A vacina contra o vírus Zika, que protege as futuras-mamãs tem de ser administrada numa dose superior na gravidez para garantir proteção aos seus bebés, concluiu nova investigação norte-americana.
Uma equipa de cientistas do Departamento Médico da Universidade do Texas, em Galveston, nos EUA, descobriu, através de testes laboratoriais em ratinhos, que uma única e superior dose da vacina contra o vírus Zika, transmitido através da picada do mosquito Aedes aegypti, protege tanto a mãe quanto o bebé. Pelo contrário, se a dose for menor não chega a proteger o bebé, avançam os investigadores.
“A prevenção de defeitos congénitos no desenvolvimento dos fetos é o principal propósito da vacina”, explica o autor sénior Pei-Yong Shi à revista científica ScienceDaily.
No entanto, devido à grande lacuna nas investigações sobre vacinas na gravidez, foram levantadas “uma série de questões importantes e críticas para o desenvolvimento clínico e a aprovação reguladora das vacinas contra o Zika”, continua.
O professor do departamento de bioquímica e biologia molecular do I. H. Kempner diz quais as principais dúvidas:
“A vacinação durante a gravidez protege contra infeções e transmissão ao feto?
A gravidez afeta as respostas imunes à vacinação?
A imunidade materna da vacinação na gestação protege os recém-nascidos contra a infeção?”.
O autor e a equipa de cientistas que desempenha funções no seu laboratório desenvolveram a vacina contra o Zika e continuam a fazer estudos para aumentar a sua eficácia.
Além desta vacina, de toma única, proteger tanto a mãe como o feto, Pei-Yong Shi declarou que foi possível obter outras conclusões igualmente importantes, tais como:
- A vacina tem um ótimo perfil de segurança nas ratinhas grávidas e nos seus fetos. Tal foi visível devido à falta de efeitos secundários ou adversos no decorrer da gestação, no desenvolvimento fetal ou no comportamento infantil.
- A gravidez enfraquece a resposta imune da mãe à vacinação, sugerindo que é necessária uma dose mais elevada da vacina ou uma vacina mais imunogénica.
Estes resultados provam, por fim, que a vacina pode ser uma mais-valia quer para as gestantes quer para as não-gestantes.
O vírus Zika teve uma grande cobertura mediática em 2015 quando uma epidemia emergiu na América Latina e atingiu de forma exponencial o Brasil.
Com origem em África, especula-se que o mosquito e consequente vírus tenha sido transportado para o Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, através dos milhares de turistas que o país recebeu.
Rapidamente se espalhou por toda a América Latina. Pouco tempo depois, surgiram vários casos de bebés nascidos com microcefalia congénita.
Foram levadas a cabo diversas investigações para se verificar uma possível relação causa-efeito entre o facto de a mãe ter contraído o vírus e o bebé nascer com esta problema (um cérebro bastante mais pequeno do que o normal).
Alguns meses depois descobriu-se que, de facto, as mulheres grávidas (ou a maioria delas) que tinham sido picadas pelo mosquito durante a gravidez tinham dado à luz bebés com microcefalia.
Tendo em conta que os sintomas, quando manifestados – cerca de 80% dos indivíduos eram assintomáticos -, são comuns a muitas outras condições ou patologias (dores de cabeça leves, febre baixa, mal estar, dores leves nas articulações, conjuntivite, comichão, entre outros), nem sempre as mulheres se apercebiam que tinham contraído o vírus. Logo, a prevenção começou já tarde, quando o “bicho” já se tinha instalado no país.