Tiques são movimentos (chamados tiques motores) e/ou sons (tiques fónicos ou vocais) breves, repetidos, sem objetivo nem propósito claro, por vezes socialmente desadequados e embaraçosos.
Variam em gravidade de criança para criança e também ao longo do tempo, sendo intensificados nas situações de ansiedade e nervosismo.
Tiques na criança: causas, efeitos e tratamento
Os tiques são relativamente frequentes (cerca de 1 em cada 10 crianças em idade escolar), mas igualmente mal interpretados e até ridicularizados, quer por adultos, quer por outras crianças.
- Exemplos de tiques motores: torcer ou coçar o nariz, piscar os olhos, fazer caretas, tocar repetidamente em partes do corpo, objetos ou noutras pessoas, saltar.
- Exemplos de tiques vocais: limpar a garganta, dar estalinhos com a língua, fungar, grunhir, ou em situações mais raras palavras e/ou frases fora de contexto (incluindo obscenidades).
Associam-se a ansiedade e desconforto interior, que aliviam após a concretização do tique. Por este motivo, quando são impedidos deixam a criança inquieta, tensa e nervosa.
São involuntários, ou seja, a criança não os realiza deliberadamente nem tem controlo sobre o momento em que ocorrem ou a sua intensidade, surgindo também durante o sono. Podem, contudo, ser suprimidos por breves períodos, à custa de um importante e progressivo aumento da ansiedade, até que sejam de novo realizados.
Geralmente começam por volta dos 6 anos de idade, muitas vezes de forma súbita e têm tendência a melhorar até ao final da adolescência.
O que causa os tiques na criança?
Ainda não está perfeitamente esclarecida a causa desta perturbação, porém envolve alterações em determinados circuitos cerebrais e neurotransmissores (substâncias que fazem circular a informação no cérebro).
Parece existir uma componente genética, com uma maior tendência de filhos de pais com tiques, também os terem na atualidade ou terem tido durante a infância.
Que impacto têm os tiques na criança?
Embora em si mesmos os tiques maioritariamente não sejam um problema grave de saúde, parecem por vezes simular comportamentos de desobediência e rebeldia, sendo alvo de crítica e desdém.
Por este motivo têm um impacto potencialmente negativo na vida da criança, sobretudo quando ocorrem na escola, em casa de amigos, etc., locais em que a compreensão é menor, ao contrário do que acontece em casa, na presença da família mais próxima.
Desta forma, a criança sente-se embaraçada, pode desenvolver uma baixa autoestima e ficar até deprimida.
Como é feito o diagnóstico dos tiques na criança?
O diagnóstico é clínico, significando isto que é através da história que contam os pais, professores e a própria criança, bem como da observação da criança pelo médico, que se conclui pela existência de tiques.
Não existem análises nem exames de imagem cerebral (TAC ou Ressonância Magnética) que façam o diagnóstico. Pode ser útil os pais filmarem os movimentos para depois serem mostrados na consulta.
Ter tiques é grave?
Nalgumas situações, as crianças com tiques graves e múltiplos podem ter também perturbação da atenção, hiperatividade, dificuldades de aprendizagem.
Outro tipo de situações como depressão, ansiedade, pensamentos e comportamentos obsessivos e/ou compulsões, podem também ocorrer.
O que fazer então enquanto pais perante os tiques na criança?
1. Não repreender a criança por fazer os tiques.
2. Assegurar à criança que não deve sentir-se inferior aos companheiros, evitando os próprios pais fazê-la sentir dessa forma.
3. Igualmente importante é reconhecer e dar a entender às pessoas que convivem com a criança, que os tiques não são voluntários nem contagiosos. Podem ser suprimidos, porém apenas por instantes e à custa de níveis altos de ansiedade, o que não é benéfico para a criança.
Conversar com o médico assistente / pediatra quando:
- Os tiques se tornam gradualmente mais frequentes e complexos, ou
- São acompanhados por dificuldades de concentração, comportamentos de autoagressão ou impulsivos e/ou obsessivos, ou
- Surgem sinais depressivos, medo ou recusa de ir à escola e de estar em público.
Nestas situações é necessário referenciar a criança a especialistas nestas perturbações.
Existe tratamento para os tiques na criança?
A maioria das situações não requer tratamento, uma vez que corresponde a uma perturbação transitória, com impacto reduzido no dia-a-dia da criança a partir do momento em que tanto ela como as pessoas que com ela convivem são educadas quanto à benignidade da situação.
Noutros casos, a intensidade, tipo e frequência dos tiques, bem como a existência de perturbações associadas (sintomas depressivos, dificuldade de concentração, comportamentos de autoagressão, impulsivos e/ou obsessivos), podem necessitar de tratamento.
Este pode ser simplesmente através de terapia, se se concluir que a criança e a família necessitam sobretudo de aprender a lidar com uma situação transitória.
Contudo, nalgumas situações menos frequentes e quando a interferência no quotidiano é significativa, pode ser necessário recorrer a medicamentos. Nestes casos a criança é geralmente encaminhada para um especialista (Neuropediatra).