São cada vez mais as crianças com seis anos ou mais, que ficam por mais tempo no ensino pré-escolar. Esta é a conclusão de uma análise do Jornal Público.
As estatísticas mostram que o número de crianças com esta idade, que não avançam para o ensino básico primário tem vindo a duplicar ao longo dos últimos anos. O Público fez esta análise com recurso a dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Este facto é uma das razões para que a taxa real de escolarização no 1º ciclo esteja em queda. A outra, são as retenções, que ao longo do percurso escolar levam a que o número de jovens em atraso face à sua idade também tenha tendência a aumentar.
Quais são as razões para as crianças de seis anos não transitarem de ciclo?
“Imaturidade das crianças, “exigência da vida escolar”, são as principais razões que as investigadoras Teresa Seabra (ISCTE-IUL) e Liliana Pascueiro (UNL) apontam para este fenómeno.
Relativamente ao número de crianças com seis anos, residentes em Portugal, a proporção de inscritos no pré-escolar com esta idade passou de 5,7% em 2013/14 para 12%, em 2018/19.
Em termos absolutos, esta questão traduz-se nos seguintes números: subiu de 5229 para um recorde de 10212.
Ao Público, Teresa Seabra disse crer que “o aumento do número de famílias que optam por matricular os seus filhos no 1º ciclo um pouco mais tarde se poderá relacionar com o crescendo da perceção social de que a vida escolar é muito exigente, a consciência de que brincar é muito importante para o desenvolvimento das crianças”.
A investigadora do ISCTE acrescentou ainda que esta decisão estratégica também funciona como uma forma de assegurar um aumento da probabilidade de sucesso escolar no ensino primário.
Liliana Pascueiro acredita ser a imaturidade que alguns pais vêem nas suas crianças, a razão para a decisão de não as deixar transitar para o 1º ciclo. “A transição para o 1.º ano começa progressivamente a ser entendida não como uma questão administrativa dependente do ano e mês de nascimento da criança, mas sim da posse de competências essenciais para a integração no 1º ciclo.”
Aguardam-se estudos futuros para perceber se o atual panorama de pandemia contribuiu também para manter as crianças no ensino pré-escolar durante mais tempo.