O bebé copia a mãe durante a amamentação
Fundador do Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa, o psicanalista António Coimbra de Matos há mais de 50 anos que estuda o comportamento das crianças e as relações destas com os pais.
Num dos seus livros, fala até da “cultura” que é transmitida da mãe para o filho durante a amamentação. “Passa muita coisa do estilo da relação”, diz Coimbra de Matos ao SOL.
“Se a mãe é uma pessoa mais aberta, mais risonha, mais bem-disposta, se ri e fala com o bebé, ele vai-se adaptando, respondendo e copiando. Se a mãe é mais introvertida, se não fala, o bebé não tem estímulos”.
O psicanalista nota, no entanto, que o facto de as mães trabalhadoras terem um tempo limitado de licença de maternidade nem sempre é prejudicial. “Nos primeiros seis meses seria bom que a mãe pudesse ter quase a totalidade do tempo para dedicar ao bebé. Mas isto partindo do princípio de que as mães são saudáveis. Quando não são, o bebé beneficia em ir para uma creche, para contactar com outras pessoas que lhe transmitam um modo de ser mais saudável”.
E aponta a vida nas cidades, associada à redução das famílias, como responsável pelo isolamento das crianças. “Nas aldeias – e na cultura de bairro – existe a família alargada e a vizinhança.
A criança convive com os tios, com o vizinho do lado, com bebés, com crianças de outras idades. Já na cidade, fica muito ligada à família nuclear, que é mais pequena. De modo que o bebé fica um bocado isolado. Durante muito tempo só se via as relações verticais, pais-filhos, e nós hoje sabemos que as chamadas relações horizontais, entre crianças da mesma idade e até entre os próprios bebés, são extremamente importantes”.
E recorda um exemplo pessoal: “O meu pai era um homem inteligente mas não tinha jeito manual nenhum. Pregava um prego e dava mais marteladas no dedo do que no prego. E eu tinha um grande jeito manual. Aliás na faculdade de Medicina toda a gente julgava que eu ia para cirurgião. Aprendi isto na aldeia onde vivi até aos nove anos, quando visitava a oficina do senhor Arsénio, que era carpinteiro”.
Professor da Faculdade de Psicologia da Universidade Clássica até 2001 e do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) até 2009, Coimbra de Matos diz não ter saudades do contacto com os alunos. “Continuo a dar aulas aqui e acolá, sou convidado com frequência, para o ISPA, para a Faculdade de Psicologia, para o Porto, para Évora. Aliás deixei o ISPA de moto próprio. Senti que já não tinha o mesmo prazer em dar aulas”.