As crianças pequenas que acordam frequentemente durante a noite e têm rotinas de sono irregulares estão mais propensas a ter experiências psicóticas na adolescência, concluiu um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
Para chegar a esta conclusão, a equipa de cientistas da universidade britânica analisou o estudo longitudinal “Children of the 90s”, realizado pela Universidade de Bristol. Neste estudo, mães de 14 mil bebés eram convidadas a preencher um questionário sobre a rotina do sono infantil aos 6, 18 e 30 meses de vida da criança e, posteriormente, aos 3 anos e meio, 5 anos e, por fim, aos 6 anos.
Distúrbios do sono infantil e as suas consequências
Após a análise dos dados, os cientistas da Universidade de Birmingham constataram que as crianças que iam para a cama mais tarde e tinham períodos mais curtos de sono estavam mais predispostas a manifestar o transtorno de personalidade borderline (TPB) durante a adolescência.
Isabel Morales-Muñoz, investigadora principal da investigação, explica que “os pesadelos persistentes nas crianças” já tinham sido “associados a psicose e transtorno de personalidade limítrofe” em diversos outros estudos. Contudo, esclarece:
“Mas os pesadelos não explicam tudo – descobrimos que, de facto, existem vários problemas comportamentais do sono na infância podem levar a desenvolver essas condições na adolescência.”
Na análise ao estudo, publicada no jornal científico JAMA Psychiatry, os investigadores verificaram que, de entre os 14 mil participantes, cerca de 7 mil relatavam sintomas psicóticos e mais de 6 mil de TPB na adolescência.
O sono e a idade
Os resultados da análise ao estudo demostraram uma associação entre as crianças que, com 18 meses de idade, acordam frequentemente à noite e têm rotinas de sono menos regulares a partir dos 6 meses de idade com experiências psicóticas na adolescência. Assim, esta descoberta apoia as evidências científicas já existentes de que a insónia contribui para a psicose. No entanto, ao contrário dos outros estudos, sugere que essa ligação pode estabelecer-se vários anos antes de se manifestarem as experiências psicóticas.
Além disso, os investigadores descobriram que as crianças de três anos e meio que iam para a cama mais tarde e dormiam períodos de tempo mais curtos manifestavam mais tarde sintomas de transtorno de personalidade borderline.
Sintomas depressivos: uma primeira manifestação de um futuro problema psíquico?
Os investigadores quiseram ir mais longe e verificar se existia uma ligação entre o sono infantil e os transtornos psíquicos mediado por manifestações de sintomas depressivos em crianças com 10 anos de idade. De facto, os dados mostraram que a depressão infantil é uma acontecimento que se observa entre os primeiros distúrbios de sono na infância e o início da psicose na adolescência, o que não se verificou com a TPB.
Steven Marwaha, autor sénior do estudo, esclareceu que “a adolescência é um período de desenvolvimento essencial para estudar o aparecimento de muitos transtornos mentais, incluindo psicose ou TPB”, porque estes ocorrem “devido a alterações hormonais e cerebrais específicas nesta fase [da vida]”.
“É crucial identificar fatores de risco que possam aumentar a vulnerabilidade dos adolescentes ao desenvolvimento desses distúrbios, identificar aqueles com alto risco e oferecer intervenções eficazes”, sublinhou.