A propósito do Dia Mundial da Motricidade Orofacial, que se assinalou na segunda-feira, a Sociedade Portuguesa da Terapia da Fala alertou no domingo para as consequências que os maus hábitos orais (uso excessivo de chucha, biberão e chuchar no dedo, por exemplo) podem ter na infância.
A coordenadora do departamento de Motricidade Orofacial da Sociedade Portuguesa da Terapia da Fala, Débora Franco, explicou que esses hábitos contribuem, na primeira infância, para alterações às estruturas orofaciais, prejudicando algumas funções como o respirar, o deglutir e o falar.
Maus hábitos orais nas crianças
Chuchar no dedo, morder um objeto, utilizar a chucha ou o biberão de forma frequente e por períodos prolongados de tempo são hábitos “que dão uma sensação de prazer”, mas que quando realizados de forma persistente provocam “alterações nas estruturas orofaciais”. Ou seja, resultam, entre outras situações, na dificuldade em respirar, no posicionamento inadequado da língua, deglutição atípica ou alterações na fala como o sigmatismo, conhecido como ‘sopinha de massa’.
“Este [o departamento de Motricidade Orofacial] é um campo da terapia da fala inovador, que trata as questões orais, faciais e cervicais”, cujas estruturas “são indispensáveis para o funcionamento da fala, respiração, da mastigação, sucção e deglutição”, explica Débora Franco em declarações à agência Lusa.
A necessidade de “impor limites”
Débora Franco, que também é professora na Escola Superior de Saúde do Politécnico de Leiria, acrescentou que é habitual dentistas, otorrinolaringologistas ou pediatras encaminharem as crianças para a terapia da fala, quando se deparam com estes problemas já enraizados.
Por esse mesmo motivo, a profissional defende a aposta na prevenção:
“Temos de alertar os pais para algumas medidas. Se retirarmos o hábito mais cedo, evitam-se muitos destes problemas. Recomendamos retirar o biberão por volta dos 18 meses e a chucha aos dois anos.”
A coordenado do departamento e docente sugere aos pais que não deixem que as crianças “sejam donas daquele objeto”.
“Não é preciso uma atitude radical e dizer que não se dá chupeta ou biberão, mas a criança não o pode usar quando quer. É importante impor limites e, sobretudo, não prolongar esses hábitos, por muito que custe à criança e aos pais”.
Outros problemas que os maus hábitos orais podem desencadear
Estes maus hábitos orais que provocam alterações orofaciais podem, inclusive, prejudicar o rendimento escolar.
“Como não respiram pelo nariz, cansam-se muito mais, o sono é mais leve, acordam várias vezes durante a noite e ficam mais agitados e com dificuldades de concentração”.
Quando há alterações estruturais, a solução pode passar por intervenções cirúrgicas, como a “remoção das amígdalas ou dos adenóides e muita terapia da fala”.
Além disso, estes maus hábitos podem modificar a arcada dentária, a face e a musculatura das bochechas e dounsdess lábios ficar flácida, assim como a língua.
“Verifica-se a deglutição atípica, com a língua muito para a frente e a mastigação ineficiente. Estas pessoas cansam-se muito ao mastigar, porque têm flacidez muscular e optam por comer alimentos menos sólidos, como hambúrgueres e massas”.
No entanto, estes problemas orofaciais podem também ser provocados por hábitos nocivos resultantes da ansiedade infantil e stress, como roer as unhas, morder frequentemente o lábio ou ranger os dentes (bruxismo).
“Quando isto acontece, é importante identificar a fonte de stress e transferir este comportamento para outros, como manipular bolas antistress para acalmar”, aconselhou Débora Franco.