A comunicação e o diálogo são dois fatores fundamentais em qualquer relacionamento. Se, por um lado, uma boa comunicação favorece um ambiente harmonioso e tranquilo, por outro, a falta dela impacta negativamente as relações e a dinâmica familiar.
A influência da comunicação é uma das áreas de interesse de João Fernando Martins, psicólogo, e que deu origem, recentemente, ao seu novo livro “Aprenda a influenciar pessoas – torne-se mais persuasivo em 5 passos”.
João Fernando Martins aborda a importância de distinguir comunicação de manipulação, do apelo à genuinidade e da empatia e de como pode trazer benefícios na interação entre diferentes elementos de uma família.
De que forma a comunicação persuasiva pode ser benéfica para a família?
Para o psicólogo, a comunicação é “uma das bases de uma relação saudável entre indivíduos e consequentemente entre os elementos que compõem uma família”. O sistema familiar é aberto e, como tal, suscetível de entrada e saída de informação, experiências, vivências e crescimento dos seus elementos à medida que o contacto com o exterior vai acontecendo.
Como tal, uma comunicação eficaz pode, entre outros, “permitir uma maior ligação e compreensão das necessidades de cada elemento à medida que os desafios vão acontecendo nas suas vidas, desenvolvendo com isso uma relação mais próxima e consciente das partes que compõem esse mesmo sistema”, explica.
“A comunicação persuasiva é uma comunicação dinâmica e requer um ajuste entre cada momento em que se comunica e onde o sujeito tem consciência da necessidade desse mesmo ajuste.”
Adequar as estratégias comunicacionais a diferentes momentos, compreendendo quais são os mais adequados para abordar determinado assunto e qual a melhor maneira de o fazer, tendo em consideração as nossas próprias necessidades, mas também as necessidades e idiossincrasias do outro, pode ser um ponto importante a ter em conta e que pode trazer benefícios para a dinâmica familiar.
Os princípios-base de uma comunicação persuasiva
Segundo o psicólogo, o princípio base da comunicação persuasiva é que a mensagem passe com a maior eficácia possível. Com isso, e apesar de a sociedade se focar quase na totalidade na linguagem verbal quando falamos em comunicação, existe aqui uma necessidade de análise muito maior do que o foco apenas naquilo que falamos.
Um exemplo que pode elucidar esta questão podem ser variáveis, “como o momento em que a comunicação acontece, o espaço onde acontece, a linguagem não verbal que utilizamos e que observamos no outro, as influências externas do ambiente que os circunda (como, por exemplo, ruídos), mas também o feedback que vamos recebendo e que nos permite ir direcionando o conteúdo, adequando-o às motivações que cada um terá naquele momento em manter um processo comunicativo ativo”.
A comunicação persuasiva no futuro das crianças e jovens
Compreender o processo, o que está a acontecer e o que podemos melhorar no futuro nas nossas interações interpessoais é um caminho que trará muito mais benefícios do que insistir em processos comunicativos estáticos que trazem desconforto, incerteza e poucos resultados.
Tal como aprender a ler e a escrever, a nossa comunicação também se vai aprimorando à medida que envelhecemos. “Atualmente, já existe mais algum cuidado nesta área de ensino das nossas crianças e jovens, onde já se começam a ver alguns programas de competências socio-emocionais onde a comunicação é uma das áreas que está em grande destaque”.
Os principais erros dos pais na comunicação com os filhos
Uma parte importante da comunicação eficaz é a genuinidade. Aqui, o psicólogo refere que um dos primeiros erros cometidos pelos pais na comunicação familiar é a a sua pouca flexibilidade que, por vezes, demonstram quando falam com os filhos, pois, a comunicação para ser bem aplicada exige também criatividade.
Como tal, há que encontrar “tempo e disponibilidade para que essa parte criativa surja”. No entanto, o stress e as rotinas do dia-a-dia acabam por limitar bastante o tempo necessário para estes processos, “fazendo com que os pais, muitas vezes, repitam de forma quase mecânica aquilo que leem e ouvem na internet, esquecendo-se que essas informações e esses esforços comunicacionais devem ser adequados a uma pessoa única, com características únicas, que é o seu filho”, reforça João Fernando Martins.
Com isso, acabam por passar uma mensagem de pouca genuinidade, não sendo uma comunicação tão empática e individualizada como o pretendido.
Existem também alguns erros que são transversais, “como a concentração em críticas negativas no que a criança faz mal, descurando ou normalizando aquilo que ela faz bem”. Além disso, muitos pais escolhem também “momentos do dia difíceis para discutirem assuntos relevantes, horas marcadas por elevado stress e cansaço, que pode influenciar a transmissão e a aceitação da mensagem”.
“A capacidade de comunicar adequadamente é um ponto muito importante para o desenvolvimento das crianças e jovens. Para isso, a sua experiência de vida é importante, mas também terem conhecimento que lhe permita compreender e melhorar os seus próprios processos comunicativos”.
“Aprenda a influenciar pessoas – torne-se mais persuasivo em 5 passos” (2022, edições Manuscrito, Editorial Presença), do psicólogo João Fernando Martins, está disponível nas livrarias.