Coitados dos pais de filhos pequenos. E dos pais de filhos médios, e para dizer a verdade dos pais de filhos grandes, também. Coitados dos pais, sim senhora, porque as crianças são absolutamente absorventes, como uma esponja que está programada para sugar todos os recursos da mãe e do pai, e de quem mais se puser a jeito, deixando-lhes pouco ou nenhum tempo para si mesmos. Bem vistas as coisas, é uma técnica de sobrevivência de uma eficácia extraordinária porque vem acoplada com a capacidade de fazer com que os pais se sintam as pessoas mais abençoadas do mundo por se poderem dedicar integralmente aquela criatura, e largamente recompensadas pelo seu empenho. Mais inteligente ainda, a recompensa chega sob a forma de uma mais valia para o próprio filho, ou seja regozijam-se porque já consegue gatinhar, diz mais duas palavras, come sozinho, é capaz de fazer todos os puzzles no Ipad, ou anda de bicicleta. A criança ganha e os pais celebram a vitória como se fosse deles, o que à partida satisfaz a evolução da espécie, e deixa todos felizes.
Mas num tempo em que as crianças são coisa mais rara, e os pais programam detalhadamente a sua concepção e nascimento e investem profundamente em cada uma delas (ou até apenas “nela”), há um risco acrescido dos filhos irem ficando eternamente bebés, presos a um cordão umbilical que a mãe (e o pai) não querem cortar. E se essa ligação não ajuda nada a autonomizar a criança, também não traz nada de bom para os pais que, muitas vezes, ficam de tal forma “presos” na criança, que se esquecem de si mesmos, e um do outro.
Tudo isto visto daqui do 1º balcão em que ser avó nos coloca, deixa perceber o desgaste que ser mãe provoca e os perigos que traz consigo. E provavelmente fazemo-lo pela primeira vez, porque quando fomos mães estávamos demasiado hipnotizadas pelos nossos bebés, demasiado cansadas, insuportavelmente culpabilizadas, e mais do que ocupadas com a sobrevivência imediata, para termos a clarividência de avaliar o impacto de viver tão exclusivamente para os nossos filhos. Como os nossos filhos e filhas estão agora.
Mas umas décadas de noites bem dormidas, e uma análise mais crítica daquilo em que acertámos e errámos enquanto mães, deixa-nos capazes de, com diplomacia, lembrar os novos pais de que, 1, pais infelizes não fazem filhos felizes, 2, se o amor não é cultivado murcha mesmo e 3, crianças que crescem convencida de que o mundo existe para as servir tornam-se tiranos (e ninguém quer perder noites de sono para criar tiranos!).