Atualmente, existe muita polémica à volta dos parabenos. Lê-se por aí que são químicos perigosos, que podem causar cancro e outros malefícios. Por outro lado, há quem defenda que estes químicos são perfeitamente seguros para a saúde humana, como é o caso de alguns grandes fabricantes de cosméticos.
Como são largamente usados em produtos cosméticos, cada vez mais as surgem marcas que anunciam nos seus rótulos: “sem parabenos”. Mas afinal o que são parabenos, para que servem e são mesmo perigosos ou não? E podemos usar produtos com parabenos em bebés e crianças?
Neste artigo tentamos oferecer alguma informação que, esperamos, o ajude a conhecer melhor estes componentes químicos para melhor decidir se deve ou não usar parabenos.
O que são parabenos?
Os parabenos são conservantes usados em produtos de consumo perecíveis para impedir o crescimento de bactérias e fungos. Estes microrganismos proliferam facilmente em produtos com uma elevada quantidade de água, como é o caso de alguns produtos cosméticos.
Sem os parabenos, teríamos que conservar os nossos cosméticos no frigorífico e durante um espaço limitado de tempo. Os cosméticos seriam, assim, muito mais suscetíveis de serem contaminados com bactérias e fungos. Podiam perder rapidamente as suas qualidades e benefícios, revelando alterações na cor, consistência, odor e textura.
Devido à sua elevada eficácia, os parabenos são utilizados para preservar a qualidade e segurança dos produtos cosméticos desde cerca dos anos de 1950. A sua ação é eficaz mesmo em concentrações reduzidas e raramente interagem com os restantes ingredientes dos produtos onde são integrados.
Onde encontramos os parabenos?
Mas, não é apenas nos cosméticos que encontramos parabenos. Estes componentes ingressam também na lista de ingredientes de produtos farmacêuticos, como pomadas e xaropes, e ainda na alimentação. Segundo a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), poderá encontrar parabenos nos seguintes produtos:
- Cosméticos – cremes de cuidados do rosto e corpo, desmaquilhantes, cremes depilatórios, maquilhagem (máscaras, sombras, batons), máscaras para a pele e cabelo, protetores solares, etc.
- Fármacos – Cremes, pomadas, loções, unguentos de aplicação tópica (incluindo nasal, anal e vaginal), alguns xaropes e medicamentos injetáveis
- Produtos de higiene – Champôs, condicionadores, gel de banho, sabonetes líquidos, pastas de dentes, desodorizantes, antitranspirantes, etc.
- Alimentos – Cereais, compotas, geleias, cremes de pastelaria, vegetais processados, doces, gomas, gelatinas, pudins, refrigerantes, ketchup, peixe e carnes enlatadas
São permitidos em Portugal?
Sim, mas há restrições. Aliás, segundo a legislação da Comissão Europeia são permitidos os seguintes parabenos na União Europeia:
- Metilparabeno
- Etilparabeno
- Propilparabeno
- Butilparabeno
A Legislação Europeia definiu ainda as concentrações máximas de um ou mais parabenos permitidas em cada produto. Assim, a Comissão limita a concentração máxima de dois conservantes, propilparabeno e butilparabeno a 0,4 % quando utilizados individualmente e 0,8 % quando misturados com outros ésteres.
Exceção: o propilparabeno e o butilparabeno não são permitidos em produtos não enxaguados para a zona da fralda em crianças com idade inferior a 3 anos . Isto deve-se ao facto a pele na zona da fralda que é particularmente sujeita a assaduras e irritações poder permitir uma maior penetração do que a pele intacta.
Como é que sei que um produto contém parabenos?
Segundo a SPAIC, existe uma lista bastante extensa de denominações para os parabenos. Assim, para saber se um produto contém parabenos, além da denominação genérica deve procurar no seu rótulo as nomenclaturas seguintes:
1-metilparabeno,etilparabeno, propilparabeno, butilparabeno, benzilparabeno, Nipagin. 4-hydroxybenzoic acid butyl ester, ethylparaben, p-carbethoxyphenol, 4-hydroxybenzoic acid ethyl ester, Ethyl phydroxybenzoate, propyl p-hydroxybenzoate, 4-hydroxybenzoic acid methyl ester, ethyl p-oxybenzoate, propylparaben, 4-hydroxybenzoic acid propyl ester, methylparaben, para-hydroxy-benzoates, aseptoform, methyl p-hydroxybenzoate, paracept, butyl phydroxybenzoate, methylparahydroxybenzoate, tegosept, butylparaben, p-methoxycarbonylphenol.
Noutros rótulos poderá ainda encontrar estes compostos mantendo o mesmo início, mas substituindo o final “-paraben” por “parahydroxybenzoate” ou “-parahydroxybenzoic acid”.
No mesmo documento que consultámos da SPAIC, a associação refere que esta lista não é completa pois as empresas estão constantemente a fazer alterações aos químicos nas fórmulas.
Se são permitidos, então porque há tanta polémica à volta dos parabenos?
Os parabenos exercem alguma atividade semelhante à dos estrogénios, ou seja, hormonas sexuais femininas. Contudo, esta atividade é muitíssimo inferior à do estrogénio presente no organismo humano. Com efeito, calcula-se que seja entre 10.00 até 2,5 milhões de vezes menor. Contudo, este facto causou alguma preocupação e foi investigado em diversos estudos.
Um dos estudos mais controversos foi publicado em 2004 e causou preocupação que os parabenos presentes nos desodorizantes das axilas provocassem cancro da mama. O estudo foi mais tarde considerado como apresentando lacunas e foi desacreditado.
Houve estudos que identificaram vestígios de parabenos na urina e sangue de utilizadores de produtos que continham parabenos, o que causou também preocupação.
Na verdade, não existe uma comprovação científica que indique que os parabenos legalmente permitidos e nas concentrações autorizadas sejam nocivos para a saúde.
Adicionalmente, está comprovado que quando são aplicados sobre a superfície da pele, os parabenos são absorvidos em quantidades reduzidas. A quantidade absorvida é, por seu lado, rapidamente eliminada pelo organismo.
Segundo um relatório datado de 2008, do portal Cosmetic Ingredient Review, os parabenos são seguros quando usados em produtos cosméticos.
Em suma, não sabemos dizer se os parabenos são bons ou maus. Não podemos aconselhar ou desaconselhar o uso destes conservantes químicos. Sabemos sim, que até à data (2021), que saibamos, não foi cientificamente comprovado que a utilização dos parabenos legalmente permitidos prejudicasse a saúde.
A discussão continua…
Apesar de não haver prova dos malefícios dos parabenos para a saúde humana, estes conservantes continuam a ser objeto de estudo científico. Aliás, são os conservantes mais estudados. Mas, em dúvida, há quem prefira evitá-los.
Assim, deixamos uma frase de Cyrille Telinge, diretor-geral e cofundador dos laboratórios Novexpert, dita numa interessante entrevista ao jornal Observador: “a questão que fica é: isto faz bem? Faz mal? Ninguém sabe. O que se sabe é que os bebés, as crianças, os adolescentes, os adultos, todos têm químicos no corpo. E se não sabemos se isto é bom ou mau, se passámos anos sem moléculas estrangeiras e se temos mais perguntas do que respostas, o melhor talvez seja evitá-las.
Referência: Comissão Europeia; Cosmeticobs; COMMISSION REGULATION (EU) No 358/2014; Portal Info Cosmetics; SOCIEDADE PORTUGUESA DE ALERGOLOGIA E IMUNOLOGIA CLÍNICA; EC Europa -Parabens Used in Cosmetics; Best Health; Jornal Observador