A síndrome de morte súbita do lactente (SMSL) é um acontecimento raro mas trágico. Quando ocorre, o bebé morre subitamente e sem razão aparente. A morte súbita é rara no primeiro mês de vida, aumenta até um valor máximo entre os 2 e os 4 meses e cerca de 95% dos casos surgem antes dos 6 meses de idade. Acontece geralmente no domicílio, sendo o bebé encontrado sem vida no berço.
Recentemente, um estudo concluiu que os bebés vítimas de morte súbita apresentavam alterações a nível cerebral, nomeadamente um defeito no transporte de serotonina, em zonas que controlam as funções respiratórias, cardíacas, arteriais e térmicas. Esta anomalia faz com que o cérebro não desencadeie mecanismos de reação, quando há problemas naquelas funções.
Síndrome de morte súbita do lactente
O que é a “morte súbita”?
A síndrome de morte súbita é um acontecimento caracterizado pela morte súbita e sem razão aparente do bebé.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Pediatria a Síndroma de Morte Súbita do Lactente ”é a morte súbita e sem explicação de um bebé durante o primeiro ano de vida. É uma situação assustadora porque acontece sem aviso prévio num bebé aparentemente saudável. A maioria dos casos está associada ao sono e por isso é conhecida como “morte no berço”.”
Ocorre mais frequentemente no inverno e durante a noite, nos bebés prematuros ou de baixo peso, nos filhos de mães fumadoras e nos filhos de mães adolescentes.
Muitas vítimas de morte súbita tiveram recentemente um resfriado, tosse, febre, vómitos ou diarreia.
Morte súbita e posição de dormir
O fator identificado que mais contribui para uma diminuição da morte súbita foi a posição de dormir do bebé. Em abril de 1992 a Academia Americana de Pediatria, baseada na avaliação cuidadosa dos estudos publicados, lançou a recomendação de deitar os bebés de costas, de barriga para cima.
Esta recomendação também foi publicada no mesmo ano em Portugal pela Direção-Geral da Saúde e consta do Boletim de Saúde Infantil e Juvenil.
Porque não se deve deitar o bebé de barriga para baixo?
Está demonstrado que deitar o bebé de barriga para baixo para dormir é um fator de risco. Algumas razões desta conclusão estão relacionadas com:
- A respiração do próprio ar expirado reduz a qualidade do ar e aumenta a concentração de anidrido carbónico no ar inspirado;
- A inibição dos reflexos laríngeos;
- Sobreaquecimento devido à perda de calor pelo rosto e pela cabeça.
Condições que aumentam o risco:
- Colchão inapropriado, como um colchão mole;
- Uso de edredão em vez de lençóis e cobertor, com possibilidade de sufocação.
Prevenção da morte súbita
O bebé deve ser colocado de barriga para cima quando for dormir, posição que lhe permite respirar o ar ambiente normalmente; em caso de febre pode facilmente libertar-se da roupa que o cobre, não correndo o risco de sufocar.
1. Deitar o bebé de barriga para cima para dormir
- O risco de morte súbita aumenta se os bebés dormirem de bruços (“de barriga para baixo”). A investigação mostra que, quando são deitados de costas, os bebés não bolçam nem aspiram mais o vómito do que se estiverem em qualquer outra posição.
- Estudos recentes revelaram uma diminuição aparente da incidência da SMSL em quase 50-75% em alguns países desde 1991.
2. Não fumar durante a gravidez. Nem depois
Estudos recentes apontam o fumo do tabaco como um dos fatores de risco mais significativos para a SMSL e sugerem que, por cada hora que o lactente passa em contacto com o fumo do tabaco, o risco de morte súbita aumenta proporcionalmente – uma criança exposta 8 horas ao fumo do tabaco tem 8 vezes mais probabilidade de ser vítima de morte súbita.
- O risco de morte súbita aumenta se a mãe fumou durante a gravidez e se continua a fumar depois do parto. Se o pai também fuma, o risco agrava-se.
- O fumo do tabaco está totalmente proibido no ambiente em que a criança respira – quarto, casa, carro ou em qualquer outro em que ela permaneça.
3. Nunca cobrir a cabeça do bebé
- A roupa da cama nunca deve cobrir a cabeça do bebé. Não se devem usar edredões nem peças de roupa como fraldas ou gorros durante as horas de sono.
- O bebé deve ser deitado com os pés a tocar o fundo da cama para que não haja risco de escorregar para debaixo dos lençóis.
4. O bebé deve ter a sua própria cama para dormir
- Se fuma, está muito cansada(o), tomou algo que altera o sono ou ingeriu bebidas alcoólicas recentemente, não ponha o bebé na sua cama para dormir.
- Nunca se deixe adormecer no sofá com o seu bebé.
- O bebé deve dormir na sua própria cama (e não na alcofa). O colchão deve ter uma superfície dura.
5. Não sobreaquecer o bebé
- O risco de morte súbita pode estar associado ao sobreaquecimento. A temperatura do quarto, a roupa do bebé e a roupa da cama devem ser adequados à estação do ano e ao local que habita.
- A temperatura ideal do quarto do bebé ronda os 18-21° C.
- O bebé deve ser vestido por camadas para ser mais fácil de despir.
- Colocando o dorso da sua mão na nuca, no peito ou na barriga do bebé poderá avaliar facilmente se ele está muito aquecido.
- Se o bebé tem febre precisa de menos roupa e não de ser agasalhado.
7. Amamentação
O risco de morte súbita é menos frequente nos bebés que são alimentados ao peito.
8. Chupeta
O risco de morte súbita é menor nos bebés que usam chupeta.
O bebé acordado pode estar de barriga para baixo?
Quando está acordado o bebé pode (e deve) ser colocado de barriga para baixo para brincar. Isto fortalece os músculos do pescoço e das costas.
Em que situações pode ser indicado pelo médico deitar o bebé de barriga para baixo?
O bebé não deve dormir de barriga para baixo a não ser em caso de indicação médica particular como refluxo gastroesofágico, malformações oro-mandibulares, entre outras.
Nestas situações, a recomendação para a prevenção da morte súbita consiste em usar um colchão firme, bem adaptado às dimensões do berço, não cobrir demasiado o bebé – a roupa não deve ultrapassar os ombros, e evitar o sobreaquecimento.
Bibliografia: Artigo “A Morte Súbita do Lactente – Como a evitar”. In “Manual para pais de bebés prematuros”, edição 2008, da Seção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria; Folheto “Como reduzir o risco de SMSL” elaborado em 2009, pela Sociedade Portuguesa de Pediatria e pela Sociedade Portuguesa de Neonatologia; Artigo “Prevenção da Morte Súbita” da Sociedade Portuguesa de Pediatria