A palavra “feto” só é utilizada para a espécie humana: trata-se do nome dado ao embrião a partir de uma data arbitrária (o terceiro mês da gravidez), enquanto, para as espécies animais, considera-se que o embrião continua a ser um embrião desde a fecundação até ao nascimento. Ora, não há qualquer tipo de fenómeno biológico que legitime esta alteração de denominação. De facto, a vida do embrião não é dividida em dois períodos distintos.
A que se deve, então, esta mudança repentina do nome? É possível que a causa seja uma consideração religiosa. De facto, São Tomás de Aquino considerava que a animação, ou seja, a chegada da alma ao corpo, ocorria por volta do quadragésimo dia (o que deve corresponder, grosseiramente, ao início do nosso terceiro mês de gravidez, assinado a partir da fecundação). É provável que tenha sido dado um valor suficiente a esta data para que o estatuto da criança a nascer fosse transformado ao ponto da sua denominação também sofrer alterações.
Esta transformação do estatuto do embrião que remonta, indubitavelmente, à época medieval, teve uma influência tão grande que, ainda hoje, é utilizada até na investigação médica que estabelece a distinção entre “embriologia” e “fetologia”.
Também está presente na patologia uma vez que se fala de “embriotapia” (doença do embrião) até ao fim do terceiro mês, depois, depois de “fetopatia”, que, ademais, pode ser o resultado de uma embriopatia.
Fonte: O Livro da Medicina – O Dicionário da Medicina de Hoje, direção de Michel Serres e Nayla Farouki. Edição Instituto Piaget, 2004, Coleção Medicina e Saúde, sob a direção de António Oliveira Cruz, pág 247