Disortografia, o que é e como é visível
A Disortografia compreende os erros relativos à escrita. A criança não lê obrigatoriamente mal, mas em determinados casos pode acontecer.
Estes erros afectam a palavra, mas não a sua grafia.
Isto é, a Disortografia não diz respeito a aspectos gráfico-motores como o traçado, a forma ou direcção, mas antes à associação correcta entre sons e letras, regras de ortografia e ainda é necessário ter em conta certos casos pontuais em que a associação entre sons e letras não é tão clara.
Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento da escrita, abaixo enumerados, irão permitir uma escrita correcta, tanto no ditado, como na cópia.
Estes são, a percepção auditiva que irá permitir à criança discriminar os sons dos fonemas e a retenção do estímulo sonoro para a sua análise e transcrição. A correcta percepção visual vai permitir diferenciar os diversos grafemas em função das suas características visuais. A percepção espácio-temporal permite a análise gráfico-visual, a compreensão do ritmo e dos aspectos temporais da cadeia falada para comprovar a adequação grafema—fonema.
Existem vários tipos de erros característicos da Disortografia, que serão enumerados a seguir:
a) Erros linguístico-perceptivos (quer por omissão, adição e inversão de sons)
Omissões
- de fomenas – “como” em vez de “cromo”; “pato” em vez de “patos”
- de sílabas inteiras – “car” em vez de “carta”
- de palavras
Adições
- de fonemas por defeito ou demasia na análise de palavras – “cereto” em vez de “certo” de sílabas inteiras – “castelolo” em vez de “castelo” de palavras
Inversões
- de sons por incapacidade de seguir a sequência dos fonemas
- de grafemas em sílabas inversas “aldo” e não “lado”; “preto” e não “perto”; “bulsa” e não “blusa”
- de sílabas numa palavra de palavras
Estes erros são característicos dos primeiros anos de aprendizagem e podem desaparecer com a correcta utilização das palavras.
b) Erros visuo-espaciais (quer por substituição, confusão ou omissão)
Substituições
- de letras que se diferenciam pela sua posição no espaço – d/p; p/q
- de letras semelhantes visualmente – m/n; o/a; i/j
Confusões
- de palavras com fonemas que admitem dupla grafia- ch/z; s/z
- de palavras com fonemas que admitem duas grafias em função das vogais – g/c
Omissões
- da letra H por não ter correspondência fonética (não se lê)
A escrita em espelho é muito rara na Disortografia.
c) Erros visuo-analíticos
- Dificuldades em fazer a síntese e associação entre fonemas e grafemas.
d) Erros relativos ao conteúdo
- Dificuldades na separação de sequências gráficas pertencentes a dada sequência fónica, respeitando os espaços em branco
- União de palavras – “ocarro” em vez de “o carro”
- Separação de sílabas de uma palavra – “es tá”
- União de sílabas de palavras diferentes – “es tacasa”
e) Erros relacionados com regras de ortografia
- Não colocar “m” antes do p/b
- Infringir regras de pontuação – não colocar o ponto final no final das frases
- Não respeitar as maiúsculas depois do ponto final ou no início do texto
- Não hifenizar nas mudanças de linha
Estes erros são muitas vezes detectados por pais e educadores, que referem a criança a um psicólogo, para que haja uma avaliação aprofundada das suas dificuldades. Esta deve contemplar a avaliação da percepção e memórias, tanto auditivas como visuais, a inteligência geral, o vocabulário e a percepção espácio-temporal.
Como intervenção, consideram-se os planos reeducativos mais eficazes os que descentram o seu foco de atenção da mera correcção dos erros ortográficos e centram-se em aspectos mais amplos, de modo a aliviar a pressão sentida pelas crianças em termos escolares e muitas vezes sociais.
É também importante que estes programas tenham uma vertente lúdica aliada a um sistema de reforço positivo importante para a criança. Deste modo, diminuem-se potenciais abandonos que decorrem do confronto com os seus próprios erros e lacunas, potenciando uma generalização e sistematização dos ganhos terapêuticos.
Este artigo, por desejo expresso da sua autora, não respeita o novo Acordo Ortográfico.