Os rapazes são menos disciplinados, menos motivados e passam menos tempo a fazer trabalhos de casa ou a ler, enquanto as raparigas têm menos autoconfiança. Segundo o relatório divulgado esta quinta-feira pela OCDE, são estas diferenças que explicam as disparidades no desempenho escolar entre os dois sexos, e não as aptidões inatas.
O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre a igualdade de género na educação focou-se nas principais diferenças de desempenho entre rapazes e raparigas: os rapazes são mais propensos ao insucesso escolar, e as raparigas têm maior probabilidade de ter dificuldades em matemática e ciências, mesmo nos casos das melhores alunas.
No caso das raparigas, a principal resposta parece estar num problema de autoconfiança e ansiedade. As raparigas têm menos confiança do que os rapazes na sua capacidade de resolver problemas de matemática ou de ciência.
Mesmo entre os melhores alunos, as raparigas mostram níveis de ansiedade maiores do que os rapazes relativamente à matemática, e têm piores resultados nos exames PISA, as provas e inquéritos organizados pela OCDE nos quais se baseia o relatório. No entanto, quando a comparação nos resultados de matemática é feita apenas entre rapazes e raparigas que declaram ter os mesmos níveis de confiança, a diferença de desempenho entre os géneros desaparece.
“Quando os alunos são mais autoconfiantes, dão a si próprios a liberdade de errarem, de se envolverem nos processos de tentativa e erro que são fundamentais para adquirir conhecimentos na matemática e nas ciências”, diz o relatório, que recomenda que os professores e pais procurem combater a falta de confiança nas raparigas. “Podem fornecer reforço positivo para o trabalho que as raparigas fazem bem, e oferecer-lhes oportunidades de “pensar como cientistas” em situações onde cometer erros não tem consequência nas notas”, sugere a OCDE. Portugal é um dos países onde a percentagem de mulheres licenciadas em áreas científicas mais cresceu.
Já os rapazes têm uma maior probabilidade de não se saírem bem na escola e de desistirem do ensino prematuramente. Nos exames PISA de 2012, 14% dos rapazes não chegavam aos níveis considerados mínimos de proficiência em nenhum dos assuntos principais (leitura, matemática, e ciência) por oposição a 9% das raparigas.
As razões prendem-se, descreve o relatório, com a forma como escolhem passar os tempos livres. Os rapazes passam bastante menos tempo a fazer trabalhos de casa do que as raparigas, e, na maioria, não costumam ler por prazer, o que faz com que as suas capacidades de leitura sejam inferiores às das raparigas.
Uma outra explicação para o pior desempenho dos rapazes é a motivação. O relatório da OCDE descreve que os rapazes têm maior tendência a chamar à escola “um desperdício de tempo” e a não ter interesse em aprender. “Desde pequenos, os rapazes levantam menos a mão para pedir para falar, são piores a esperar pela sua vez para falar ou participar numa atividade”, lê-se no relatório, que se refere à falta de “auto-regulação”, ou disciplina, dos rapazes como um fator diferenciador relativamente às raparigas.
Embora os países da OCDE tenham feito “enormes progressos” na diminuição da desigualdade de género na educação nos últimos 50 anos, o relatório destaca que ainda existem muitas disparidades que não se devem a diferenças inatas nas aptidões. Sabe-se isto porque no caso de territórios como Hong Kong ou Singapura, onde se registam os melhores resultados nos exames PISA, não existem diferenças significativas entre rapazes e raparigas em nenhuma das áreas.