Existem 2519 crianças a viver em instituições que estão a ter acompanhamento psicológico, o que representa cerca de 36% do total de crianças que não vivem com as respetivas famílias.
O relatório CASA – Caracterização Anual das Crianças em Situação de Acolhimento, divulgado esta semana, revela que mais crianças foram acolhidas em 2019 do que em 2018. Apesar de esta subida ter ficado nos 0,2%, o aumento mais expressivo verificou-se naquelas que têm acompanhamento psicológico.
Segundo a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos,a explicação é simples. “Quem nasce frágil é porque tem pais frágeis ou há uma fragilidade familiar. Há uma disfuncionalidade familiar nas crianças institucionalizadas, e essa disfuncionalidade origina muitas vezes memórias traumáticas.”
A especialista em saúde mental infantil acrescenta ainda que “são situações derivadas de patologias por dependências e que faz que os cuidadores estejam indisponíveis, não há uma continuidade. Pode haver causas genéticas, falta de cuidados de saúde durante a gravidez, há uma série de fatores que provocam essa fragilidade.”
Acompanhamento psicológico: dados do relatório CASA
O relatório divulga também que 28% das crianças e jovens institucionalizados têm problemas de comportamento e que 26% precisam que medicação diariamente.
De destacar que o relatório apresentado ainda não reflete as consequências da pandemia de Covid-19. Técnicos do Instituto de Segurança Social destacam que apesar de crianças e jovens parecerem menos afetadas do que pessoas mais velhas, a pandemia já teve consequências negativas indiretas para as crianças e os jovens em situação de acolhimento.
O que contribui para situações de acolhimento e consequente acompanhamento psicológico? A negligência dos cuidadores. O facto de ter havido um aumento de apoio psicológico em 2019 comparativamente a 2018, de 32% para 36%, pode dever-se a alterações no sistema escolar.
A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos explica que, por exemplo, “uma criança que sofra de negligência ou maus-tratos no primeiro ano de vida fica com sequelas psicológicas. Não as pode contar, mas pode ter ficado com uma fragilidade emocional”.
No ano passado, entraram mais crianças, 2498, no sistema de acolhimento português, do que saíram, 2476. Esta diferença faz que se tenha invertido a tendência de descida do número de crianças acolhidas.
Os especialistas destacam também que maioridade não significa autonomia, sendo que muitos dos jovens institucionalizados não têm condições financeiras, e outras, para serem autónomas.
São os distritos de Lisboa (1342), Porto (1159) e Setúbal (496) que tem mais institucionalizações. Já Viana do Castelo (115), Portalegre e Évora (134) registam os números mais baixos.
20 de novembro 2020