Nas conversas de família, surgem quase sempre conselhos dos elementos mais velhos em relação à educação e apoio que é necessário para um desenvolvimento saudável do seu elemento mais novo.
É perfeitamente normal que isto aconteça, uma vez que estamos a falar muitas vezes de familiares próximos, como os avós, que se preocupam com o bem-estar do seu neto e que este seja o mais feliz possível, partilhando um pouco da sua experiência e sabedoria.
Os pais nestas alturas têm que ter a paciência acima dos níveis normais, compreendendo que esses conselhos fazem parte da construção da nova estrutura familiar, agora com mais um elemento.
Em todo caso, é importante também lembrar que o papel de pais se mantém acima de tudo e que as decisões fulcrais correspondentes ao desenvolvimento do seu filho cabem, em último caso aos próprios pais e não a outros elementos.
Um dos mitos muito difundido e com o qual muitos pais são confrontados no momento das primeiras visitas após o nascimento é o da exposição do bebé em frente a um espelho e dos “possíveis” problemas que isso pode gerar no seu desenvolvimento.
Uma vez que é um assunto amplamente conhecido pela população, é de certo importante que se esclareça se realmente haverá algum problema que possa ser causado por esta atividade.
Em primeiro lugar é relevante que se compreenda que o bebé nos primeiros meses não tem desenvolvida a capacidade de se identificar com a própria imagem, o que de certa maneira podemos aferir que estar em frente ao próprio reflexo não interfere com processos cognitivos que ele próprio esteja a desenvolver, uma vez que não tem consciência que é ele mesmo que está ali refletido.
Em segundo, a evidência científica nada refere acerca de qualquer atividade prejudicial que implique um espelho e a sua utilização. De facto, muitos brinquedos indicados para os primeiros meses incluem inclusivamente um pequeno espelho.
Em terceiro, realizar atividades com o bebé em frente ao espelho, além de poder ser sinónimo de uma tarde bem passada, pode inclusivamente promover o seu desenvolvimento.
A observação das imagens dele mesmo e dos cuidadores pode favorecer o trabalho de conceitos como a empatia, uma vez que a par de permitir que no espelho a criança veja o seu próprio corpo na totalidade, pode contribuir para a promoção da sua identificação corporal, das expressões faciais e das emoções.
A sensação de segurança que o bebé sente com esta atividade também pode ser benéfica, permitindo-lhe conhecer o espaço e as suas características, identificando-se cada vez mais com o que vê, associando com os movimentos.
O mito do espelho não passa assim, efetivamente, de um mito, pelo menos à luz da evidência científica atual.
Colocar a criança em frente ao espelho pode ser uma atividade de promoção cognitiva relevante, como muitas outras que pode fazer com o seu filho, fazendo com que ele experimente o mundo que tanto precisa de experimentar para crescer saudável.