O consumismo infantil não é um fenómeno recente estando já enraizado na nossa cultura ocidental há pelo menos um bom par de décadas.
As atividades diárias, as pressões sociais e as festividades durante o ano assim o exigem, com as prendas a tomarem a dianteira desses eventos, a par da expectativa criada em torno do brinquedo desejado.
Nada de mal em receber um brinquedo.
Aliás, é melhor a criança poder receber um brinquedo do que não poder receber nenhum.
O problema está quando essa dádiva se transforma num consumismo desenfreado, com uma panóplia de desejos que se tornam em realidade sem que a criança tenha feito nada para o merecer.
O significado é muito importante quando recebemos algo de alguém. E receber um presente com significado em vez de 15 sem significado nenhum tem as suas diferenças.
Todos nós, quando éramos mais pequenos nos conseguimos lembrar de um brinquedo que queríamos imenso, da ansiedade que o acompanhava durante aquele compasso de espera e das idealizações que se previam quando tivéssemos tal objeto nas mãos.
Salvo raras exceções, como o brinquedo preferido, ao qual nos agarrávamos vincadamente e o recordamos com saudade, grande parte dos presentes que recebemos foram vítimas da perda de interesse pouco tempo depois de o desembrulhar, condenados a uma prateleira ou uma gaveta a ganhar pó até aos dias de hoje.
Curiosamente, grande parte de nós não recorda com mais saudade os bens materiais que teve quando comparado com os momentos que viveu.
Uns recordam mais facilmente o aniversário em que os avós estavam todos juntos, alegres e divertidos, do que o peluche que recebeu nesse dia.
Outros lembram-se do cheiro da lenha a arder na lareira no natal com maior facilidade do que o barco pirata que o precedeu.
Não há brinquedo que se compare às pessoas de quem gostamos.
Assim, o objetivo das prendas está em certa parte no bem material em si, mas, acima de tudo na atitude em dar algo a alguém, que merece reconhecimento com pelo menos um “obrigado”.
Não podemos, nem convém que possamos cair em exagero e acabar drasticamente com as prendas de natal, de aniversário ou de outra festividade qualquer.
Podemos sim tentar refrear a quantidade de brinquedos que damos aos nossos filhos, equilibrando com afeto e a presença que eles tanto precisam.
Dar na medida certa é uma arte.
E essa arte exige tempo mas também bom senso, para que o que demos nos seja retribuído não de maneira material, mas sim com o orgulho em termos sido bons pais na verdadeira ascensão da palavra.