O tempo e atenção que as mães dedicam aos filhos, afeta as competências cognitivas da criança? Esta é uma questão com a qual muitos pais se debatem há muito tempo considerando as suas responsabilidades profissionais e a necessidade de deixarem os filhos na creche desde bebés.
Quanto tempo devem os pais passar com os seus filhos ao longo do seu crescimento? Como conciliar a intensa vida profissional e demais responsabilidades sociais, com o tempo que se sabe ser necessário dedicar às crianças para que sejam devidamente estimuladas e acompanhadas numa fase tão crucial como os primeiros anos de vida?
Novo estudo sugere que a resposta é – pelo menos para as mães – que devem passar o máximo de tempo possível com os seus filhos durante a primeira infância.
O estudo, levado a cabo por académicos da University of Essex e da University College London, publicado em dezembo de 2016 numa edição do Economic Journal, concluiu que as competências cognitivas e sociais da criança são consideravelmente melhoradas quando as crianças, entre os 3 e os 7 anos, passam mais tempo com as mães.
“O tempo que as mães dedicam aos seu filhos tem uma influência notável no desenvolvimento precoce da criança”. Professor Marco Francesconi
Este estudo, também refere que os filhos primogénitos tendem a beneficiar mais da atenção parental do que os filhos que se seguem.
Este é o primeiro estudo do seu tipo realizado no Reino Unido – e um dos primeiros do mundo – que se dedicou a examinar a relação direta entra o tempo que as mães passam com os seus filhos e as competências que as crianças desenvolvem. Na sua base, está um estudo representativo de bebés ingleses nascidos entre setembro de 2000 e janeiro de 2002.
A pesquisa, que analisa dados de mais de 8.000 crianças e a relação com as suas mães, descobriu o efeito positivo da presença das mães no desenvolvimento dos filhos.
O nível de escolaridade das mães e a qualidade do estímulo
Também foi visível a vantagem das crianças cuja mãe tem um diploma universitário, em comparação com mães que não têm qualificações académicas.
“Os nossos resultados enfatizam que o tempo que as mães passam com os seus filhos tem uma influência notável no desenvolvimento durante a primeira infância“, afirmou um dos co-autores da pesquisa, Professor Marco Francesconi.
Os investigadores também descobriram que o nível de educação da mãe afeta o desenvolvimento da criança, ao condicionar o tipo de atividades que desenvolvem em conjunto com os seus filhos.
Sabe-se que o tempo despendido em atividades como a leitura, entre os 3 e os 5 anos, leva a um aumento das competências verbais aos 7 anos de idade. Os autores deste estudo sugerem que as mães com mais qualificações académicas se dedicam mais a esta atividade, em comparação com as mães com menor grau de escolaridade.
Os autores reconhecem que o seu estudo não examina o papel desempenhado pelos pais. Isto deve-se ao facto de eles não responderem às questões do estudo representativo, que serve de base à nova pesquisa.
Da mesma forma, as conclusões sugerem que o apoio e a realização de atividades em conjunto, por mães e filhos, no início da infância não pode ser substituído por programas estatais que substituam as mães para que estas possam trabalhar fora de casa.
A primeira infância é o nome dado aos primeiros anos de vida, em particular, os primeiros 5 anos, e que são marcados por intensos processos de desenvolvimento. É uma fase determinante para a capacidade cognitiva e sociabilidade do ser humano, porque o cérebro absorve todas as informações, as respostas são rápidas e duradouras.
…Neste período de intensa aprendizagem, surgem muitas ligações novas entre neurónios no cérebro do bebé. Imediatamente antes e depois do parto, as sinapses criadas a cada segundo podem ascender a 40 mil. [1]
…O cérebro de um bebé atinge 70 por cento do tamanho adulto no primeiro aniversário e 8 por cento do tamanho do adulto no segundo aniversário. Embora pequena parte do crescimento se deva à criação de novos neurónios, a maioria deve-se à formação de novas ligações. [1]
[1] Bem-vindo ao Cérebro do seu Filho – Como a mente se desenvolve da conceção à universidade, Sandra Aamodt e Sam Wang, edição Pergaminho, 2011