O divórcio afecta a família de diferentes maneiras, sendo que para as crianças trata-se sempre de uma realidade nova, desconhecida, cheia de incertezas e medos.
Surgem perguntas como:
- Porque é que já não vivemos todos juntos?
- O que é que eu fiz de mal?
- A culpa é minha? Eu vou portar-me bem, eu prometo!
- O/A pai/mãe já não gosta de mim?
As crianças e o divórcio
Ouvir estas questões e pensar em como responder inquieta muitos pais. Muitas vezes, eles ainda não assimilaram bem as emoções que estão a sentir e necessitam de fazer o luto de um projecto de vida que terá que ser abandonado e, ao mesmo tempo, tomar decisões práticas relativas ao quotidiano dos filhos do casal.
No meio de toda esta confusão emocional, a maior preocupação de qualquer pai/mãe é minimizar o impacto do seu divórcio nos filhos. Assim sendo, importa primeiro assegurar que é possível uma criança manter uma relação próxima de afecto e carinho com ambos os pais, após o divórcio. Parece algo impossível, mas não o é, basta somente que os pais queiram e ajam em conformidade.
Em primeiro lugar, após a decisão tomada, é dever de ambos comunicarem aos filhos, mas não, sem antes acordarem em privado sobre o que lhe irão contar, escolher o momento e sem pressas, sentarem-se a seu lado. Nesta conversa, os pais terão que pôr de lado os seus sentimentos e focarem-se nas emoções e questões dos seus filhos. A eles não lhes interessa saber as razões, não lhes minta, mas não lhes explique mais do que é necessário. Não se pretende que os filhos ganhem ressentimentos a um dos pais. No final desta conversa, é impreterioso que os filhos saibam somente que os pais continuam a amá-los e que irão sempre estar por perto e disponíveis.
A criança deve também ser informada das mudanças que irão ocorrer no seu quotidiano (se é que elas existem) – quem a irá levar e buscar à escola, irá mudar de casa, onde e com quem passa o fim-de-semana, etc.
Quanto maior a tranquilidade e certeza dos pais relativamente a estas mudanças mais fácil também será a aceitação dos filhos. A criança não pode sentir que terá que se aliar a um dos pais por sentir-lhe mais frágil, pois a consequência imediata é estar contra o outro.
As mudanças comportamentais nos filhos após o divórcio dos pais são normais e é necessário estar atentos e notificar a escola desta mudança, para que também os professores fiquem vigilantes. Este momento frágil a que as crianças estão expostas pode levar os pais a tratá-los como mais um amigo, partilhando com elas sentimentos e situações desconfortáveis. Um pai/mãe é o pilar da relação, aquele que orienta, aconselha e limita a acção da criança, logo, ao trata-la como igual está a privá-la dessas orientações fundamentais em qualquer idade.
A/O mãe/pai, por vezes, volta-se excessivamente para as crianças, fazendo depender delas, das suas vontades e desejos, todas as decisões familiares, colocando de parte as suas emoções e necessidades como adultos.
Tendo em conta tudo o que tem sido elencado até aqui é também compreensível, que é importante ajustar estas indicações de acordo com a idade das crianças.
Até aos 3 anos as crianças não compreendem o que se passa entre o pai e a mãe, apesar de conseguirem copiar a sua ansiedade. Aquando de um divórcio nestas idades, é necessário ter em atenção que as crianças necessitam da presença de ambos e que é necessário fomentar a partilha de momentos de carinho como o banho, a alimentação e passeios, para que a criança possa construir a sua rede de afectos com ambos os pais.
Dos 3 aos 7 anos, a sua capacidade de compreensão aumenta exponencialmente, sendo que, algumas crianças somatizam dores de barriga e de cabeça, regridem no seu comportamento (p.e. deixam de controlar o esfíncter, quando já tinham adquirido essa capacidade) e fazem muitas birras. Aqui é necessário ter sempre em mente que a somatização é a forma que as crianças têm de focalizar a atenção em si mesmas, mostrando aos adultos que algo não está bem.
O papel dos pais passa pelo reassegurar de que estarão sempre com eles, que gostam muito deles e que fazem parte da sua nova vida (p.e. levar as crianças a conhecer a nova casa, dando-lhe a oportunidade de decorar o seu quarto). Nestas idades, é necessário ter uma atenção redobrada no que toca ao aparecimento de “lealdades” a um ou outro progenitor, sendo que os pais devem facilitar as comunicações com o progenitor ausente, para que os níveis de ansiedade regularizem e para que percebam que estar com um progenitor não implica não comunicar com o outro.
A partir dos 7 anos, até à adolescência é, por vezes, notável uma raiva dos pais por estes se terem divorciado, ou aliarem-se a um dos pais em detrimento do outro. Estas alianças são estabelecidas somente com o objectivo de benefício próprio, da criança, para p.e. fugir a regras de comportamento mais rígidas de um dos pais.
A partir dos 14 anos, o grupo de amigos começa a dominar a vida das crianças e os pais deixam de ser seu principal foco. Se não existir uma base sólida de partilha e convivência, estas novas actividades e solicitações dominam o seu quotidiano e rapidamente deixa de existir contacto e afecto.
Tendo presente o que foi aqui descrito, cabe aos pais ponderar qual a atitude mais sana a tomar em prol da convivência do seu filho com ambos os pais e claro entre estes últimos. Não é fácil colocar de lado ressentimentos e memórias dolorosas que possam existir, contudo, também não é saudável um filho assistir a uma guerra entre o pai e a mãe.
A continuidade da relação dos filhos com ambos os pais depende só destes últimos. Estes têm que, para além de, fazer todos os esforços para estarem presentes na vida dos filhos, permitir que a/o outra/o mãe/pai possa igualmente estar.
Este artigo, por desejo expresso da sua autora, não respeita o novo Acordo Ortográfico.