A hérnia umbilical pode aparecer tanto em crianças como em adultos e, de um modo geral, costuma ser inofensiva. No entanto, podem ocorrer algumas complicações pelo que, como diz o velho ditado popular, “mais vale prevenir do que remediar” e estar atento à sua evolução.
Hérnia Umbilical
O que é?
As hérnias umbilicais localizam-se numa zona de fraqueza da parede abdominal do umbigo, fazendo com que uma parte do intestino se projete, através de uma abertura nos músculos abdominais, no umbigo, ou seja, o umbigo ganha uma maior saliência.
A maioria deste tipo de hérnias cicatrizam no decorrer do primeiro ano de vida, apesar de poderem demorar mais tempo. Quando tal não acontece até aos três anos da criança, a cirurgia deve ser uma opção a ser considerada.
“Na infância, a hérnia umbilical torna-se mais visível durante o choro”, pois a saliência fica mais exposta com o esforço do bebé, explicam alguns especialistas da rede hospitalar CUF.
Uma vez que a sua existência se deve, como vimos anteriormente, às características da parede abdominal que rodeia a cicatriz umbilical, não existem quaisquer medidas preventivas que se possam tomar para evitar este problema.
Por que é que, na maioria dos casos, a hérnia umbilical regride espontaneamente com o passar do tempo?
De acordo com alguns estudos, além das características individuais, parece haver uma relação direta entre o diâmetro do anel herniário aos três meses de idade e o seu fecho espontâneo definitivo.
Investigações cuja população objeto de estudo foram crianças de raça africana, verificaram que, se o diâmetro do anel herniário for inferior a 0,5 cm, o encerramento da hérnia ocorre em 96% dos casos, mas, se for superior a 1,5 cm, é provável esse encerramento espontâneo não aconteça.
Frequência da sua ocorrência na primeira infância
As hérnias umbilicais são mais frequentes em recém-nascidos pré-termo e de baixo peso (peso ao nascimento inferior a 2500 gr).
Estima-se que um em cada 10 crianças tenham uma hérnia umbilical.
Segundo informação publicada pela CUF, as hérnias umbilicais afetam de igual forma ambos os géneros, ainda que alguns estudos atestem a existência de uma maior prevalência no sexo feminino.
Causas
Durante a gravidez, o cordão umbilical, que liga a placenta ao bebé, passa por entre uma abertura dos músculos abdominais, que, de um modo geral, encerra logo após o nascimento. Contudo, se os músculos do abdómen não se unirem totalmente, surge uma zona de fraqueza na qual se pode formar, no momento do nascimento ou mais tarde, a hérnia umbilical.
Diagnóstico da hérnia umbilical
O seu diagnóstico é essencialmente clínico. Realizado através de uma investigação do historial clínico e de um exame físico (observação e palpação do abdómen e umbigo). Em suma, o diagnóstico é feito através da observação do aumento de volume em redor do umbigo, que se agrava quando a criança faz esforços (chora, tosse, defeca, etc.).
Além da apalpação, o médico assistente pode solicitar a realização de exames de diagnóstico complementares (radiografia simples, ecografia, tomografia axial computorizada – TAC- ou colheita sanguínea) para analisar mais ao pormenor as características da hérnia e até para verificar se o intestino encarcerado está viável, ou seja, se não existe morte do tecido ali “agrupado”, como veremos de seguida.
Riscos que comporta para a saúde do bebé
A maioria das hérnias umbilicais são assintomáticas, não tendo quaisquer riscos para a criança. Muito raramente podem surgir complicações, como o encarceramento (incapacidade de redução da tumefação/inchaço) ou estrangulamento da hérnia. Nesses casos, devido à falta de irrigação sanguínea da parte do intestino que está encarcerada na hérnia, pode ocorrer uma necrose (morte do tecido), que, por sua vez, poderá desencadear um processo inflamatório da cavidade abdominal. Esta inflamação, designada de peritonite, pode ser bastante grave e potencialmente fatal, necessitando, portanto, de intervenção médica imediata.
Os sintomas de um encarceramento ou estrangulamento da hérnia são:
- febre;
- dor abdominal intensa;
- náuseas e vómitos;
- obstipação;
- aspeto tóxico, apresentando uma vermelhidão ou tom azulado;
- saliência dolorosa no umbigo.
Cuidados necessários
Os cuidados a ter quando o bebé tem uma hérnia umbilical concentram-se em apenas duas palavras-chave: aguardar e vigiar.
Apesar de se verificar recorrentemente a prática de enfaixar os bebés com ligaduras à volta do umbigo, isso não irá alterar ou acelerar o processo de cicatrização da hérnia – muito pelo contrário, pode provocar problemas de digestão e desconforto na criança. Assim sendo, esta prática assenta mais numa crença do que num procedimento com evidências científicas comprovadas.
Tratamentos possíveis
Se a hérnia umbilical não regredir até aos 3/4 anos de idade, a criança deve ser referenciada a um cirurgião pediátrico para correção cirúrgica.
Apesar do tema ser controverso, alguns especialistas recomendam que as hérnias umbilicais com mais de 1,5 cm aos dois anos de idade sejam intervencionadas, dada a pequeníssima probabilidade de regredirem espontaneamente.
Após os 3/4 anos de idade, a maioria das hérnias têm indicação para correção cirúrgica com anestesia geral.
De forma geral, devem ser intervencionadas cirurgicamente todas as hérnias com as seguintes características:
- Hérnia dolorosa;
- Diâmetro maior que 1,5 cm;
- Ocorrência de encarceramento ou estrangulamento.
Como é realizada a cirurgia de uma hérnia umbilical?
“A cirurgia visa o encerramento da zona de fraqueza da parede muscular. Após a anestesia, a operação é feita de forma a recolocar o conteúdo da hérnia dentro do abdómen, encerrando-se o orifício com pontos. Em alguns casos, reforça-se a zona de fraqueza com uma prótese. A cicatriz que resulta após a cirurgia, depende da extensão da zona de fraqueza e da técnica cirúrgica utilizada.
Na atualidade, a intervenção por laparoscopia, realizada através da utilização de instrumentos cirúrgicos acoplados a uma câmara de filmar, permite em alguns casos realizar a operação de uma forma minimamente invasiva, através de pequenas incisões, reduzindo os riscos e as complicações.
A cirurgia é rápida e de baixo risco, exigindo um internamento de poucas horas e o doente pode reiniciar alimentação imediatamente. Durante uma semana deve evitar realizar atividade física.”
Prof. Dr. Silvestre Carneiro, cirurgião geral in Clínica Saúde Bem Estar
Quando a hérnia umbilical se torna uma emergência médica
É raro que este tipo de hérnias sejam motivo de emergências médicas, mas no caso de ficar encarcerada ou estrangulada existe indicação para cirurgia de urgência.