Uma vala comum com os restos mortais de 215 crianças foi encontrada, na semana passada, no Canadá, junto a terrenos que faziam parte da propriedade de um antigo internato para crianças indígenas, em Kamloops, na Colúmbia Britânica. A descoberta dos restos mortais destas crianças está a chocar o Canadá.
Entre 1883 e 1996, mais de 150 mil crianças indígenas do Canadá, foram forçadas a viver nestes centros de internamento, espalhados pelo país. As crianças eram retiradas às famílias e institucionalizadas nestes centros administrados pelo Governo e por comunidades religiosas. Milhares de crianças morreram.
A descoberta foi anunciada por Rosanne Casimir, chefe da reserva Tk’emlups te Secwépmc, do povo Shuswap. Alguns dos restos mortais encontrados pertenciam a crianças com apenas três anos de idade. As possíveis datas de morte, e causas, ainda são desconhecidos.
No Twitter, Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, admite que esta é uma dolorosa descoberta de um “capítulo vergonhoso” da história do país: “As notícias sobre os restos mortais encontrados no antigo internato de Kamloops partem-me o coração. É uma recordação dolorosa de um capítulo sombrio e doloroso na história do nosso país. Estou a pensar em todos os que foram afetados por esta notícia angustiante.”
A situação, que está a gerar ondas de indignação por todo o país, já levou à remoção da estátua do antigo primeiro-ministro canadiano John A. Macdonald, na cidade de Charlottetown. Macdonald foi o primeiro chefe de governo do Canadá e o responsável pela criação destes internatos. O objetivo, assumido pelo próprio, era retirar as crianças indígenas às famílias para evitar que crescessem de forma “selvagem”.
Internamento forçado de crianças indígenas no Canadá
O internato de Kamloops foi inaugurado em 1890. Chegaram a lá residir 500 estudantes de diferentes comunidades indígenas da província de Colúmbia Britânica durante a década de 1950. A instituição seria encerrada em 1978. As escolas teriam sido criadas, em teoria, para promover a integração da população indígena na sociedade.
Contudo, de acordo com um relatório de 2015, o que aconteceu foi um genocídio cultura. Cerca de 4 mil crianças nunca mais voltariam a ver os pais. Nesse documento, conclui-se que metade das mortes ocorreu por tuberculose. Outras doenças, como a gripe ou a pneumonia também estiveram na origem de alguns dos óbitos. Outras causas apontadas para a morte destas crianças no Canadá são incêndios, afogamentos, hipotermia e também suicídios.
A descoberta desta vala comum intensificou as exigências de uma investigação a nível nacional em todos os antigos internatos. Justin Trudeau declarou também que este caso não é uma exceção ou uma ocorrência isolada, admitindo que é essencial descobrir todos os segredos gerados pela situação, para descoberta da verdade.
Desde 2015, Justin Trudeau tem lançado várias iniciativas para promover a reconciliação e a melhoria das condições de vida dos povos indígenas, que representam 5% da população do país. No entanto, muitas comunidades continuam a viver sem acesso a água potável ou a cuidados de saúde.
Imagem: Dennis Owen – Reuters
2 de junho 2021