A adolescência é uma fase de muitas transições, mudanças, mas também de grandes conquistas.
É nela que a independência e a autonomia começam a ganhar mais impacto e os interesses dos pares bem como sociais se exponenciam, em detrimento de uma aproximação mais afetiva à família, quando comparamos com a infância.
A família tem (ao contrário do que se possa pensar), um papel tão ou mais importante na adolescência do que nas idades anteriores.
Se até aqui a dependência era quase total, é nesta etapa que se aproxima que o adolescente tem nos pais o seu porto de abrigo ou o seu pilar de segurança para a descoberta individual que aí vem.
É muito comum haver um afastamento entre os pais e o adolescente nestas idades, uma vez que os seus interesses se modificam e a sua atenção se foca noutros assuntos, neste caso fora da dinâmica familiar.
Enquanto pai ou mãe, é importante que considere este afastamento até certo ponto como algo normal, uma vez que como já falado, nesta idade o desejo de independência e autonomia surge com maior intensidade.
É também importante que se note que o adolescente está numa espécie de encruzilhada entre esse desejo de independência e o afecto da família, que o faz sentir seguro e protegido face a um mundo desconhecido, mas que tanto anseia conhecer.
É aqui que a família tem um papel muitas vezes fundamental, na manutenção do equilíbrio e orientação.
Os canais de comunicação têm que continuar abertos com o adolescente, embora a maneira como os pais comunicam pode ter que sofre alterações: afinal de contas ele já não é uma criança, e agora cada vez mais, começa a exigir que não o tratem como tal.
Um erro que podemos considerar comum em muitas famílias é o aumento da permissividade dada ao adolescente, confundindo, obviamente com a autonomia desejada. Ele tem que compreender que com autonomia vem também maior responsabilidade, quer nas escolhas individuais, quer nas atitudes que escolhe tomar.
As regras e os limites têm que ser comunicados implicitamente e alvo de ajuste (e negociação) à medida que o adolescente, na sua individualidade, precisa.
Comunicar vagamente deixando uma névoa à volta de um assunto pode, provavelmente não ser uma boa ideia, principalmente com alguém que está a atravessar uma fase de vida que já de si é, tendencialmente conturbada.
Não separar o problema da pessoa também é um erro que muitas vezes pais de filhos adolescentes tendem a cometer.
Dizer “não sejas criancinha” ou “o que fizeste não foi uma atitude responsável” são coisas bem diferentes e interpretadas de maneira muito diferente por quem recebe a crítica.
Separar assim a individualidade do problema pode ser importante para uma abertura das linhas de comunicação.
É perfeitamente compreensível para ele que o que fez foi errado, mas ele, na generalidade não é, por si, um erro.
A probabilidade dele corrigir esse comportamento será com certeza maior se o foco for direcionado para o problema propriamente dito
Outra questão importante a considerar é a desvalorização em que muitos pais caem quando o filho adolescente lhes comunica um problema.
Por um lado, é importante não dramatizar, sendo coerente com uma parentalidade construtiva. Por outro, a desvalorização de determinado problema pode ofender e magoar o adolescente ao ponto de se fechar.
A partir desse momento, a tendência para ele procurar apoio e ajuda em terceiros pode acontecer, afastando cada vez mais o pilar da família em grau de importância.
A desvalorização deve ser evitada, porque o que para um adulto pode ser algo pouco relevante, para um adolescente, que provavelmente está a experienciar a situação pela primeira vez, pode ser encarado como algo muito sério.
Ouça atentamente, tenha sentido crítico e tente orientar não só pelo seu papel de pai ou mãe, mas colocando-se um pouco no lugar dele, assumindo as características únicas e pessoais que ele tem e que tão bem conhece.
A adolescência foi para grande parte de nós uma época conturbada, de grandes mudanças, mas também inesquecível.
Esteja presente na do seu filho, respeitando o seu desejo de autonomia, mas sem que ele esqueça que tem alguém em quem confiar, que respeitar e que o irá levantar se eventualmente cair.