas, cefaleias, diarreia ou obstipação, dor lombar e frequência urinária são comuns; vómitos e eliminação de coágulos ou cilindros endometriais ocorrem fortuitamente.
A dismenorreia pode ser primária (mais comum) ou secundária (decorrente de alterações pélvicas). A dismenorreia primária verifica-se em mulheres sem anomalias pélvicas e nas quais se observa uma grande produção de prostaglandinas e outros mediadores inflamatórios produzidos no endométrio secretório, causadores de isquemia e de contrações uterinas que provocam a dor. Começa em um ano após a primeira menstruação da mulher (menarca) e ocorre quase sempre em ciclos ovulatórios.
Algumas mulheres apresentam cólicas graves que interferem nas atividades diárias e podem significar ausência na escola ou no trabalho.
Por sua vez, a dismenorreia secundária está relacionada com outras doenças, como a endometriose (a causa mais comum) e os miomas. Causas menos comuns incluem malformações congénitas, quistos, pólipos e tumores, doença inflamatória pélvica, congestão pélvica, aderências intrauterinas, dor psicogénica e dispositivos intrauterinos (DIUs). Usualmente a dismenorreia secundária inicia-se na idade adulta, a menos que seja provocada por malformações congénitas.
Dor nos ovários: síndrome pré-menstrual
A síndrome pré-menstrual é um conjunto de transtornos físicos, psíquicos e comportamentais que afetam a mulher ciclicamente, com uma intensidade e uma duração bastantes para alterar a sua vida diária.
Estas alterações ocorrem na segunda metade do ciclo menstrual e incluem dores abdominais e pélvicas, dores de cabeça, sensibilidade e dor mamária, irritabilidade, ansiedade, náuseas, vómitos e alterações do apetite, entre outros.
Dor nos ovários: endometriose
Entende-se por endometriose o crescimento das células do endométrio fora da sua localização normal, por exemplo, nos ovários, no peritoneu pélvico, na bexiga, no apêndice, nos intestinos ou, até, no diafragma. A endometriose pode, embora mais invulgarmente, manifestar-se fora da cavidade abdominal e afetar órgãos mais distantes, como o pulmão, a pele ou o nariz.
Trata-se de uma dor incapacitante, que tem um forte impacto na vida da mulher. Apresenta-se de forma diversa consoante a gravidade e a localização dos focos. Pode causar dor forte na barriga, que se pode propagar para o fundo das costas; dor durante as relações sexuais (dispareunia); sangramento abundante durante a menstruação; cansaço, náuseas e vómitos. Se a endometriose afetar os intestinos, as cólicas aparecem sobretudo durante a menstruação, associando-se a dor ao defecar, diarreia ou, raras vezes, prisão de ventre. Se acometer a bexiga, a dor surge ao urinar, podendo ocorrer perda de sangue na urina (hematúria).
Importa ressaltar que a doença, quando não diagnostica e tratada tende a progredir, invadindo outros tecidos. Um diagnóstico e tratamento precoces são imprescindíveis para travar a patologia, inclusive porque parece haver uma correlação entre a endometriose e o carcinoma de células claras do ovário. A infertilidade é outras das manifestações da endometriose e resulta da invasão e oclusão das trompas pelo tecido endometrial.
Dor nos ovários: doença inflamatória pélvica
A doença inflamatória pélvica acontece quando agentes patogénicos, geralmente de transmissão sexual, transpõem as barreiras naturais da vagina e o colo do útero e chegam à cavidade uterina, provocando infeção no endométrio (endometrite) e nas trompas de Falópio (salpingite) e abcessos tubo-ováricos. Pode também alcançar a cavidade abdominal e causar pelviperitonite.
Porém, alguns destes microrganismos podem advir de outras zonas do corpo contíguas à infeção, como o sistema urinário ou o apêndice.
Febre, dor no baixo ventre, sangramento e corrimento vaginal e dor durante a relação sexual podem estar presentes.
Dor nos ovários: quistos dos ovário
Os quistos ováricos são cápsulas de líquido que se formam dentro dos ovários ou à sua volta. Os mais comuns designam-se quistos funcionais e são aqueles que se formam durante o processo ovulatório (quistos foliculares, quistos de corpo lúteo). Os restantes são não funcionais (endometrioma, quisto dermoide, cistadenoma).
A maioria dos quistos ováricos não causa sintomas e acaba por desaparecer espontaneamente. Nos casos em que isso não acontece, os quistos podem manter-se assintomáticos durante muito tempo, até adquirirem um volume considerável. Quando provocam sintomas, estes estão relacionados com o crescimento, a rutura ou torção do quisto.
Pode manifestar-se dor pélvica (pouco depois do início ou no final do período menstrual; nas relações sexuais ou durante os movimentos; dor ou desconforto pélvico constante; dor pélvica súbita e intensa, por vezes acompanhada de náuseas e vómitos); distensão abdominal; atraso menstrual, amenorreia (ausência de menstruação) ou hemorragias anómalas; obstipação, diarreia ou dor ao evacuar (por compressão do intestino); incontinência de urgência e retenção urinárias (por compressão da bexiga).
Dor nos ovários: torção dos ovários
Os ovários estão presos à parede abdominal por um ligamento, através do qual passam os vasos sanguíneos e os nervos. Por vezes, esse ligamento dobra ou torce, motivando uma dor pélvica severa e persistente, que pode ser acompanhada por náuseas e vómitos.
A torção do ovário e, por vezes, da trompa de Falópio (torção anexial) é pouco comum, mas tem maior probabilidade de acontecer em mulheres em idade reprodutiva e com quistos nos ovários, já que estes se tornam maiores e mais pesados que o habitual.
A gravidez, o uso de indutores de ovulação e o aumento do ovário, vulgarmente devido a tumores ou quistos benignos podem aumentar a probabilidade de torção anexial.
Normalmente, o tratamento passa por um procedimento cirúrgico (laparoscopia ou laparotomia) para tentar destorcer o ovário e, dessa forma, salvá-lo.