A toma de progesterona por grávidas que tenham já sofrido um ou mais abortos espontâneos poderá evitar uma nova perda da gravidez. Esta é a conclusão de dois estudos científicos recentes que vem assim trazer esperança às mulheres com um historial de aborto espontâneo.
Segundo o portal INDICE.eu, a progesterona é uma hormona feminina esteróide progestacional que se forma a partir da puberdade. É segregada principalmente pelo corpo lúteo (estrutura endócrina temporária que se forma em todos os ciclos menstruais) e pela placenta.
A progesterona atua sobre o útero, glândulas mamárias e cérebro. É necessária na implantação do embrião, manutenção da gravidez e desenvolvimento de tecido mamário para a produção de leite.
O efeito da progesterona no primeiro trimestre de gravidez
Os estudos foram conduzidos por uma equipa de investigadores da Universidade de Birmingham e do Centro Nacional Tommy para a Investigação do Aborto Espontâneo, no Reino Unido.
A equipa propôs-se tentar descobrir se um tratamento com progesterona poderia evitar um aborto espontâneo na grávida.
A investigação incluiu dois estudos que foram publicados em revistas científicas da especialidade.
O primeiro estudo contou com a participação de 838 mulheres em 45 hospitais no Reino Unido e Holanda. Todas as mulheres tinham sofrido abortos espontâneos recorrentes e sem explicação aparente. Após terem sido tratadas com progesterona, foi observado um aumento de 3% nos nados-vivos. Contudo, este resultado veio com uma incerteza estatística substancial.
O segundo estudo incluiu 4135 mulheres em 48 hospitais no Reino Unido. Todas tinham experienciado hemorragias nos estados iniciais da gravidez. Foi concluído que o tratamento com progesterona, nas grávidas que tinham sofrido abortos espontâneos anteriormente foi também benéfico. Com efeito, o tratamento com a hormona conduziu a um aumento de 5% no nascimento de bebés. Esta percentagem foi calculada quando em comparação com o efeito de um placebo.
Adicionalmente, a progesterona revelou-se particularmente benéfica em grávidas que tinham sofrido pelo menos três abortos espontâneos. É que o tratamento com progesterona neste grupo de grávidas foi associado a um aumento de 15% nos nados-vivos.
Evitar os efeitos devastadores do aborto espontâneo
Calcula-se de cerca uma em cada quatro gravidezes termine em aborto espontâneo. Isto significa que cerca de 25% da população feminina que engravida sofre esta experiência que pode ser traumática.
Efetivamente, um aborto espontâneo pode ter um efeito devastador sobre a grávida, o seu companheiro e a família em geral. O luto provocado pela perda do bebé pode, naturalmente, conduzir a depressão profunda. Isto para não falar das consequências negativas em termos clínicos.
Adam Devall, investigador que participou neste estudo, confirma que o aborto espontâneo “tem um impacto clínico e psicológico gigantesco sobre as mulheres e as suas famílias”.
Neste sentido, os investigadores referiram que um tratamento de progesterona pode beneficiar grávidas que experienciem hemorragias no até às 16 semanas de gravidez. A progesterona seria administrada em forma de pessário (dispositivo médico inserido na vagina).
“A nossa sugestão é considerar oferecer às mulheres com hemorragia no início da gravidez e um historial de uma ou mais abortos espontâneos prévios, um tratamento de 400mg de progesterona, duas vezes ao dia, com início na apresentação da hemorragia vaginal e continuado até às 16 semanas completas de gestação”, afirmou Arri Coomarasany, pertencente à equipa de investigação.
O papel protetor da suplementação com progesterona no tratamento de gravidezes de alto risco de aborto espontâneo não é atual. Este assunto tem, com efeito, sido debatido pela comunidade médica nos últimos 60 anos, explicou Adam Devall.