De acordo com um relatório da OCDE, o “Health at a Glance 2019“, Portugal está em 9º lugar no ranking mundial da obesidade e excesso de peso infantil, com uma percentagem de 37,1% de prevalência nas crianças entre 5 e 9 anos, divulgou a Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil.
Quais são as consequências da obesidade infantil?
A psicóloga Joana Louro Vilar explica que as consequências da obesidade infantil podem ser variadas. Refletem-se a nível físico (problemas ortopédicos, colesterol alto, pressão arterial elevada, aumento do risco de diabetes, dificuldades respiratórias durante o sono, entre outros) como a nível psicológico (baixa autoestima, sintomas depressivos, estigmatização, discriminação, etc.).
“No que respeita em particular às consequências psicológicas, alguns estudos têm demonstrado níveis mais baixos de autoestima em crianças e pré-adolescentes obesos comparativamente com os seus pares, com um peso médio. Para além disto, estudos revelam que as questões que surgem a estas crianças e jovens ao nível da autoestima, vão muito além da mera aparência física”, explica.
Durante a adolescência os jovens tendem a comparar-se com os outros de uma forma superficial (através da roupa, da sua beleza e do seu peso).
Além disso, têm a tendência de se apegar muito à forma como as outras pessoas reagem perante eles ou as suas ações. Diversos têm sido os estudos que apresentam uma relação entre as reações negativas dos pares e uma maior probabilidade de vir a sofrer de depressão infantil.
Na verdade, como explica a psicóloga, “o grupo de pares desempenha um papel bastante importante na vida das crianças e jovens. As interações sociais positivas são uma chave para o seu bem-estar psicológico”.
Caso existam experiências negativas no seu grupo, “algumas crianças com obesidade acabam por “internalizar” alguns dos seus problemas, dirigindo a sua raiva, a sua ansiedade, os seus distúrbios alimentares para dentro ou a isolar-se.
Algumas crianças acabam mesmo por ver a comida como uma forma de compensar os seus sentimentos negativos, apresentando em paralelo perturbações do comportamento alimentar [compulsões alimentares]”, explica.
O que podem os pais fazer para prevenir a obesidade infantil?
Em primeiro lugar, falar com o filho e estar a par do que este sente é essencial, não só para a relação e vínculo parental como para a própria confiança do jovem.
Pode ainda ajudar em variados outros setores, como na mudança de comportamentos alimentares e de atividade física.
Mudança de hábitos alimentares:
- Proporcionar uma alimentação variada e moderada aos seus filhos;
- Manter um horário regular para as refeições;
- Incentivar a ingestão de alimentos saciantes de elevada densidade nutricional (especialmente frutas e hortícolas) e de baixo valor calórico;
- Diminuir o consumo de fast-food, refrigerantes e/ou guloseimas;
- Reduzir a exposição dos seus filhos à publicidade televisiva sobre produtos alimentares.
Comportamentos de atividade física:
- Incentivar o aumento do número de horas de atividade física moderada/intensa dos seus filhos (60 a 90 minutos por dia);
- Aumentar as atividades de lazer ativo com a família;
- Reduzir o número de horas de televisão e de videojogos (no máximo 1 hora por dia).
O tratamento da obesidade infantil
Dada a dimensão desta doença e as suas implicações na vida futura de crianças e jovens, os pais devem procurar ajuda profissional tão cedo quanto possível. Pediatras e médicos de família devem dar início à abordagem terapêutica com o apoio de uma equipa multidisciplinar de profissionais, nomeadamente, nutricionista, especialista em exercício e psicólogo.
As intervenções fundamentadas na terapia comportamental, com o envolvimento da família e a integração de um programa alimentar e de atividade física, são as mais estudadas e as que mais têm revelado sucesso no tratamento a longo prazo da obesidade pediátrica.
É certo que o tratamento do excesso de peso pode apresentar diferentes níveis de abordagem terapêutica, conforme a gravidade. No entanto, o objetivo deve ser sempre o da promoção de um estilo de vida saudável através da modificação dos comportamentos alimentares e de atividade física.
Importa deixar claro que a prevenção e o tratamento da obesidade pediátrica são imprescindíveis e inadiáveis, e devem envolver a participação efetiva e integrada de diversos sistemas e agentes, nomeadamente, a família, a escola, os profissionais de saúde, o governo, a indústria, a própria comunidade e a comunicação social.