J.R. Storment, o pai que perdeu o filho repentinamente, quando aquele tinha oito anos de idade, deixa uma mensagem clara: “Abrace os seus filhos. Não trabalhe até muito tarde”.
Juntamente com esta mensagem foram partilhados excertos retirados da letra da música “Enjoy yourself (It’s later than you think) ” pelo pai em luto. Estes desabafos e recomendações foram publicados por J.R. na sua conta de LinkedIn, numa comovente mensagem sobre a perda do filho.
Com efeito, o J.R. admite, no seu doloroso e emotivo relato, que passava demasiado tempo dedicado ao trabalho e não o suficiente com a família. A sua mensagem tornou-se viral.
O telefonema com a notícia da morte súbita do filho
De facto, naquela manhã J.R. tinha saído para o trabalho bastante cedo e sem se despedir dos filhos. Mais, minutos antes de receber a trágica notícia, tinha dito, ao grupo com quem se encontrava em reunião, que não tinha tido uma semana de férias seguida nos últimos oito anos.
A notícia foi dada através de um telefonema da mulher de J.R., Jessica, e foi curta e gélida: “J.R., o Wiley está morto”. “O Wiley morreu”, reiterou perante a incredulidade do marido.
O resto foi a dolorosa espera que os serviços de urgência médica e policiais o deixassem ver o filho. Depois ver o corpo morto do filho ser transportado para fora de casa numa carrinha preta. E a realidade de continuarem a vida sem Wiley.
A epilepsia “benigna” de Wiley
Ao que parece, Wiley terá morrido durante o seu sono de morte súbita inesperada em epilepsia (SUDEP, acrónimo de Sudden Unexpected Death in Epilepsy). Wiley tinha sido diagnosticado com uma forma de epilepsia conhecida como epilepsia rolândica ou benigna. Segundo o site Educare, as crises surgem tipicamente em crianças com um desenvolvimento normal, manifestando-se durante o sono ou ao acordar. As crises têm origem na área cerebral designada rolândica (daí o nome da epilepsia). O prognóstico é excelente, mesmo sem tratamento. A epilepsia rolândica tende a desaparecer durante a adolescência.
J.R. explicou no seu relato que em termos estatísticos seria muito improvável que a epilepsia rolândica causasse a morte do filho. “Uma em 4.500 crianças com epilepsia são afetadas. Às vezes acabamos nós por ser a estatística”.
Uma infância cheia de planos de futuro
Um dos momentos mais difíceis que J.R. diz ter experienciado foi o preenchimento da Certidão de Óbito do filho.
Aos cinco anos de idade, o menino tinha decidido que iria casar quando fosse adulto. Aos seis anos já tinha escolhido com quem: uma menina a quem tinha dado a mão no primeiro dia no infantário. Wiley tinha igualmente decidido que um dia iria fundar a sua própria empresa.
A Certidão de Óbito (nos EUA) pedia que se preenchesse dois campos: “ocupação” e “estado civil”. Foi muito doloroso para J.R. ter que preencher esses dois campos com “nunca trabalhou” e “nunca casou”. Segundo o pai isto deve-se ao facto de o filho ter querido tanto fazer ambas as coisas. Contudo, J.R. diz ter-se sentido simultaneamente afortunado e culpado na sua contribuição para o sucesso de ambos os projetos.
A vida da família sem Wiley
O relato continua com J.R. a mencionar que três semanas após a morte do filho se deparava com uma série de arrependimentos. J.R. divide-os em duas categorias: “coisas que gostaria de ter feito de forma diferente e coisas que me entristecem por não o ver fazer”.
Neste contexto, J.R. relembra a letra de “Enjoy yourself (It’s later than you think)”.
“You work and work for years and years, you’re always on the go
You never take a minute off, too busy makin’ dough
Someday, you say, you’ll have your fun, when you’re a millionaire
Imagine all the fun you’ll have in your old rockin’ chair
Enjoy yourself, it’s later than you think
Enjoy yourself, while you’re still in the pink
The years go by, as quickly as a wink
Enjoy yourself, enjoy yourself, it’s later than you think”
(Trabalhas e trabalhas durante anos e anos, estás sempre a bulir/ Nunca tiras um minuto de folga, demasiado ocupado a produzir massa de pão/ Um dia, dizes, vais divertir-te, quando fores milionário/ Imagina como te divertirás na tua velha cadeira de baloiço/ Aproveita agora, é mais tarde do que pensas/ Aproveita agora, enquanto estás jovem/ Os anos passam, tão rápido como um piscar de olhos/ Aproveita agora, aproveita agora, é mais tarde do que pensas”)
Por isso, J.R. aconselha todos os pais a não perderem demasiado tempo com o trabalho e a passarem mais tempo com os filhos.
“Abrace os seus filhos. Não trabalhe até muito tarde”
“Abrace os seus filhos. Não trabalhe até muito tarde. Irá provavelmente arrepender-se de muitas das coisas nas quais provavelmente passará o seu tempo nos dias de hoje, quando já não tiver tempo. Suponho que tenha na agenda reuniões individuais com muitas pessoas com quem trabalha. Tem-nas regularmente agendadas com os seus filhos?”, questiona.
“Se há uma lição que se pode tirar disto, é de lembrar os outros (e a mim próprio) para não se esquecerem das coisas que são importantes”.