A Comissão Nacional de Saúde Materna, da Criança e do Adolescente emitiu um comunicado onde é defendido que “não é suficiente às crianças sobreviver à pandemia”. A entidade, juntamente com o apoio de pediatras, defende que é imperativo retomar cuidados que foram “abruptamente suspensos”.
No documento, este órgão de consulta da Direção-Geral da Saúde garante que “já não há a desculpa da ignorância e do medo para se enveredar” pelo mesmo caminho que no início da pandemia, com medidas “exageradas”, como a de sujeitar crianças a múltiplos e testes de diagnóstico.
No início da propagação de Covid-19 em Portugal, em nome da proteção e redução do risco de contágio, decidiu-se por exemplo, separar mães e bebés à nascença, impedir que grávidas fossem acompanhadas em consultas e no parto, sujeitar crianças a múltiplos testes de diagnóstico, etc.
O jornal Público teve acesso ao documento desta comissão, que avaliou o impacto da pandemia em múltiplas dimensões, nomeadamente na educação e saúde mental.
Depois de uma fase inicial marcada pelo desconhecimento acerca da doença, os especialistas e os pediatras dizem já não compreender as atitudes radicais no tratamento de crianças e grávidas.
Gonçalo Cordeiro Ferreira, presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna, da Criança e do Adolescente defende o bom senso. “O que se tentou demonstrar [neste documento], com base na experiência dos autores e na literatura, é que muitas das medidas excessivas fazem pior à saúde mental e física das crianças” do que o risco de infecção.
Segundo o especialista e pediatra, apesar de se conhecerem entidades onde muitas normas foram alteradas, ainda há hospitais onde as práticas restritivas se mantêm. Sobretudo por “razões estruturais”, nomeadamente porque não têm as condições necessárias para terem circuitos diferenciados para covid e não-covid
Hoje “já não há desculpa para a ignorância e medo de se enveredar” pelo mesmo caminho que nos meses de março e abril.
O documento defende ainda que “a escola, a actividade física, os tempos livres, o contacto com a família, a saúde (…) não podem ficar reféns de uma sociedade militarizada contra a pandemia, de profissionais de saúde, instituições e recursos unicamente mobilizados para essa tarefa”. A resposta “tem de ser balanceada e focada em grupos de maior risco”, defendem.
Atualmente já se sabe que “as crianças têm uma taxa de infecção mais baixa do que os adultos (representando 1-2% dos casos)”, que, quando infectadas, “muitas ficam assintomáticas ou têm doença ligeira”, pelo que consideram necessária uma revisão das normas de isolamento das crianças hospitalizadas e sem fatores de risco.
Os especialistas lembram também que o encerramento das escolas não é justificado, visto que “não parece ter impacto significativo sobre a transmissão” do novo coronavírus.
27 de novembro 2020