Vi no outro dia uma frase de autor desconhecido numa rede social que dizia assim: “Isto é uma pandemia, não um concurso de produtividade”.
Esta frase pode trazer-nos uma reflexão importante sobre a maneira como a sociedade está a encarar esta situação e se essa estratégia pode ou não ser benéfica para a sua saúde mental.
São inúmeras as tentativas, as mudanças de perspetiva e as transições onde passamos de coisas que fazíamos offline e que agora fazemos online. Na rotina familiar são agora comuns as constantes chamadas, as videochamadas de horas a fio e a presença ininterrupta do sinal de wifi ligado no canto superior direito do telemóvel.
Se já antes da pandemia o excesso digital era preocupante, nesta fase uma grande parte de nós foi obrigado a tê-lo.
Por um lado, é benéfico observarmos esta adaptação, um sinal que podemos considerar positivo no enfrentar desta tragédia. Muitas pessoas fizeram, de facto, um esforço substancial para uma mudança brusca e intensa no seu modo de vida e não estou a falar só do ponto de vista do confinamento, mas acima de tudo da transposição da sua realidade para um ecrã.
Com isto, passam-se horas, senão dias inteiros entre documentos, fichas de planeamento, escolas, tele escolas, vídeo consultas, grupos de vídeo com os familiares, grupos de mensagens com amigos, onde o nosso maior aliado é o telemóvel, o computador ou a televisão.
Vivemos num tempo privilegiado para estar em confinamento, de facto. Se isto tivesse acontecido no ano 2000, não tínhamos metade das ferramentas que temos hoje à disposição quer para trabalho, quer para lazer, que apesar do caos onde todos vivemos, nos ajudam a suportar um pouco esta fase má e o aborrecimento de estar em casa fechado.
No entanto esse facto não pode justificar o excesso de horas que as famílias podem estar a ter em frente a um ecrã e da problemática que isso pode trazer no futuro, principalmente no seu bem estar psicológico. É importante que se pense também no dia de amanhã e nas consequências não só físicas como também mentais.
E se tudo correr pelo melhor, como todos esperamos, o confinamento irá acabar, poderemos voltar a sair, a passear, a realizar atividades fora de casa e a estar com os nossos familiares e amigos em formato presencial.
Preparar então o desconfinamento do ponto de vista mental pode ser importante, tentando colocar uma espécie de “cerca sanitária” ao excesso digital que agora temos.
Começa-se a falar num termo interessante: a obesidade digital. E se antes da pandemia isso já era um problema, não podemos permitir que se exponencie para um possível problema de saúde pública.
Limite-se no acesso aos meios digitais conjugando sempre com atividades “offline” que possa fazer dentro de casa. Desligue as notificações desnecessárias. Coloque-se longe dos aparelhos nas alturas do dia em que não precisa de lá estar e tente controlar a sua ansiedade em consultar “feeds” de notícias ou murais de redes sociais com elevada frequência.
Recorra à tecnologia apenas e só para o essencial, incluindo aqui obviamente obrigações laborais, escolares e o contacto com familiares e amigos.
A intensidade com que agora vivemos este momento poderá influenciar a força mental que todos iremos precisar no “pós” pandemia e na crise económica que se espera.
A sua saúde mental é importante para si, mas também para todos nós. Nesse sentido tente encarar esta fase com a maior tranquilidade possível sem permitir que a sensação de perda que todos atravessamos degenere em excessos que podem ser problemáticos para o futuro que aí vem.