Cada vez mais, parece que estamos a educar os nossos filhos sem lhes incutir autonomia. Será que queremos crianças sem autonomia, sem resiliência, sem saberem como resolver os seus problemas?
Isto aconteceu pouco tempo antes da pandemia atual. Nos EUA, Gail Cornwall, escritora e mãe de cinco filhos, foi criticada num programa televiso por deixar a filha de 10 anos andar sozinha nos transporte públicos.
A audiência no programa não reagiu bem e a apresentadora chegou mesmo a a acusar esta mãe de “deixar a sua parentalidade a outrem”.
Pais estilo “helicóptero”= crianças sem autonomia
Cada vez mais existe a crença que temos que estar com as crianças a todo o momento, sem nunca os deixar sozinhos. A mesma mãe cita outro exemplo do que ela considera ser exagero: uma baby-sitter deixou uma criança acabar a sesta no seu carrinho de passeio no quintal das traseiras, algures nos EUA. Não estava frio e a criança estava com o fecho de segurança apertado. Enquanto a criança dormia, a baby-sitter preparava na cozinha o almoço para o irmão. Os vizinhos decidiram então chamar a polícia.
Crianças mentalmente fortes: 13 coisas que os pais não devem fazer
Mas em Portugal também se assiste cada vez mais a este estilo de parentalidade, que produz crianças sem autonomia. É normalmente chamada de parentalidade “helicóptero“.
Estes pais não envolvem os filhos nas pequenas tarefas domésticas, não lhes atribuem responsabilidades para não lhes “roubar” a infância. Não conseguem ver nisso uma forma de ajudarem as crianças a adquirir novas competências. Isto é pois, muitíssimo importante para uma adultos independentes, mentalmente fortes e autónomos.
Portanto, esta parentalidade intensiva a toda a hora, que protege demasiado a criança parece ser o estilo de parentalidade atual preferido por muitas mães e pais. Isto é demonstrado num estudo recente nos EUA e o mesmo poderá estar a acontecer em Portugal.
Outro estudo revela que em 2012 os pais passavam o dobro do tempo em interação com os filhos em relação aos de 1965. Paralelamente, a brincadeira não estruturada e ao ar livre aparenta ter diminuído em 40% nos EUA entre os inícios da década de 1980 e os finais da década de 1990.
O problema é que estas crianças superprotegidas acabam por ser crianças sem autonomia. Mais tarde, tornam-se jovens que não aprenderam a lutar para vencer obstáculos, tomarem a iniciativa, a serem resilientes. Em suma a serem independentes e a saberem viver de forma autónoma.
E quais são as consequências da educação destes pais helicóptero? São filhos ansiosos, vulneráveis e com falta de autoconfiança. E a ciência comprova-o.
Mas os pais sofrem também
Gail Cornwall apontou ainda que não são apenas crianças sem autonomia, inseguras e ansiosas que este tipo de parentalidade produz. Na verdade é devido a este tipo de atitude que hoje em dia há tantas mães a tomar fármacos ansiolíticos e antidepressivos.
Acontece que a pressão para estar sempre e a toda a hora a orientar e proteger as crianças é muita… e com isso é muita a ansiedade também.
Artigo baseado em publicação de Gail Cornwall para Salon