Pode não ser uma solução milagrosa, mas a chucha acalma birras e tem salvo muitos pais de noites de insónia. Só no último ano (2008) saíram das farmácias e parafarmácias mais de 370 mil chuchas. E se a maioria não consegue passar sem elas, o seu uso entre os pediatras já não é tão consensual.
Grande parte dos médicos só as aconselha quando o bebé já mama bem, e sempre com moderação na hora de dormir. Entre os mais céticos está Mário Cordeiro. A chupeta deve ser usada como “último recurso, em períodos em que o bebé tem necessidade de chuchar e apenas quando vai dormir”, diz o especialista.
O clínico alerta para o risco de funcionar como “rolha” para abafar o barulho do choro. “Se o bebé chora, é porque lhe falta alguma coisa. É errado tentar adiar ou colmatar a resolução do problema através da chupeta. Só servirá para fazer dele uma pessoa frustrada e derrotista”, defende.
Uma boa dose de bom senso da parte dos pais, “sem cederem demasiado a facilitismos”, deve ser o suficiente: “As chupetas deveriam ter em conta o interesse e o bem-estar dos bebés e não as conveniências dos pais”, defende.
E há vantagens no uso da chupeta, garantem os pediatras. Ajuda a criar autonomia relativamente ao sono e no desenvolvimento, além de evitar o chuchar do dedo.
O chefe de Serviço de Pediatria e responsável pela Unidade de Neonatologia do Centro Hospitalar de Cascais, Luís Pinheiro – que tem um site na Internet onde responde às dúvidas dos pais – vai logo advertindo que prefere que o bebé “mame na chupeta do que no dedo” que é um vício difícil de abandonar. Já a chucha só se transforma em vício “quando os pais a deixam usar a torto e a direito”. Defende por isso que a partir dos 18 meses o seu uso deve restringir-se à hora de dormir.
Também alguns estudos têm demonstrado que o uso de chupeta pode reduzir a incidência de síndroma da morte súbita do lactente.
Uma maior ocorrência de otites e o facto de ser um veículo de bactérias são algumas das desvantagens da chucha, dizem os pediatras. Mas a mais importante é sem dúvida a de por interferir com a amamentação nos primeiros tempos de vida.
Os especialistas contactados pelo DN são quase unânimes em defender que a chucha não deve ser usada à nascença. Mas já são menos consensuais quanto à altura ideal para o fazer.
“Os pais devem proibir a chupeta enquanto não está estabelecida uma boa amamentação, pois o bebé que pega bem na chucha pode ter mais dificuldade em o fazer com a mama”, garante a diretora do Serviço de Neonatologia do Hospital de S. João.
O ideal, defende Hercília Guimarães, é utiliza-la a partir do segundo mês de vida. Mas apenas para acalmar “o bebé que é muito exigente, que está sempre a chorar e procura mamar em tudo desde o dedo ao cobertor”. Muito importante é que a criança “nunca seja obrigada a usar chupeta”.
Mário Cordeiro é perentório: “Será boa política evitá-la o mais possível quando o bebé está a ser amamentado”. O problema, explica, é que o recém-nascido “não precisa de abrir tanto a boca para mamar na chupeta e, se utilizar a mesma técnica com o peito da mãe, vai extrair pouco leite, ficar com fome e causar stress na progenitora”.
Rosa Gouveia, da direção da Secção de desenvolvimento da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), refere que “só deve ser oferecida ao recém-nascido depois da amamentação estar bem estabelecida, de modo a não o confundir”, mas sem, contudo, apontar períodos de adaptação. “Não havendo esta aprendizagem, a maior parte dos bebés irá chuchar no dedo”, alerta.
Para o evitar, o melhor é mesmo recorrer à chucha, aconselha. Além de acalmar na altura de dormir, defende Rosa Gouveia, “a sucção é uma atividade reflexa desencadeada pelo contacto de um objeto com os lábios e a cavidade bucal, e é essencial para a alimentação” da criança.
Pelo contrário, a Alta Comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, defende que não existe qualquer incompatibilidade entre o uso da chucha e a amamentação.
Mesmo assim, a pediatra aconselha a usá-la “a partir da segunda semana para a mãe se habituar a acalmar o recém-nascido com a voz e não com a chupeta”. Mas, avisa, “sem exageros”. E com o tempo, só para adormecer.
Dos problemas que podem surgir com a chucha, dependendo do seu formato, é a deformação dentária. Segundo Mário Cordeiro, existem no mercado chupetas “ortodônticas, que são achatadas e interferem menos com a dentição, tendo também a vantagem de simular melhor o mamilo materno”.