Terra de reis, princesas, mouras encantadas e castelos amaldiçoados, Portugal é rico em histórias e lendas que perduram no tempo. Aqui ficam 5 lendas de Portugal para aguçar a imaginação dos mais pequenos.
Lenda da Lagoa das Sete Cidades
Conta-se que há muitos, muitos anos, no lugar onde se situa a freguesia das Sete Cidades, existiu um grande reino. Nele viveu uma princesa de olhos azuis, muito bela e bondosa, de seu nome Antília.
A princesa gostava muito da vida campestre e de passear pelos campos, apreciando tudo o que a natureza tem de bom.
Um dia, durante um dos seus passeios, a jovem princesa passou por um prado onde pastava um rebanho. Ali perto, tomando conta do rebanho, estava um simpático pastor de olhos verdes, com quem a princesa decidiu conversar.
Daí em diante passaram a encontrar-se todos os dias para conversar. O tempo foi passando e os dois jovens tornaram-se cada vez mais próximos e apaixonados.
Quem não gostou de saber que a princesa e o pastor se andavam a encontrar foi o rei. Ele queria que a sua filha casasse com um príncipe de um dos reinos vizinhos e, por isso, proibiu-a de voltar a ver o pastor.
A princesa acabou por aceitar a cruel decisão do pai, mas pediu-lhe que a deixasse encontrar-se mais uma vez com o pastor para se despedir. Um pedido que o rei aceitou.
Encontraram-se pela última vez nos campos verdes onde se tinham conhecido. Falaram, como de costume, sobre o seu amor e também da separação imposta pelo Rei. E choraram. Choraram muito. Tanto que junto aos seus pés aos poucos foram crescendo duas lagoas. Uma delas, com águas de cor azul, nasceu das lágrimas derramadas pelos olhos azuis da princesa. A outra, de cor verde, nasceu das lágrimas derramadas dos olhos verdes do pastor.
Se os dois apaixonados não puderam viver juntos para sempre, pelo menos as lagoas nascidas das suas lágrimas ficaram juntas para sempre e jamais se separaram.
Lenda do Galo de Barcelos
A lenda do Galo de Barcelos é talvez uma das lendas de Portugal mais conhecidas. Reza a lenda que os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, cujo responsável ainda não tinha sido descoberto. Até que um certo dia, um peregrino galego apareceu na cidade e tornou-se suspeito.
Apesar de jurar inocência, dizendo que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, as autoridades resolveram prendê-lo.
O peregrino foi preso e condenado à forca. Como última vontade, pediu que o levassem até ao juiz que o tinha condenado. Quando chegaram à residência do magistrado, o juiz estava a deliciar-se com alguns amigos com um grande banquete.
O peregrino voltou a afirmar a sua inocência e suplicou para não ser enforcado. Perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa, e exclamou: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem”.
Gargalhadas e risos não se fizeram esperar, mas pelo sim e pelo não, ninguém comeu o galo. Até que o que parecia impossível aconteceu. Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo ergueu-se na mesa e cantou! Afinal, o homem estava mesmo inocente!
O juiz correu para a forca e quando lá chegou, ficou atónito com o que viu. O galego estava vivo, com uma corda lassa à volta do pescoço. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz. Anos mais tarde voltou a Barcelos e ergueu o Monumento do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a Santiago Maior.
Lenda da Torre da Princesa
Há muito, muito tempo, a cidade de Bragança foi a aldeia da Benquerença. Nessa altura, vivia no castelo uma princesa órfã com o seu tio.
A princesa apaixonou-se por um nobre e valente cavaleiro que também gostava muito dela. No entanto, o rapaz era pobre e sabia que nessas condições não podia aspirar a casar com a princesa. Decidiu, então, partir em busca de fortuna, prometendo-lhe voltar só quando se sentisse digno de a pedir em casamento.
Durante muitos anos a princesa esperou o seu apaixonado e recusou todas as propostas de casamento que iam aparecendo. Farto desta situação, o tio da jovem resolveu forçá-la a casar-se com um nobre cavaleiro seu amigo.
Quando a princesa conheceu o cavaleiro, disse-lhe que o seu coração pertencia a outro que havia de voltar um dia. O tio, mais furioso do que nunca com o sucedido, resolveu vingar-se.
Assim, durante a noite, mascarou-se de fantasma e entrou por uma das duas portas do quarto da princesa. Uma vez lá dentro, disse-lhe que esta seria condenada para sempre se não aceitasse casar com o cavaleiro.
A princesa, aterrorizada, estava quase a prometer ao fantasma que casaria com o amigo do tio… Mas eis que a outra porta do quarto se abriu e um raio de sol entrou pelo quarto desmascarando o seu tio.
Desde então, a princesa nunca mais foi obrigada a quebrar a sua promessa e ficou sempre a morar naquela torre, que até hoje é conhecida pela Torre da Princesa. Já as duas portas dos seus aposentos ficaram conhecidas pela Porta da Traição e Porta do Sol.
Lenda das Amendoeiras em Flor
Há muitos séculos, quando ainda Portugal não existia, reinava em Chelb, a futura Silves, o rei árabe Ibn-Almundim. Um rei que nunca tinha conhecido uma derrota.
Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu uma bela jovem de olhos azuis e cabelos e pele clara. Era Gilda, a Princesa do Norte.
Impressionado com a rapariga, o rei mouro deu-lhe a liberdade. Aos poucos foi conquistando a sua confiança e um dia confessou-lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua mulher.
Foram muito felizes mas a agora rainha, à medida que os anos passavam, ficava cada vez mais triste e melancólica… Um tempo mais tarde, o rei conseguiu finalmente que Gilda lhe confessasse o motivo da sua tristeza. A bela Princesa do Norte sentia saudades de ver os campos da sua terra natal cobertos de neve. Já não podia olhar para aquele branco sem fim e isso deixava-a triste.
Receoso por perder a amada, o rei teve uma ideia: ordenou para que em todo o Algarve se plantassem amendoeiras. Desta forma, quando abrissem em flor, pareceria que tinha nevado.
Na primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo. Ao ver as flores brancas das amendoeiras, a princesa começou a sentir-se melhor e a recuperar forças. Aquela visão indiscritível das flores brancas davam-lhe a ilusão da neve e as saudades de Gilda desapareceram.
O rei e a princesa viveram felizes para sempre, esperando todas as primaveras, pelo belíssimo espetáculo das amendoeiras em flor.
Lenda da Sopa da Pedra
Reza a lenda que um frade pobre e faminto, que andava em peregrinação, chegou a Almeirim. Com o estômago a dar horas, bateu à porta da casa de uns aldeões. Porém, por ser demasiado orgulhoso para pedir uma refeição, pediu aos donos da casa que lhe emprestassem uma panela para preparar uma sopa deliciosa só com uma pedra.
Os que o recebiam, ansiosos por perceber como é que isso era possível, acederam ao seu pedido. O frade apanhou uma pedra do chão, sacudiu-a e entrou na casa.
O frade colocou a panela ao lume só com a pedra e um pouco de água. Questionado pela dona da casa sobre se não precisaria de mais alguma coisa, respondeu que era preciso temperar a sopa… A mulher deu-lhe o sal, mas ele sugeriu que para ficar melhor, devia levar um fiozinho de azeite.
Depois pediu um pouco de toucinho, batatas, feijão, carne, enchidos, uns temperos… E por aí fora, até a panela estar cheia de coisas boas e a sopa cheirar cada vez melhor.
Quando o frade acabou de a confecionar, comeu-a. No fundo da panela, ficou apenas a pedra. A gente da casa que viu o frade confecionar a sopa perguntou-lhe por que ficara ali a pedra. A isto, o clérigo respondeu prontamente: “A pedra, agora lavo-a e levo-a comigo para outra vez”.
E assim nasceu a lenda de uma das mais famosas especialidades de Almeirim!