Não existem fórmulas mágicas na educação das crianças. Este é um processo contínuo que depende, acima de tudo, do conhecimento e das experiências dos progenitores, pelo que não devemos considerar correta ou não uma determinada forma de educar.
No entanto, há fundamentos que devem ser transversais às relações entre pais e filhos, como é o caso da capacidade de dizer “não” à criança.
Nos dias de hoje, é comum vermos crianças com um grande poder e influência sobre os pais. E porquê?
- Receio por parte dos pais de contribuírem para traumas psicológicos na criança;
- Receio por perderem amor dos filhos;
- Sentimentos de culpa, nomeadamente pela falta de tempo de qualidade passado com a famíla;
- Necessidade extrema de agradar os filhos;
- Antecipação dos problemas que advêm por contrariarem a criança (choro, birras, zangas, etc)
Impor limites significa respeito e a base para uma relação saudável
Este comportamento pode dar origem a um ciclo de permissão abusiva, contribuindo para o desenvolvimento de uma criança tirana, que não respeita o outro, e com uma baixa tolerância à frustração.
“Amar sem limites, não é amor. Estamos a criar uma dependência tóxica. As crianças que não aprendem limites, podem vir a tornar-se num adulto que aceitará e fará tudo numa relação porque não aprendeu que balizar o comportamento é prioritário, tendo em consideração a outra pessoa. Impor limites significa respeito e a base para uma comunicação e uma relação saudável”, explica a psicológica Rita Rendas.
Esta educação excessivamente permissiva, retira a criança a oportunidade de crescer com consciência e sensibilidade para com os pais, familiares e amigos e, até, situações do quotidiano, o que poderá originar grandes problemas no seu futuro.
O “não” não rouba afetos
Para a psicóloga, “a palavra «não» é um organizador psíquico. É fundamental a criança saber, desde cedo, até onde pode ir”, refere. “O «não» tem exatamente o mesmo número de letras que o «sim» e, no entanto, é muito difícil para muitos pais verbalizá-lo. Muitos associam a algo pejorativo, têm receio de que a criança deixe de gostar deles como gosta se eles a contrariarem. O «não» não rouba afeto, coloca balizas, que são fundamentais para regular o comportamento e as expectativas da criança, tornando-a mais resiliente e tolerante à frustração”.
Como dizer “não”?
Primeiro de tudo, nunca com violência. Os limites são impostos através do diálogo, através do qual se deve explicar o porquê da decisão, evitando ceder à vontade da criança cinco minutos após ter dito “não”.
Os pais devem ser consistentes e assertivos, tanto no “não”, como no “sim”. Desta forma, a criança aprende rapidamente a confiar em ambas as palavras e a saber o seu real significado, dando-lhe ferramentas para melhor acatar um “não”, por exemplo, em contexto escolar, sem a necessidade de insistir em transformar um “não” em “sim”.
Para um crescimento saudável, os pais têm o papel de validar os sentimentos da criança e tentar reorientá-la. Só desta forma é que os mais pequenos vão perceber que nem tudo corre na perfeição na vida, permitindo-lhe encontrar formas de gerir a frustração e de reagir, cada vez mais, de forma mais adaptada e saudável!