Falar à bebé: porque não o deve fazer após os 18 meses?
De acordo com estudos recentes, as crianças cujos pais conversam menos com elas, têm um pior desempenho em testes de linguagem. É um dado preocupante!
Por outro lado, existe outro dado igualmente preocupante que pode acontecer: as crianças cujos pais conversam muito com elas também podem desenvolver dificuldades ao nível da linguagem.
Mas como pode isto acontecer? Claro que a quantidade é importante mas, neste caso, estamos a falar de qualidade e não de quantidade.
Como falo com o meu filho? Como devo falar com o meu filho?
Os dois primeiros anos de vida da criança são essenciais à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem, devido a um período ótimo de plasticidade cerebral.
Durante este período, é importante que a criança tenha experiências e oportunidades ricas e variadas, contactando com vocabulário que seja igualmente rico e variado, mas também “mais fácil” e apropriado para a criança aprender, tendo em consideração o seu nível de desenvolvimento.
“Baby talk” ou “falar à bebé“
As primeiras palavras e o início da linguagem
O “baby talk” ou “motherese” corresponde a um padrão de fala utilizado pelo adulto quando interage e conversa com um bebé. É uma missão quase impossível falar com um bebé, utilizando um tom de voz grave e monocórdico, sem expressões corporais e faciais.
Assim sendo, de forma a obter a atenção e manter o interesse do bebé pelo outro, o adulto utiliza palavras mais simples como “chicha” e “miau“, um tom de voz mais agudo e um ritmo de fala mais lento, melodia, repetição de frases e palavras, assim como expressões corporais e faciais exageradas e apelativas.
Todos estes comportamentos caracterizam o “baby talk” e são importantes ao desenvolvimento da relação, da comunicação, da linguagem e da fala durante o primeiro ano de vida do bebé*:
- Contribuem para o afeto, a relação e o envolvimento entre o bebé e o adulto;
- Estimulam o desenvolvimento da atenção e da aprendizagem do bebé;
- Facilitam a discriminação de sílabas e de vogais;
- Potenciam a noção de palavra, contribuindo para o processamento da fala;
- Potenciam a aprendizagem das primeiras palavras e frases.
Usar um vocabulário correto e diversificado
Avançar para uma segunda fase do desenvolvimento da linguagem
No entanto, quando o adulto prolonga e perpetua o uso deste tipo de linguagem na relação com a criança, o “baby talk” poderá ser prejudicial.
Isto acontece quando o adulto mantém o uso de palavras mais simples e/ou utiliza e valoriza as palavras que a criança diz, porque é apelativo, carinhoso ou divertido (ex: “mimi” para “chupeta” ou “bumba” para “água“).
Erika Hoff, psicóloga do desenvolvimento na Florida Atlantic University, refere que “as crianças não podem aprender o que elas não ouvem“. Portanto, a partir dos 18 meses de idade e do segundo ano de vida no máximo, o “baby talk” deve dar lugar ao uso de um vocabulário correto e diversificado, com frases bem estruturadas e sucessivamente mais complexas.
Se queremos que a criança aprenda a dizer “carro“, temos de lhe dizer e mostrar a palavra “carro” quando virmos um carro a passar na rua, num desenho animado, num livro, quando estivermos a brincar com carrinhos ou a conversar com a criança.
E se a criança disser “pópó“? Não a reprima nem a penalize por isso. Diga, mostre e repita a palavra “carro”. Evite pedir à criança para repetir a palavra. Dê-lhe tempo. Evite também perguntar repetidamente à criança “o que é isto”?.
E quando a criança disser “carro” em vez de “pópó“, elogiem-na pelo seu esforço em comunicar mais e melhor! Passo a passo, a criança irá conseguir!!!
*Saint-Georges, Chetouani, Cassel, Apicella & Mahdhaoui, 2013