Muitas crianças já dominam a tecnologia e utilizam os telemóveis de forma inata. Há crianças que começam a utilizar estes aparelhos logos nos primeiros anos de vida. É comum vermos os mais pequenos agarrados aos telemóveis a ver vídeos no Youtube, a jogar e até a aceder às redes sociais.
Um recente estudo demonstrou que 95% das crianças portuguesas com 10 ou mais anos já têm o seu próprio smartphone e 34% abaixo dessa idade também já receberam um telemóvel.
Estes dados são um alerta e os especialistas avisam que pode ter consequências no desenvolvimento cerebral e nas competências sociais.
João Nuno Faria, em declarações à CNN Portugal, refere que “Antes dos 10 anos não existe necessidade de ter um smartphone”. E se o objetivo passar por jogos ou visualizar vídeos, “a criança pode aceder habitualmente ao dispositivo de uma figura parental, com mediação”.
Para Catarina Lucas, psicóloga, os 10 anos são uma boa ideia para receber o primeiro telemóvel. É nesta altura que as crianças entram no segundo ciclo e os telemóveis facilitam o contacto com os pais. Além disso, já há uma maior perceção sobre os “perigos no uso do telemóvel”.
Mas porque razão os telemóveis são dados às crianças numa fase tão precoce? São, muitas vezes, uma ferramenta para entreter os miúdos. Quantas vezes não chegou a casa cansado depois de um dia de trabalho e precisou de uns minutos em silêncio e sozinho? É fácil perceber aqui o papel dos telemóveis no dia-a-dia da nossa sociedade.
As consequências
João Nuno Faria destaca a luz azul emitida pelos dispositivos eletrónicos que “interfere com o processo de sono porque adia a libertação da melatonina” e o facto dos smartphones estimularem a criação de um mundo à parte, em que os mais pequenos ficam alheios do que se passa à sua volta e acabam por não interagir com família ou colegas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a exposição de crianças a ecrãs portáteis antes de um ano, um ano e meio. Especialistas vão mais longe e defendem que não deve haver contacto com telemóveis, tablets ou computadores nos três primeiros anos de vida.
As recomendações para uso do telémovel pelas crianças
Até 1 ano e meio
Como ainda não há dados suficientes sobre o impacto dos telemóveis no desenvolvimento cerebral das crianças, até um ano, um ano e meio não deve haver contacto com estes aparelhos.
2 – 5 anos
Nesta idade, as crianças podem contactar com ecrãs portáteis com supervisão de adultos. Não devem passar mais de uma hora com os aparelhos, sendo que o ideal é que seja inferior a esse período. Nesta altura, é recomendado que as crianças tenham alguma atividade para gastar energia – física e mental.
5 – 10 anos
Nesta fase, as crianças já podem mexer em ecrãs com mais regularidade, embora a recomendação continue a ser para que não se exceda uma hora de utilização – sempre com supervisão. A OMS recomenda que os conteúdos sejam variados, ou seja que a criança não jogue sempre o mesmo ou jogo ou veja sempre os mesmos vídeos e da mesma fonte. Aqui, a atividade física e a interação com outras crianças é fundamental para o crescimento saudável do seu filho.
10 – 12 anos
Aos 10 anos, já é comum as crianças terem um smartphone próprio. Apesar de já terem mais autonomia e capacidade de perceber os perigos da internet, deve continuar a existir supervisão parental. João Nuno Faria explica que é importante estabelecer um “contrato de confiança” entre pais e filhos que, muitas vezes, é difícil de alcançar e, claro, algumas regras como, por exemplo, não utilizar durante as refeições (e aqui os pais devem dar o exemplo) ou nos períodos dedicados ao estudo e trabalhos de casa. Lembre-se que o telemóvel deve ser desligado antes de a criança ir dormir.
O equilíbrio é a palavra-chave
Estamos todos conscientes que as crianças já nascem num mundo altamente tecnológico e que é difícil combater a exposição aos dispositivos digitais. Por isso, o segredo é encontrar um equilíbrio. Deve haver uma introdução à tecnologia de forma consciente e com regras para que não evolua para uma dependência e adição no futuro.
No que diz respeito a redes sociais, dê preferências a plataformas direcionadas a crianças, como o Youtube Kids, e não permita que a criança se isole, por exemplo, com auscultadores.