Quando éramos pequenos passávamos horas a brincar com pedrinhas, a fazer bolas com lama ou a tentar apanhar borboletas. O tempo parava quando brincávamos. Nada mais ocupava a nossa mente.
Estávamos, sem o sabermos, completa e naturalmente focados no momento. No Aqui e Agora. Todos os instantes eram mágicos e tudo era vivido intensamente. Isto porque os olhos das crianças não têm filtros, veem o que veem, sem preconceitos, histórias paralelas, sem ansiedades do que há de vir ou frustrações do que já passou. Ver através dos olhos das crianças é mágico.
À medida que vamos crescendo vamos toldando a visão numa sinestesia de sentidos que nem sempre nos traz alegria e serenidade.
Os nossos olhos de adultos tendem a perder esse encanto pueril tão necessário para aproveitarmos esta experiência bela e rica que é a vida.
Se recuarmos ao nosso tempo de meninice podemos resgatar alguma lições que por lá ficaram perdidas. Se formos ao baú das memórias podemos retirar dele tesouros que nos podem ajudar a viver de forma mais descontraída e realizada. Deixamos aqui 5 dessas preciosidades:
Olhe para as coisas como se fosse a primeira vez que as visse.
No dia a dia estamos tão acostumados às rotinas que parece que fazemos tudo mecanicamente, em piloto automático. Perdemos a capacidade de olhar verdadeiramente, de apreciar, podemos até atingir algum estado de cegueira.
As crianças olham para tudo como novo, extraordinário, e podemos imitá-las olhando para o mundo com igual espanto. Ao não catalogarmos ou criarmos preconceitos sobre as coisas, todo um novo mundo de possibilidades se abre à nossa frente.
Seja criativo
A imaginação é talvez a maior força dos homens. Bernardo Soares, um pseudónimo de Fernando Pessoa, dizia que só as coisas que sonhamos nos pertencem realmente, o resto, por estar concretizado, pertence ao mundo.
As crianças imaginam universos, criam cenários, inventam jogos. Porque não recuperarmos a criatividade que ao longo da idade vamos perdendo?
Comece por procurar um sítio calmo, aproveite os minutos antes de adormecer na cama (pode até guardar na mesinha de cabeceira um caderno para anotar ideias que surjam durante os sonhos) ou tome um banho relaxado, por exemplo, e permita à sua mente comunicar-lhe as ideias que por lá fervilham. Dê asas à sua criatividade adormecida.
Brinque muito
Se tem filhos, é fácil, eles convidam-no para as brincadeiras; se não tem, brinque com os seus amigos ou familiares. Contem anedotas, combinem serões de jogos em casa, aproveitem as festas populares para andarem de carrossel, desfrutem do prazer de rirem juntos.
Se tem um parceiro ou parceira, invistam no riso, na diversão, nas cócegas e nas brincadeiras juntos. E, sobretudo, brinque muito sozinho, nunca perca a capacidade de rir de si próprio, das coisas boas e das coisas menos boas que lhe acontecem.
Festeje a vida, brinde a cada novo dia! Brincar faz bem à saúde física e mental, traz boa-disposição e alegria aos dias.
Fale com estranhos
Bom, não precisa de desatar a falar com toda a gente mas não perca a capacidade de se relacionar com pessoas novas.
Repare na facilidade com que uma criança aborda outra no parque de diversões, num restaurante, num banco de jardim. Há uns minutos não se conheciam e agora já são amigas.
À medida que crescemos perdemos esta habilidade de comunicar com as pessoas que estão à nossa volta e podemos até cair numa sensação de vazio ou solidão. Reaprenda a socializar e dê oportunidade a novas amizades, tal como fazem as crianças.
Perdoe e faça as pazes
Já viu como as crianças reagem a um problema? A mãe e o pai chateiam-se com ela porque não fez os TPC ou porque virou um sumo no sofá… o que faz a criança mesmo depois de os pais lhe terem ralhado ou até posto de castigo?
Vêm a correr de braços abertos empoleirar-se no pescoço do pai ou da mãe a dar um beijinho e a dizer: “Amo-te muito”.
Claro que há muitos motivos que nos podem levar a ficar aborrecidos ou irritados com alguém mas saibamos avaliar cada situação e perceber se não é o nosso orgulho que está a falar mais alto para não fazermos as pazes e seguirmos em frente.
Aprendamos com as crianças a dar o primeiro passo para nos conciliarmos com alguém, para dar um abraço e para manifestarmos o verdadeiro sentimento por detrás, como um sincero “Eu amo-te”.
Curioso que parece que passamos o tempo a tentar explicar aos nossos filhos como o mundo é, como as coisas funcionam e que cuidados devem ter. Quando, se calhar, devíamos guardar algum desse tempo para pararmos e olharmos para os nossos filhos e para o que nos estão a ensinar sobre o mundo. Sobre a importância das coisas, sobre os sentimentos, sobre a essência da vida.
Que tal descansarmos um pouco os nossos olhos de crescidos e voltarmos à espontaneidade e clareza de ver o mundo à nossa volta como um milagre?