A recusa em vacinar crianças, devido a receios infundados de uma suposta relação entre as vacinas e doenças como o autismo, transformou as escolas dos bairros mais abastados de Los Angeles (EUA) em terreno fértil para a tosse convulsa.
De acordo com uma investigação do Hollywood Reporter, a taxa de vacinação dos alunos de várias escolas de Hollywood e Beverly Hills está ao nível dos valores registados no país menos desenvolvido do mundo, o Sudão do Sul.
Há estabelecimentos onde até 88% dos alunos, sobretudo crianças no pré-escolar, não receberam vacinas elementares como as que previnem a difteria, o tétano, a tosse convulsa ou a rubéola.
Esta tendência está fortemente relacionada com campanhas mediáticas protagonizadas por estrelas do cinema e da televisão, nomeadamente a apresentadora Jenny McCarthy, que apontam para a alegada existência de uma relação entre a vacinação e o autismo, a asma ou o eczema, e para o progressivo enfraquecimento do sistema imunitário das crianças vacinadas.
O movimento cresceu sobretudo a partir de 2007, e os seus proponentes citam frequentemente um estudo do médico britânico Andrew Wakefield, publicado no Lancet em 1998, que foi entretanto descredibilizado pelos seus pares.
O discurso tem colhido fortemente entre as classes alta e média-alta da Califórnia, tradicionalmente adeptas de terapias alternativas. Só as comunidades judias ultra-ortodoxas do Brooklyn, os amish do Ohio e os somalis do Minnesota vacinam menos as suas crianças que esta elite mediática.
É precisamente em Los Angeles que se situa o epicentro de um inédito surto de tosse convulsa que já vitimou três bebés. Pelo menos 72 casos foram acompanhados pelo Hospital Pediátrico de Los Angeles. “Tossem com tanta força que vomitam e fracturam costelas, acabando intubados e ventilados”, descreve o especialista de infeciologia da instituição, Jeffrey Bender, citado pelo Hollywood Reporter.
Pelo menos 8.000 casos foram diagnosticados por toda a Califórnia desde o início do ano.
Desde os anos 50 que os EUA não enfrentava um surto de tosse convulsa desta dimensão, graças a décadas de vacinação. O esforço, no entanto, parece estar agora a ser revertido pela recusa dos pais em vacinarem os filhos.
Também o número de casos de rubéola nos EUA se encontra no nível mais alto dos últimos 20 anos.
As autoridades sanitárias de Los Angeles criticam os pais que recusam vacinar os seus filhos, argumentando que não são apenas as suas crianças que ficam em perigo, mas também as dos outros pais.