Ser mãe de três filhos…tarefa facilitada
Quando nasceu o primeiro filho tudo era perfeito, bebé lindo, muito calmo. Um paraíso, um stress. Cada febre, cada ataque de tosse era uma grande preocupação e uma ida certa ao médico. Com 14 meses ainda não dizia mais do que 4 ou 5 palavras, uma preocupação.
Ele falava, dava entoação ao que dizia só que não eram palavras portuguesas. Gesticulava com um discurso que ninguém entendia, mais uma ida à pediatra, uma preocupação. Era uma criança diferente, nunca desobedecia, bastava dizer que não e podíamos acreditar que nunca mais o fazia.
Temos filmagens dele com 10 meses a olhar para um cinzeiro e a dizer que não com a cabecita, sabia que não era para mexer. Passava horas a brincar sozinho, até me fazia sentir culpada de ser tão solitário e independente.
No mês em que o Guilherme fez um ano decidimos que estava na hora de mandar vir um irmão para o nosso bebé. Sabia por experiência própria que ter uma irmã quase da mesma idade era a melhor coisa do mundo e queria isso para o meu pequenino.
Demorou bastante até engravidar e com a gravidez veio o sentimento de culpa e as dúvidas: “o que estou a fazer ao meu filhote, vou-lhe tirar a atenção, será que vou gostar do segundo como gosto deste?”
O medo de pensar que ia estar no hospital durante uma ou duas noite e o meu menino ia estar sozinho sem a mãe…que drama.
O Guilherme tinha dois anos e meio quando nasceu o Rodrigo e foi uma segunda alegria, o mano mais velho estava contente, o pai feliz da vida, a mãe cheia de força e segurança para tomar conta dos dois…até chorarem ao mesmo tempo. QUAL ACALMO PRIMEIRO?
Peguei nos dois, deitei-os na cama e telefonei à minha sogra a chorar sem saber para onde me virar. Com o tempo aprendi a acalmar os dois, cantando e fazendo mimo aos dois. Pegando nos dois ao colo ao mesmo tempo.
Era difícil dividir a atenção mas conseguia brincar com o mais velho e o bebé deitado no chão ao nosso lado. Sempre usamos o chão como o local de brincadeiras, as almofadas como suporte para sentar.
O chão da cozinha com panelas e molas da roupa eram a brincadeira na hora de fazer o jantar. O Rodrigo começou com bronquiolites aos 4 meses e até aos 9 teve 9 bronquiolites (uma a cada 15 dias), foi considerado bebé com asma do lactente, começaram as inalações com cortisona, as nebulizações constantes, as febres altíssimas.
Para piorar a situação o Guilherme durante esse ano cresceu apenas 2 cm, começaram as consultas e exames para procurar causas e soluções. As bronquiolites pararam ao ano de idade e o Guilherme recebeu um diagnóstico perfeitamente calmante, era uma criança que ia crescer por “saltos” ou iria crescer mais tempo pois a idade óssea estava com um desfasamento de ano e meio.
Sempre amamentei os meus filhos, do Guilherme só tive leite até aos 5 meses, quando passei duas noites desesperada sem saber porque chorava tanto…era fome. Penso que foi de começar a tomar o contraceptivo oral.
Do Rodrigo como não queria ter mais filhos decidi colocar o DIU, e tive leite até decidir parar, quando ele já tinha 26 meses. Engraçado era que ele só gostava da mama esquerda e então, na praia, na hora do lanche eu usava copa 32 na mama direita e copa 42 na mama esquerda, cómico.
Uma coisa eu tenho a certeza, uma criança que nasce e já tem um irmão um pouco mais velho é sem dúvida beneficiada quanto a estímulos. Passamos a querer que faça o que o mais velho faz e ele fica bem mais adiantado para a idade.
Com um feitio nervoso e impulsivo não foi um segundo filho fácil. Eu e o pai sempre fomos muito exigentes quanto ao comportamento. O não era não mesmo. Quando um colocava de castigo sentado no sofá ou no quarto o outro atuava como o polícia bom, ia dizer que a mãe ou o pai tinham razão e que devia ir pedir desculpa, nunca desautorizando o outro mas conversando.
Eu sei que quando é o pai que castiga parece sempre demasiado mas acreditem, não é, é bom e nunca deve ser questionado em frente aos filhos. Sempre doce e mostrando que só aquele comportamento tinha sido errado, não era por ser mau ou chamar aqueles nomes horríveis com que muitos pais rotulam os filhos.
Ensinamos o nosso filho que se ele era nervoso ninguém tinha que aturar isso. Ele tinha que se acalmar, resmungar sozinho pois os outros não iam aceitar aquele comportamento.
Acredito que a nossa firmeza, a nossa constância nas exigências foram um fator importante para ele hoje ser o adolescente fantástico que é. Quando íamos a supermercados ou lojas não tínhamos que aturar birras e todos os pais não deviam aturar. Depende unicamente do seu comportamento.
Imaginem que vos pedem algo, primeiro pensem bem antes de dar uma resposta, por vezes pode ser sim por vezes pode ser não. Quando é não tem que ser não mesmo pois se ao fim de uma birra o não passa a sim, o que ensinamos foi: não + birra = sim, se o não for mesmo não até ao fim será: não + birra = não.
Tive que sair duas vezes do supermercado sem compras pois o meu filho também tentou fazer birra, como seria normal. Deixei o carrinho perto da caixa, peguei no braço dele e disse – lhe com a birra acabaste de perder não só as batatas fritas mas tudo o que estava no carrinho. Foram só necessárias duas vezes mas em 15 anos de maternidade nunca mais precisei de aturar birras em locais públicos.
Na nossa casa não se berra, não se grita, conversasse. Eu e o meu marido detestamos discussões e foi isso que ensinamos aos nossos filhos, conversem, não ofendam, não magoem deliberadamente.
Era uma delícia ver os dois a brincarem, aprenderam a partilhar, a ser mais tolerantes e a pedir menos atenção. Foram crescendo como verdadeiros amigos, mesmo sendo muito diferentes são duas metades que se complementam.
Quando já tinham 9 e 7 anos comecei verdadeiramente a sentir-me sozinha, eles brincavam juntos, quer no quintal, quer no computador e decidimos dar-lhes o mano, ou mana que tanto queriam. O tempo faz-nos esquecer tudo o que significa ter um bebé em casa.
Engravidei rapidinho e como já estava perto dos 40 tive que fazer a amniocentese, foram dois dias de preocupações e medo. Resultado, mais um menino e sem anomalias. Sinceramente chorei muito, sempre quis uma menina e aquele resultado fez-me sentir que me roubaram a minha boneca. Sentimento de culpa, tinha um bebé na barriga que ainda nem tinha nascido e já me tinha desiludido, não por ele, mas pelas minhas próprias espectativas. Sentimentos horríveis mas reais.
Nasceu o Afonso em Dezembro, o parto mais difícil dos três. A minha primeira reação foi dizer que ele não estava bem, o que o médico logo contradisse, mas o medo ficou. Engraçado foi que graças ao parto natural mal cheguei ao quarto, toda a família à volta do bebé e eu vesti o meu casaco e só queria ir para a varanda, nem parecia que tinha acabado de ter um bebé.
Os manos ficaram logo apaixonados pelo pequenote. Não sei explicar porquê mas o medo que ele não estivesse bem ficou durante muito tempo. À noite tinha medo que ele não respirasse, tinha medo de acordá-lo pois tinha pavor em que ele não estivesse bem…doideiras.
Com o terceiro filho já não corremos atrás do médico. Se chora a primeira coisa a ver são as mãos, estão cerradas, é fome. Mexe muito as pernas, são cólicas, barriga na nossa coxa, balançar um pouco encolhendo-lhe as pernitas e tudo se resolve.
Não arrota, pegar nele com as duas mãos nas axilas e balançá-lo para baixo, ficando quase a fazer o pino três vezes e lá vem o arroto, muitas vezes enorme. É bem mais fácil quando fica com febre sem sintomas esperar os três dias e pensar: é febre de virose, 1º estica, 2º encolhe e 3º passa.
Antipirético de 6 em 6 horas, alternando o tipo, despi-los completamente e se necessário panos de água quase fria na testa nas virilhas e nos tornozelos.
O terceiro quase não tem direito a ser bebé, todos pedem que ele se comporte direito, que saiba mais do que devia e que aprenda rapidinho. Deve ter sido por isso que o Afonso falou aos 10 meses, no mesmo mês em que lhe nasceu o primeiro dente. Fala tão corretamente que nunca pareceu ter a idade que tinha.
É o mais mimado de todos pois filho dos 40 é quase neto, já não há paciência para exigir tanto, não quer, não come, um dia ele chega lá. Por estas e por outras o Afonso, não comia carne. Foi preciso chegar aos 3 anos ir para escola e devido à insistência do pai para começar a comer um pouco de tudo. Por vezes até me apetecia sair da mesa e mandar o pai parar, mas nunca. Graças à sua insistência e à minha não desautorização ele beneficiou.
Ser mãe de três é fácil pois eles brincam, eles mimam-nos cada um à sua maneira, um é a voz da razão, outro otimista e o outro das palavras de amor, sou uma mãe sortuda. Eles completam-se, eles complementam-se e apoiam-se uns aos outros.
É difícil ser mãe de três porque os bilhetes família são dois adultos e duas crianças, os quartos de hotel são para dois o duplo para quatro. Os bilhetes de cinema e os jantares passam a ser x5. As despesas são grandes mas os benefícios são maravilhosos.
Neste momento estamos os 5 numa aventura, mudamos de país, viemos morar para o Brasil e deixamos o conforto da vida que tínhamos. Queremos um futuro mais promissor para eles, menos pessimismo e com mais oportunidades.
Não foi fácil, não é fácil, mas uniu-nos mais, conversamos mais, eles passam mais tempo longe do computador. Sempre os consultamos para decidir as coisas importantes para a família, mas sempre fazendo-os ver que a responsabilidade da escolha é nossa. Para eles seria um peso muito grande e injusto a responsabilidade de uma decisão.
Esperamos ser felizes, não pedimos, nem nunca pedimos que sejam os melhores alunos, que sejam perfeitos, queremos que sejam seres pensantes, atuantes que tenham ideias próprias. Queremos que saibam principalmente o que não querem.
Que nós nos esforçamos por lhes dar o melhor, mesmo que às vezes seja viver com menos dinheiro ou com menos condições. Daí eles podem aprender que tudo se constrói, não aparece por magia. Que de tudo o que acontece podemos tirar lições positivas e que juntos somos realmente uma família e construímos o nosso futuro.
Mónica Festas
Mãe do Guilherme (14 anos), Rodrigo (12 anos) e Afonso (5 anos)