Mesmo em adultos, a recordação do primeiro amor deixa uma marca de nostalgia. A primeira troca de olhares envergonhada, os bilhetes, enfim, toda aquela excitação de uma coisa nova, mas que ao mesmo tempo sentimos como parte de nós e que chega sem aviso prévio.
Numa fase de inocência e a caminho da independência emocional, quando as relações e os sentimentos estão em pleno desenvolvimento são emoções muitas vezes difíceis de descodificar pela criança e do nada o primeiro amor do nada acontece.
O seu primeiro amor
Para os pais pode ser uma brincadeira, mas para as crianças o primeiro amor é um caso muito sério e uma boa oportunidade para os pais acompanharem (e perceberem também) o desenvolvimento emocional do seu filho.
Os primeiros sentimentos amorosos podem aparecer tão cedo como os 5 ou 6 anos de idade e desenvolvem-se à semelhança de muitas outras áreas da criança, quando uma “coisa” que se chama curiosidade bate à porta como bateu com tantos outros estímulos que permitiram que ela se desenvolvesse.
Quando as crianças começam a conhecer outras e a encontrar afinidades, pode surgir aquele sentimento de “querer estar perto” de alguém especial.
Muitas vezes, nem a criança sabe expressar o que se passa no seu coração. São as pequenas risadas nervosas, as brincadeiras ou mesmo pequenas zangas que podem revelar um interesse mais intenso e profundo do que a simples amizade.
O primeiro amor tem um papel relevante na forma como a criança se irá relacionar com o mundo e com as pessoas futuramente. Por isso, é um processo importante e que não deverá ser ridicularizado.
Um sentimento amoroso correspondido aumenta a autoestima e faz com que a criança se sinta valorizada, embora o mais importante seja o processo de gestão emocional em si, quando a criança aprende a gerir os seus sentimentos, sejam eles correspondidos ou não.
O papel dos pais
Falar ou não aos pais sobre os sentimentos despertados pelo primeiro amor depende de muitos fatores. Da qualidade da comunicação, do respeito pelos sentimentos da criança, pela confiança de que o segredo está bem guardado e que não vai ser objeto de piadas ou inconfidências por parte dos pais.
O tipo de relação aqui estabelecido irá guiar o comportamento futuro da criança. Criado um ambiente seguro e tolerante, sem críticas, irá fazer com que, quando as relações se tornarem mais sérias e “complicadas” na adolescência, haja confiança para conversar e partilhar dúvidas e inseguranças e procurar aconselhamento.
Os pais também precisam de se preparar para a independência emocional dos filhos e criar um ambiente de diálogo franco e de escuta ativa. Precisam também de se treinar emocionalmente para empaticamente perceberem que nem tudo será partilhado com eles. Todos nós quando éramos crianças sabíamos perfeitamente que muitas coisas não contávamos aos pais, por mais abertos e tolerantes que eles fossem.
Os pais aqui também “crescem”, uma vez que estabelecem graus de confiança sobre as decisões que o seu filho toma, cada vez mais sozinho e independente.
Estabelecer limites
Com os primeiros sentimentos amorosos, surge a oportunidade para conversar sobre o que é ou não aceitável numa relação a dois. Desde os limites do contacto físico, à expressão pública de afeto ou o que deve ou não ser partilhado.
O primeiro amor é uma excelente oportunidade para transmitir valores, para ajudar a criança a estabelecer limites comportamentais e a saber também preservar a sua intimidade. A saber respeitar a sua integridade pessoal e a do outro. É, também, o início da educação sexual (ver Quando e como falar de sexo com as crianças?).
É uma oportunidade para crescer emocionalmente e para os pais demonstrarem o seu apoio incondicional. Para ajudar a criança a lidar com emoções menos positivas, mas necessárias para crescer, preparando-a para uma vida cheia de coisas boas e más também. São eles a perda, o ciúme, traição, rejeição ou frustração.
O primeiro amor é um momento precioso para a criança reafirmar a sua autoestima, reforçando-se para conseguir lidar melhor com os sentimentos, sejam eles positivos ou negativos.
Compreender o primeiro amor é olhar para a nossa infância e ver o quão importante ele foi para nós e para o nosso crescimento.